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Li disse a um grupo de líderes empresariais globais e ao senador republicano Steve Daines, na abertura do Fórum de Desenvolvimento da China, em Pequim, neste domingo, que os países devem abrir seus mercados diante do crescente cenário de fragmentação econômica.

— A instabilidade e a incerteza estão em alta. Neste momento, acho ainda mais importante que cada um de nossos países abra mais seus mercados e que todas as nossas empresas compartilhem mais seus recursos — afirmou o primeiro-ministro chinês.

Executivos de alto escalão, incluindo Tim Cook, da Apple; Cristiano Amon, da Qualcomm; Albert Bourla, da Pfizer ; e Amin Nasser, da Saudi Aramco, participam da conferência de dois dias. A Bloomberg News informou anteriormente que há planos para que grandes empresários se encontrem com o presidente chinês Xi Jinping na próxima sexta-feira, dia 28, segundo fontes familiarizadas com o assunto.

Daines, que representa o estado de Montana e integra o Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, reuniu-se com o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, no sábado, em um raro encontro público entre autoridades dos EUA e da China desde o retorno de Trump à Casa Branca.

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O senador também se encontrou com o primeiro-ministro Li na tarde de domingo, no Grande Salão do Povo, acompanhado por executivos seniores de sete empresas americanas – FedEx, Boeing, Cargill, Medtronic, Pfizer, Qualcomm e UL Solutions. Autoridades chinesas, incluindo representantes dos ministérios das Relações Exteriores e do Comércio, também estiveram presentes.

O senador por Montana, que viveu vários anos na China e em Hong Kong, tinha como prioridades discutir dois temas de tensão entre Pequim e Washington: as relações econômicas e o tráfico de fentanil, uma droga que tem causado uma crise nos EUA e cujos precursores químicos são produzidos na China.

— A história nos mostra que China e Estados Unidos têm a ganhar com a cooperação e a perder com o confronto — disse Li ao grupo.— Esperamos que os Estados Unidos trabalhem em conjunto com a China para promover um desenvolvimento estável, saudável e sustentável das relações sino-americanas.

— As duas partes devem escolher o diálogo em vez da confrontação, a cooperação ganha-ganha em vez da competição de soma zero.

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Stephen Orlins, presidente do Comitê Nacional de Relações EUA-China, disse, por sua vez, que é necessário um encontro entre o presidente Trump e o presidente Xi para que ambos os governos ”instruam suas burocracias a adotar políticas construtivas”:

— Se não houver reunião, a inércia favorecerá o aumento das tarifas, das restrições às exportações e dos limites ao investimento – todas essas questões que tornarão as relações EUA-China mais difíceis.

O primeiro-ministro da China, Li Qiang, discursa um grupo de líderes empresariais globais e ao senador republicano Steve Daines, na abertura do Fórum de Desenvolvimento da China, em Pequim — Foto: Adek Berry/Pool/AFP

Na abertura do Fórum de Desenvolvimento da China, o primeiro-ministro chinês também reafirmou o compromisso do banco central de cortar as taxas de juros e o índice de reservas bancárias quando for “oportuno”, prometendo mais apoio sempre que necessário para garantir o bom funcionamento da economia.

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O número dois do gigante asiático afirmou ainda que seu país continuará comprometido com “a direção correta da globalização econômica” diante da crescente “fragmentação” da economia mundial, à medida que uma nova guerra comercial com Washington se intensifica.

— Como um grande país responsável, a China se manterá firme no lado correto da história (…)” e agirá de forma justa, declarou o primeiro-ministro Li.

Ele acrescentou que seu país “praticará um verdadeiro multilateralismo e se esforçará para ser uma força de estabilidade e certeza”.

O discurso de Li ocorre em um momento em que a China tenta atrair investimentos estrangeiros após a queda dos aportes no país no ano passado, atingindo o nível mais baixo em mais de três décadas.

— Estamos começando a ver um novo engajamento de investidores internacionais na China— disse Bill Winters, CEO do Standard Chartered, à margem do fórum. — A única área que está desacelerando um pouco é o crédito ao consumidor, porque sabemos que a economia está um pouco fraca, então esse setor não tem crescido tão rapidamente.

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O crescimento fraco e as crescentes tensões comerciais têm prejudicado o apelo de investir na segunda maior economia do mundo. Nos próximos dias, os EUA devem concluir uma revisão do cumprimento, por parte de Pequim, do acordo comercial de Fase 1 firmado no primeiro mandato de Trump e impor tarifas recíprocas de grande impacto global.

As autoridades chinesas tentam aproveitar o impulso do setor privado, impulsionado pela startup de inteligência artificial DeepSeek, e apresentar Pequim como um pilar da estabilidade global. Recentemente, a China lançou um plano de incentivo ao consumo para proteger sua economia contra riscos externos.

O governo chinês estabeleceu uma meta ambiciosa de crescimento econômico de cerca de 5% para 2025 e elevou a meta do déficit fiscal ao maior nível em mais de três décadas. No entanto, se a guerra comercial com os EUA se intensificar, economistas dizem que a China precisará implementar um estímulo substancial para atingir sua meta de crescimento neste ano.

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Como um prenúncio do que pode ser uma grande perturbação no comércio global, as compras chinesas de algodão, carros com motores de grande porte e alguns produtos energéticos dos EUA despencaram nos dois primeiros meses do ano. Todos esses bens foram alvo de tarifas retaliatórias chinesas em resposta às medidas comerciais de Trump.

O Fórum de Desenvolvimento da China começou em 2000, com o apoio do então primeiro-ministro Zhu Rongji, servindo como uma plataforma de diálogo de alto nível entre a China e o mundo.

Na maioria dos anos, o discurso principal era proferido por um vice-primeiro-ministro, enquanto o primeiro-ministro realizava uma reunião a portas fechadas com executivos. Em uma quebra de tradição, Li discursou no fórum no ano passado, enquanto Xi se encontrou com diversos líderes empresariais americanos após o evento, em um esforço de Pequim para combater a narrativa negativa sobre sua economia.

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