Um dia após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar que o Teerã concordou em abrir conversas sobre o programa nuclear, o ministro das Relações Exteriores Irã, Abbas Araqchi, disse nesta terça-feira que um acordo nuclear com Washington é possível se houver demonstração de boa vontade por parte dos americanos em negociações previstas para o sábado em Omã. O republicano pressionou o regime iraniano sobre o tema, que inicialmente rechaçou qualquer ingerência americana sobre o seu desenvolvimento.
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— Se a outra parte tiver a vontade necessária e suficiente, será possível chegar a um acordo. Afinal, a bola está com os Estados Unidos — disse Araqhchi, citado pela agência oficial IRNA, acrescentando que o “principal objetivo” de Teerã na mesa de negociações será a suspensão das sanções impostas ao país.
O programa nuclear iraniano voltou ao centro do tabuleiro geopolítico após Trump enviar uma carta a autoridades do país, exigindo que Teerã abrisse conversas sobre o tema — uma vez que a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias atômicas seguem sem seguir fiscalizações e padrões internacionais desde que o próprio presidente americano, em seu primeiro mandato, retirou os EUA do acordo então vigente, assinado em 2015. Como represália, o Irã acelerou seu programa.
Ao comentar sobre o contato por escrito com as autoridades iranianas, Trump mencionou a chance de uso de força militar, sugerindo que esta seria a via alternativa em caso de não abertura de negociação. Ele também afirmou que se diplomacia fracasse, poderia impor novas sanções ao setor de petróleo do país.
Autoridades iranianas responderam à carta de Trump anteriormente. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que os EUA sofreriam consequências severas caso atacassem militarmente o país, enquanto Araqchi disse que não haveria negociação com uma parte que usa força e ameaça. Ainda assim, a posição de Teerã foi apresentada a autoridades americanas no fim do mês passado.
Ontem, após uma reunião com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, Trump surpreendeu a todos ao anunciar que EUA e Irã iniciariam conversas diretas sobre o programa nuclear. Teerã disse mais tarde que as negociações seriam “indiretas”.
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Embora tenha dito que tinha esperanças de chegar a um acordo com Teerã, Trump voltou a usar de uma linguagem bélica, advertindo que a República Islâmica enfrentaria um “grande perigo” em caso de fracasso das negociações.
— Temos uma reunião muito importante no sábado e trataremos com eles diretamente — afirmou Trump, em referência aos iranianos. — Talvez se chegue a um acordo, isso seria fantástico. Nos reuniremos no sábado em um encontro muito importante, quase ao mais alto escalão.
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O chanceler iraniano confirmou negociações no sábado em Omã, mas destacou que eram “indiretas”. A agência local de notícias Tasnim anunciou nesta terça-feira que o próprio Araqchi comparecerá ao encontro, assim como o enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Witkoff.
Os EUA afirmam que o objetivo da tratativa atual é alcançar um acordo que não permita ao Irã ter armas nucleares — uma pauta que o governo israelense, sobretudo, está interessado. Ali Larijani, conselheiro de Khamenei, afirmou na segunda-feira que o país não busca ter armas atômicas, mas que “não terá outra opção” se for atacado pelos americanos. Teerã pretende consultar seus parceiros mais próximos, Rússia e China, sobre o tema. (Com AFP)