Das maiores e mais graciosas vozes da música popular brasileira, Gal Costa (1945-2022) teria completado 80 anos nesta sexta-feira. Uma chuva de lançamentos e reedições, no streaming e no vinil, não deixa a data passar em branco. O mais importante aconteceu ainda na véspera: a gravadora Biscoito Fino pôs nas plataformas um single triplo com gravações extraídas da última apresentação da cantora, no Coala Festival, em São Paulo.
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Do show de 17 de setembro de 2022, o single traz Gal cantando “Como 2 e 2” (Caetano Veloso) ao lado de Rubel, “Vapor barato” (Jards Macalé / Waly Salomão) com Tim Bernardes e, apenas com a banda, “Brasil” (George Israel/Nilo Romero/Cazuza), no que vem a ser a primeira gravação ao vivo da cantora para esta canção, cuja versão de estúdio de 1988, com sua voz, foi incluída com grande sucesso na abertura da novela “Vale Tudo”.
A chegada simultânea das faixas às plataformas antecede o lançamento do aguardado álbum “As várias pontas de uma estrela (ao vivo no Coala)”, no dia 17 de outubro. O disco terá ainda canções de Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso, Dorival Caymmi e Tom Jobim, alguns lados B da discografia de Gal Costa e “A História de Lily Braun” (Edu Lobo e Chico Buarque), já lançada em single. Junto com o álbum digital, sairá o audiovisual completo do show.
— Trata-se de um registro raro e valioso: o último show da Gal Costa — comenta André Wainer, um dos coordenadores da edição do show. — Só existia um arquivo extraído da transmissão ao vivo, bastante deteriorado pela compressão. A essência estava lá, mas era fundamental recuperar a força visual das imagens. Com recursos de inteligência artificial, trabalhamos a imagem, eliminamos as marcas da compressão e recuperamos a densidade necessária para uma boa correção de cor e finalização. É uma satisfação poder contribuir para devolver o material à altura da importância que ele tem.
A Sony, que detém os arquivos da BMG (onde Gal lançou discos de grande sucesso nos anos 1980 e 90), põe no streaming na sexta três álbuns que andavam fora de circulação: “Bem bom” (1985), “Lua de mel como o diabo gosta” (1987) e “Gal” (1992).
O LP de 1985 foi um dos maiores sucessos de vendagem da carreira da cantora, graças a “Sorte” (de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, gravada em dueto com Caetano Veloso) e “Um dia de domingo” (de Michael Sullivan e Paulo Massadas, cantada com Tim Maia). O disco ainda tem composições de Arrigo Barnabé (que assina a faixa-título com Eduardo Gudin e Carlos Rennó), da dupla Marina Lima e Antonio Cicero (“Acende o Crepúsculo”), Djavan (“Romance”), Gonzaguinha (“Muito por demais”) e Roberto Carlos e Erasmo Carlos (“Musa de qualquer estação”, feita especialmente para Gal).
“Lua de mel como o diabo gosta” traz faixas como “Me faz bem” (de Milton Nascimento e Fernando Brant, que entrou na trilha sonora da novela “Fera radical”), “Viver e reviver” (versão de Fausto Nilo para “Here, there and everywhere”, dos Beatles), três de Lulu Santos (a faixa-título, “Creio” e “Arara”, que ele compôs originalmente para Xuxa), “O Vento” (Djavan e Ronaldo Bastos), “Tenda” (Caetano) e “Todos os instrumentos” (Joyce Moreno).
Já “Gal” é um dos álbuns mais ousados da cantora, nascido do show do disco anterior, “Plural”. Ele tem o grupo de percussão Raízes do Pelô em “Revolta Olodum”; os Filhos de Gandhi em “É d’Oxum”, de Gerônimo; e o violonista Marco Pereira em “Cordas de Aço” (Cartola), “Feitio de Oração” (Vadico e Noel Rosa), “Coisas Nossas” (Noel Rosa) e “Rumba de Jacarepaguá” (Haroldo Barbosa). Há ainda nele um clássico de Cole Porter, “The Laziest gal in town” (traduzido livremente como “A garota mais preguiçosa da cidade”) e “Tropicália”, de Caetano.
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Na sexta, acontece ainda o começo da pré-venda da edição deluxe comemorativa dos 10 anos de “Estratosférica” (2015), a ser feita numa parceria da Sony (que editou originalmente o álbum) com o Noize Record Club. Além das canções já presentes na primeira edição em LP, a nova prensagem – desta vez, em vinil duplo – inclui mais três faixas que ficaram de fora do disco original: “Vou buscar você pra mim”, de Guilherme Arantes, “Muita sorte”, de Lincoln Olivetti e Rogê, e “Átimo de som”, de Zé Miguel Wisnik e Arnaldo Antunes.
Idealizado por Marcus Preto e produzido por Kassin e Moreno Veloso, “Estratosférica” promoveu o encontro de Gal Costa com diferentes gerações de compositores, trazendo, por exemplo, as primeiras parcerias entre Milton Nascimento e Criolo (“Dez anjos”) e Caetano e o filho Zeca Veloso (“Você me deu”). Há também canções escritas especialmente para Gal por nomes como Marisa Monte, Marcelo Camelo, Tom Zé, Céu, João Donato e Mallu Magalhães – autora do grande hit do álbum, “Quando você olha pra ela”.
Ainda pela Sony, em 17 de outubro saem no streaming a versão remixada de “Brasil” (tema de abertura do remake da novela “Vale tudo”), o primeiro compacto de Gal, lançado em 1965 ainda como Maria da Graça (com “Eu vim da Bahia”, de Gilberto Gil; e “Sim, foi você”, de Caetano), “70 neles” (de 1986, feita para a Copa do Mundo daquele ano) e a rara gravação de “Jovens tardes de domingo” (Roberto e Erasmo), com arranjo de Eumir Deodato, registrada em 1997 e disponível apenas na trilha da novela “Zazá”.
A Universal Music, por sua vez, libera sexta nas plataformas a compilação digital “Gal 80”, com 15 sucessos da cantora, e promete para os próximos meses as reedições em vinil dos álbuns “Legal” (1970), “Fa-Tal — Gal a todo vapor” (ao vivo, 1971), “Gal Tropical” (1979) e “Fantasia” (1981).