A China fez um apelo nesta quarta-feira para que os Estados Unidos “parem de ameaçar e chantagear”, depois que a Casa Branca transferiu a Pequim a responsabilidade de iniciar uma negociação para desacelerar a guerra comercial entre as duas grandes economias mundiais.

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– Se os Estados Unidos realmente querem resolver o assunto por meio do diálogo e da negociação, devem parar de exercer pressão extrema, parar de ameaçar e chantagear, e conversar com a China com base na igualdade, respeito e benefício mútuo – disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian.

Ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que “a bola está com a China” e que o país precisa fazer um acordo com Washington porque precisa do dinheiro americano.

Na guerra tarifária, os EUA estão aplicando 145% de tarifas sobre produtos chineses, e a China passou a tributar itens americanos em 125%, em retaliação.

Uma pessoa familiarizada com o pensamento do governo chinês ouvida pela Bloomberg também insistiu que Pequim quer ser tratada com respeito antes de iniciar negociações para amenizar a guerra comercial.

Outras condições incluem uma posição mais consistente dos Estados Unidos e disposição para abordar as preocupações da China em relação às sanções americanas e a Taiwan, disse a fonte, que pediu anonimato.

As declarações do porta-voz chinês e a reportagem da Bloomberg levaram otimismo ao mercado. Os preços do petróleo subiram 1% nesta quarta-feira. Os contratos futuros do petróleo tipo Brent, referência no mercado internacional, subiram 64 centavos de dólar, chegando a US$ 65,31 por barril, enquanto o petróleo bruto West Texas Intermediate dos EUA avançou para US$ 61,95.

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O governo chinês também quer que os EUA nomeiem um responsável pelas negociações que tenha o apoio do presidente e possa ajudar a preparar um acordo que Trump e o líder chinês Xi Jinping possam assinar quando se encontrarem, segundo a mesma fonte da Bloomberg.

O destino da economia global e dos mercados financeiros depende, em grande parte, de os EUA e a China conseguirem evitar uma guerra comercial prolongada.

Tarifas ‘olho por olho’ na guerra comercial entre EUA e China — Foto: Edição de arte

Segundo a pessoa familiarizada com o pensamento de Pequim, a condição mais importante para qualquer negociação é que os funcionários chineses precisam ter certeza de que esse engajamento será conduzido com respeito.

Embora a fonte não tenha identificado comentários específicos de membros do governo, Pequim expressou recentemente um descontentamento notável com declarações do vice-presidente JD Vance sobre “camponeses chineses”.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China classificou os comentários na semana passada como “ignorantes e desrespeitosos”, em uma rara repreensão direta a um alto dirigente dos EUA.

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Além de querer uma mensagem consistente da administração americana, os funcionários em Pequim também querem saber se Washington está disposto a abordar algumas das preocupações da China, disse a fonte. A principal delas é a percepção predominante entre autoridades chinesas de que os EUA implementaram políticas voltadas a conter e suprimir a modernização da China.

Nos últimos anos, os EUA endureceram os controles de exportação para a China numa tentativa de impedir que Pequim tenha acesso a chips de ponta e outras tecnologias avançadas. Na segunda-feira, o governo Trump proibiu a Nvidia de vender seu chip H20 na China, intensificando a disputa tecnológica com Pequim.

Responsável pelas negociações

A China também quer que os EUA abordem suas preocupações de segurança nacional, especialmente em relação a Taiwan, disse a fonte. Pequim considera a ilha autogovernada parte de seu território e prometeu tomar medidas — inclusive militares, se necessário — para proteger essa reivindicação. A fonte afirmou que a China não tomará ações provocativas em relação a Taiwan, mas responderá caso seja provocada.

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Por fim, Pequim também quer que os EUA designem um responsável para conduzir as negociações, segundo a fonte. A China não tem preferência sobre quem será essa pessoa, mas deseja que ela fale e aja com a autoridade direta de Trump.

Os funcionários chineses também entendem que Trump pode querer liderar pessoalmente as negociações. Mas entendem que o melhor caminho é que os presidentes designem representantes oficiais para supervisionar as tratativas.

Hong Kong entra na guerra comercial

Apesar da sinalização para um diálogo entre as duas potências, Hong Kong anunciou nesta quarta-feira que seu serviço postal deixará de enviar pacotes para os Estados Unidos. A ilha é uma região administrativa especial da China.

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Neste mês, Trump ordenou o fim de uma brecha que permitia que varejistas enviassem aos EUA roupas e produtos chineses e de Hong Kong sem pagamento de tarifas. Após a entrada em vigor dessa mudança, prevista para 2 de maio, os agentes de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA passarão a cobrar taxas que antes estavam isentas em remessas com valor inferior a US$ 800.

O Hongkong Post, serviço postal de da ilha, anunciou que deixará de aceitar pacotes por via aérea a partir do dia 27 deste mês. A medida, segundo o órgão, responde às tarifas impostas por Trump à China, que agora chegam a 145%.

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Hong Kong, uma ex-colônia britânica que recebeu promessa de certo grau de autonomia após ser entregue à China, permanece um território aduaneiro separado e um porto livre, onde produtos estão isentos de tarifas.

Com as tarifas impostas pelo governo Trump contra a China, Hong Kong corre o risco de ser arrastada de vez para o lado chinês.

“Os EUA estão sendo irracionais, praticando bullying e impondo tarifas de forma abusiva”, declarou o serviço postal em um comunicado publicado no site do governo de Hong Kong.

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