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Com pressão sobre aliados e discurso de ‘grande pacificador’, Trump tratou premiação como disputa eleitoral

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outubro 10, 2025
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Presidente dos EUA, Barack Obama, ao receber o Nobel da Paz de 2009 — Foto: Jewel SAMAD/AFP

“Sem aviso prévio, enquanto o ministro das Finanças [da Noruega] Jens Stoltenberg caminhava pela rua em Oslo, Donald Trump ligou. Ele queria o prêmio Nobel — e discutir tarifas”, escreveu, em um misto de incredulidade e galhofa, o jornal norueguês Dagens Næringsliv em agosto, ao revelar a inusitada conversa. O episódio foi um exemplo perfeito da campanha que Trump tem feito ao longo dos últimos anos para receber o Nobel da Paz, que será anunciado nesta sexta-feira, que incluiu o apoio de (e a pressão sobre) aliados, contagens controversas e a ausência de modéstia. Um dos que engrossou o coro pela escolha do americano foi o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que disse na quinta-feira que o aliado deveria ganhar a honraria, horas depois de Trump anunciar um acordo de trégua entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.

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Ainda em seu primeiro mandato, quando negociava um acordo nuclear com a Coreia do Norte, em 2018, Trump disse a jornalistas que “muitas pessoas achavam que ele merecia” o Nobel. A iniciativa com os norte coreanos fracassou, mas a ideia do prêmio foi repetida à exaustão em encontros com líderes estrangeiros, falas na Casa Branca e palanques eleitorais — além do diálogo com Pyongyang, os Acordos de Abraão, que normalizaram as relações de alguns países árabes com Israel, foram usados como argumento para convencer o Comitê Norueguês do Nobel.

De maneira frequente, ele citava o exemplo de Barack Obama, que recebeu a honraria apenas nove meses depois de assumir o cargo, em 2009, mesmo sem grandes feitos à paz mundial.

— Estar no centro da vida pública é a glória maior de Donald Trump, e o Prêmio Nobel da Paz seria algo legal para pendurar na parede — afirmou, em março, o ex-conselheiro de segurança nacional de Trump no primeiro mandato, John Bolton, ao New York Times. — Ele viu que Obama ganhou o Prêmio Nobel da Paz e sentiu que, se Obama ganhou por não ter feito nada, por que não ganharia?

Presidente dos EUA, Barack Obama, ao receber o Nobel da Paz de 2009 — Foto: Jewel SAMAD/AFP

Trump seguiu falando sobre o Nobel em suas campanhas à Casa Branca de 2020, quando foi derrotado por Joe Biden, e de 2024, quando venceu Kamala Harris e adotou o discurso de “grande pacificador”, hoje seu principal argumento.

— Eu impedi que guerras acontecessem, se fosse outra pessoa eles teriam dado cinco prêmios Nobel, eu não consegui sequer uma menção, e é assim mesmo, uma vez que sou um tipo diferente de pessoa, e as notícias falsas me mostram de uma forma bem diferente da realidade — disse a apoiadores em setembro do ano passado.

Ele repetiu o lamento em fevereiro, já de volta à Casa Branca, ao lado do premier israelense, Benjamin Netanyahu.

— Eles nunca me darão um Prêmio Nobel da Paz — disse. — É uma pena. Eu mereço, mas eles nunca me darão.

E na semana passada, diante de centenas de oficiais das Forças Armadas, disse que seria um “insulto” se não recebesse a honraria, o que fez com que muitos no governo da Noruega temessem algum tipo de retaliação ao país caso o nome do presidente americano não seja anunciado.

— Você receberá o Prêmio Nobel? — perguntou Trump a si mesmo, e então respondeu: — De jeito nenhum. Eles o darão a um sujeito que não fez absolutamente nada. Mas não receber o prêmio seria um grande insulto ao nosso país.

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Mas mais do que palavras, a nova etapa da corrida de Trump pelo Nobel incluiu números, em uma contagem que deixa margem a questionamentos.

Em setembro, durante seu longo discurso na Assembleia Geral da ONU, afirmou ter encerrado sete guerras, desde um conflito localizado entre Camboja e Tailândia, passando pela disputa entre Sérvia e Kosovo, até a guerra de 12 dias entre Irã e Israel, encerrada após um bombardeio americano contra instalações nucleares iranianas.

Analistas discordam do protagonismo presidencial na resolução de disputas, e apontam que algumas das alegadas vitórias diplomáticas, como entre Ruanda e República Democrática do Congo, não passam de etapas iniciais de diálogo. Em outras, como entre Índia e Paquistão, que por pouco não iniciaram uma guerra de grande porte, Nova Délhi questionou a narrativa americana.

— Há um tom de absurdo nas alegações de Trump, mas, como acontece com muitas delas, dentro desse absurdo, às vezes há grãos de verdade — afirmou à rede britânica Sky News Samir Puri, do centro de estudos Chatham House, afirmando que as intervenções do presidente americano soam mais como uma “gestão de conflitos”. — [Há] uma enorme diferença entre fazer com que os conflitos acabassem no curto prazo e resolver as causas profundas do conflito.

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Há duas grandes lacunas no discurso de “grande pacificador”: Trump não conseguiu um acordo para encerrar a guerra na Ucrânia — na campanha, prometeu encerrar o conflito em 24 horas — e embora tenha obtido um importante acerto para pausar os combates em Gaza e garantir o retorno dos reféns capturados há dois anos para Israel, a implementação de um plano de paz apresentado pela Casa Branca está apenas em sua etapa inicial, com conversas ainda mais difíceis pela frente.

— Para Trump, precisamos ver quais conquistas permanecerão e que tipo de paz restará daqui a alguns anos — disse em entrevista à rádio australiana ABC Kristin Sandvik, do Instituto de Pesquisa da Paz de Oslo. — Ele certamente não foi desconsiderado e fez um esforço muito sério para falar sobre paz, mas é preciso fazer mais do que apenas tentar.

O tom agressivo, combinado a ideias como o negacionismo climático e científico e sua campanha de perseguição a imigrantes, foram citados como pontos negativos em sua candidatura.

— Não creio que concederiam o prêmio mais prestigioso do mundo a alguém que não acredita nas mudanças climáticas — disse o historiador Theo Zenou à rádio pública americana PBS (que sofreu um duro corte de verbas por parte da Casa Branca). — Quando olhamos para os vencedores anteriores que construíram pontes, personificaram a cooperação e a reconciliação internacionais: essas não são palavras que associamos a Donald Trump.

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Mesmo com controvérsias, não foi por falta de apoio que Trump se apresentou como um nome forte ao prêmio. Ele foi formalmente indicado por Netanyahu, pelo governo do Paquistão, pelo premier do Camboja, Hun Manet, e por organizações como o Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, de Israel, além de parlamentares dos EUA e por outros governos. O Comitê não discute publicamente a lista dos indicados, e a Noruega, apesar da pressão de Trump sobre seu ministro, não anunciou um endosso.

Pelas regras, os candidatos precisam do endosso de “indivíduos qualificados”, uma lista que inclui políticos, membros de governos, professores universitários, membros e ex-membros do Comitê do Nobel e pessoas e organizações que já receberam o prêmio, dentre outros. Até hoje, quatro presidentes dos EUA foram premiados: Theodore Roosevelt, Woodrow Wilson, Jimmy Carter e Obama, o único ainda vivo.

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Para que alguém seja considerado para o Nobel daquele ano, o nome precisa ser apresentado até a meia-noite do dia 31 de janeiro — no caso de Trump, ao menos uma indicação foi feita antes do prazo, pela deputada republicana Claudia Tenney, que o nomeou, assim como Netanyahu, em dezembro do ano passado. A escolha final é feita pelos cinco membros do Comitê, escolhidos pelo Parlamento norueguês.

Em entrevista recente à agência Reuters, o vice-presidente do Comitê, Asle Toje, sugeriu que a campanha de Trump poderia prejudicar seu pleito: sem citar o presidente americano, ele afirmou que “esse tipo de campanha de influência tem um efeito mais negativo do que positivo”, e que “alguns candidatos insistem muito nisso e não gostamos disso”.

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