Depois de duas temporadas no atual Teatro Prio, no Jockey Club, na Zona Sul, a peça “Virgina”, de Cláudia Abreu, retorna ao Rio em temporada popular no Teatro Nelson Rodrigues, da Caixa Cultural, no Centro. Desta quinta (8) até domingo (11), a atriz leva seu primeiro monólogo — e estreia como dramaturga — para um novo público, no encerramento de um circuito pelos equipamentos da Caixa que já passou por Brasília, Fortaleza, Recife e Curitiba. Em cena, um diálogo intenso com a vida e a obra da escritora britânica Virgina Woolf (1882-1941), partindo do momento em que a autora tira a própria vida, aos 59 anos.
Em cartaz desde 2022, a peça já foi vista por mais de 45 mil pessoas, sempre com sessões lotadas, conta a atriz, o que, em certa medida a surpreendeu.
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— Era uma incógnita saber se falar sobre a Virginia Woolf, que não é uma escritora tão popular no Brasil, interessaria ao público. Mas acho que, através da humanidade dela e dos assuntos que são inerentes à sua vida, como saúde mental, condição feminina, síndrome de impostora e assédio, que são super atuais até hoje, a peça se comunica muito bem com as pessoas — opina.
Partindo de sua relação íntima com a produção da escritora britânica, que começou ainda em 1989, numa montagem do livro “Orlando” dirigida por Bia Lessa, Cláudia Abreu dedicou cerca de cinco anos à escrita do texto, no qual se apropria de uma das marcas da escritora, o fluxo de consciência, para rememorar sua vida e obra.
Estar sozinha em cena nunca foi algo que a atriz buscasse. Na verdade, ela conta que tinha até uma “certa resistência” aos monólogos, mas que a escolha foi necessária para retratar de maneira fiel a multiplicidade de vozes na mente da autora.
— Não faria sentido, no momento da morte, ter outras pessoas ali externalizando vozes que estão dentro dela. É a mãe, o pai, o marido, a amante, todo mundo através das vozes que estão dentro da cabeça dela. Por isso, quis fazer essa analogia com a própria literatura da Virgina na estrutura dramatúrgica da peça, trocar os personagens sem aviso. E aí posso fazer isso no meu fluxo. Eu troco de expressão corporal, mudo ligeiramente a voz, sempre de uma maneira sutil.
Além de ajudar a contar a história, que traz seu recorte muito pessoal da escritora, a solitude de um monólogo também levou Cláudia Abreu a explorar novas possibilidades criativas.
— Tenho uma equipe, mas estou quase sempre sozinha. Viajando, no camarim, no hotel, na coxia com o burburinho da plateia, e depois, finalmente, em cena. Tudo isso leva para um aprofundamento muito grande com o que estou fazendo. E com isso você vai se colocando sempre desafios novos, porque só depende de você. Não fazia sentido fazer sempre igual de maneira mecânica, então é um jogo que eu tenho comigo mesma, de cada vez mais buscar novos caminhos internos para fazer essa peça. — conta, explicando que cada apresentação é única e cheia de descobertas. — Tem sido muito rico, como atriz, ter essa vivência solitária, foi uma coisa que me transformou bastante — finaliza.
A experiência como dramaturga também contribuiu para que, aos 54 anos, a atriz despertasse para novas formas de atuação profissional. No ar na novela “Dona de mim”, da TV Globo, e prestes a estrear “Os mambembes” no Teatro Casa Grande junto de nomes como Paulo Betti, Júlia Lemmertz e Deborah Evelyn, Cláudia já tem planos para novas produções autorais nos palcos.
— Para chamar o público ir para o teatro hoje, com todas as facilidades que as pessoas têm em casa, você tem que ter alguma coisa que realmente queira falar, para se conectar com quem quer te ouvir. E quando você escreve, tem o desejo de falar sobre um assunto, pesquisa sobre ele, busca em você o que exatamente quer falar sobre isso, fica muito pessoal. Poder ser criadora em outros lugares me abriu esse horizonte maravilhoso — diz a atriz, que conta já ter um texto em estágios iniciais em andamento.
Antes da curta temporada de “Virginia” que está prestes a estrear no Teatro Nelson Rodrigues, a atriz já apresentou a peça outras duas vezes no Rio, com casa cheia. Mas um retorno à capital fluminense, na área central da cidade, não podia estar fora dos planos, segundo a atriz.
— O Centro é um lugar que eu sempre gosto de trabalhar. Você pega tanto o público que está saindo do trabalho, como aquele que não costuma ir ao teatro da Zona Sul, não só pelo valor, mas pela mobilidade — conta, animada para a estreia.
- O que: ‘Virginia’, com Cláudia Abreu.
- Onde: Teatro Nelson Rodrigues. Avenida República do Paraguai 230, Centro.
- Quando: 8 a 11 de maio.
- Que horas: qui e sex, às 19h; sáb e dom, às 17h.
- Quanto: R$ 30,00 (balcão) e R$ 40,00 (plateia).
- Classificação indicativa: 12 anos.