Emily Moen, gerente de uma cafeteria em Omaha, estava navegando pelo TikTok no início desta semana quando se deparou com um vídeo informando que as tarifas do presidente Trump poderiam levar ao aumento de preços de produtos essenciais para bebês.
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Emily, que está grávida de 15 semanas, disse que não planejava comprar uma cadeirinha de carro tão cedo. Mas, depois de assistir ao vídeo, pesquisou sobre o modelo da Graco que já estava de olho e descobriu que era fabricado na China. Preocupada que o assento de US$ 200 pudesse ficar ainda mais caro, comprou o item na Amazon no mesmo dia.
— Foi como um despertar para resolver isso agora — disse ela, que está com 29 anos.
À medida que a guerra comercial do governo Trump com a China se intensifica, muitos consumidores têm corrido para comprar produtos fabricados no exterior com medo de que as empresas comecem a subir os preços. Alguns têm se apressado para adquirir itens caros como iPhones e geladeiras. Outros têm feito pedidos apressados de produtos baratos em plataformas de comércio eletrônico chinesas.
Na semana passada, a Casa Branca impôs uma tarifa mínima de 145% sobre todas as importações chinesas para os Estados Unidos, somando-se a outras taxas já anunciadas anteriormente, incluindo uma tarifa de 25% sobre aço, alumínio, carros e peças automotivas.
E, na semana passada, Donald Trump ordenou o fim de uma brecha que permitia a entrada de produtos chineses com valor inferior a US$ 800 nos Estados Unidos sem incidência de tarifas.
Alguns dados iniciais mostram que os consumidores correram para as lojas e estocaram produtos após o governo anunciar tarifas abrangentes sobre praticamente todos os parceiros comerciais. Mas . Trump recuou em algumas dessas ameaças e instituiu uma pausa de 90 dias na aplicação de tarifas mais severas. No entanto, ele afirmou que essa pausa não se aplicaria à China e, em vez disso, aumentou novamente as tarifas sobre todos os produtos chineses.
A China é a segunda maior fonte de importações dos EUA e fabrica a maior parte dos celulares, computadores e brinquedos do mundo. Na noite de sexta-feira, o governo Trump divulgou um memorando que parecia isentar smartphones, computadores e outros eletrônicos da maioria das tarifas pesadas sobre produtos chineses.
Segundo a Earnest Analytics, uma empresa que analisa dados de milhões de transações com cartões de débito e crédito, os gastos dos consumidores com a Apple aumentaram 20% entre os dias 2 e 7 de abril em comparação com a média dos meses anteriores. Os gastos também cresceram 10% na Home Depot e 18% na rede de lojas de departamento Belk, de acordo com a análise.
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Nos últimos dias, os consumidores também correram para supermercados, grandes redes de descontos e concessionárias de carros. As compras de produtos não perecíveis dispararam nos cinco dias após o anúncio das tarifas em 2 de abril: as vendas de vegetais enlatados ou em conserva subiram 23%, as de café instantâneo aumentaram 20% e as de ketchup cresceram 16% em comparação com o mesmo período da semana anterior, segundo dados da Consumer Edge, empresa que monitora o comportamento do consumidor.
Embora alguns consumidores estejam sendo mais estratégicos com suas compras, outros podem estar estocando por causa da incerteza sobre quais produtos serão afetados pelas tarifas e se as empresas aumentarão os preços, segundo analistas.
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A ameaça de preços mais altos também levou muitos consumidores a comprar eletrônicos, especialmente iPhones. Há mais de uma década, os consumidores americanos costumam comprar iPhones a partir de setembro, quando a Apple lança seus novos modelos. Mas as tarifas do Sr. Trump transformaram abril na temporada de compras de iPhones deste ano.
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A Apple fabrica cerca de 80% de seus iPhones na China, segundo a Counterpoint Research, uma empresa de pesquisa em tecnologia. As isenções de tarifas recíprocas anunciadas na sexta-feira pelo governo Trump para certos eletrônicos não pareciam se aplicar a uma rodada anterior de tarifas impostas à China.
O governo havia aplicado uma tarifa de 20% sobre produtos chineses devido ao papel do país no fornecimento de fentanil aos Estados Unidos.
— Está havendo uma corrida para comprar e uma corrida para vender por parte dos investidores também — disse Gene Munster, sócio-gerente da Deepwater Asset Management. — É mais turbulência do que vi em 20 anos acompanhando a empresa. A velocidade com que tudo está acontecendo é insana.
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Tom Barnard, de 49 anos, diretor de marketing universitário em Waco, Texas, disse que ajudou sua mãe a comprar um novo iPhone 16 na última sexta-feira. Barnard contou que sua mãe esperaria o lançamento do modelo mais novo, mas achou mais prudente fazer a compra agora, caso a Apple aumente os preços mais tarde neste ano.
— Acho que vamos estar em uma guerra comercial com a China pelo menos até o fim do ano — disse ele.
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Barnard também comentou que ele e sua esposa gastaram cerca de US$ 650 no Walmart no último fim de semana, principalmente porque estavam preocupados com um possível aumento nos preços dos alimentos devido às tarifas.
Alguns pais chegaram a considerar comprar presentes de Natal com oito meses de antecedência, para evitar preços mais altos. Em grupos do Facebook e fóruns dedicados a famílias, os pais debatiam o que comprar, levando em conta o tempo de atenção das crianças pequenas. Perguntavam-se se os filhos ainda se interessariam por brinquedos de unicórnio ou narval no fim do ano, ou se seria melhor optar por algo mais tradicional, como conjuntos da Lego.
Em um grupo do Facebook voltado para famílias da região de Los Angeles, pais compartilharam informações sobre produtos da Apple, consoles de videogame que haviam comprado e onde encontraram os menores preços.
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“Estávamos pensando em dar um iPhone para nosso filho quando ele completar 14 anos no fim do ano, mas vamos comprar agora,” escreveu um dos pais em um grupo da área de São Francisco. “Só precisamos esconder até o aniversário dele.”
Outros consumidores já vinham se preparando há meses para a possibilidade de aumento de preços. Bree Chaudoin, 47 anos, especialista em suporte de crédito em Normal, Illinois, disse que trocou seu iPhone logo após a eleição de Trump em novembro, com receio de que os preços subissem caso ele impusesse novas tarifas. Bree também contou que começou a poupar para comprar novos equipamentos de acampamento no final do ano passado.
Há cerca de um mês, ela comprou uma barraca de teto para o carro no valor de US$ 1.500 que, aparentemente, foi fabricada na China. Também encomendou um novo reservatório de água, lanternas de acampamento e pinças para fogueira em sites como Temu e AliExpress, plataformas populares de comércio eletrônico com donos chineses.
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Bree disse que normalmente tenta comprar o máximo de produtos americanos possível. Mas, segundo ela, um reservatório de água semelhante produzido nos EUA custaria pelo menos US$ 120 a mais:
— Tenho um orçamento muito apertado. Quando eles vendem produtos de alta qualidade por um preço menor, não fazia sentido para mim comprar em outro lugar.
Apesar de a recente onda de vendas ter sido um alívio para algumas empresas, analistas do varejo afirmam que as companhias parecem mais preocupadas com uma possível retração nos gastos dos consumidores.
Economistas de Wall Street reduziram suas previsões de crescimento e alertaram para uma possível recessão em meio à guerra comercial global. O sentimento do consumidor também caiu, à medida que as famílias ficam mais apreensivas com a inflação.
— Quando falo com as empresas, a maior preocupação delas é que as pessoas deixem de comprar —” disse Simeon Siegel, analista de varejo do banco de investimentos BMO Capital Markets.