O recente relato de uma comissária de bordo argentina da companhia aérea Emirates provocou um debate nas redes sociais, ao revelar salário e benefícios que ela recebe no Oriente Médio. O vídeo da jovem deu visibilidade a uma tendência que já atrai brasileiros há alguns anos: trabalhar como tripulante nas grandes e luxuosas companhias aéreas do Oriente Médio, como Emirates, Etihad e Qatar Airways. O atrativo é claro: salários mais altos, benefícios generosos e uma vida que, nas redes sociais, pode parecer de filme.
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“Creio que seja pela facilidade e pela oferta tentadora. É uma mudança completa de vida”, resume Lucas Ramos, comissário brasileiro que trabalhou seis anos na Etihad, companhia de Abu Dhabi, e atualmente voa na Flydubai. Em entrevista ao GLOBO, ele explicou que, no Brasil, o caminho para ingressar na aviação é caro e burocrático.
Para seguir as regras da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é necessário pagar um curso de formação, realizar exames médicos e a prova da Anac, além de arcar com deslocamentos e hospedagem em São Paulo, onde a maioria das contratações acontecem.
— As empresas dos Emirados exigem apenas Ensino Médio completo, inglês fluente e 1 ano de experiência com atendimento ao cliente. A Emirates, por exemplo, tem processo seletivo em várias cidades diferentes do Brasil, a etapa presencial leva apenas 1 ou 2 dias. Caso passe, elas arcam com todos os custos da sua mudança pros Emirados e do seu treinamento. São empresas que capacitam os próprios profissionais porque sabem que é um investimento que vai dar retorno — explicou o comissário Lucas Ramos.
O pacote de benefícios oferecido pelas companhias do Golfo também chama atenção quando comparado ao de quase todas as outras empresas aéreas do mundo. A Emirates, por exemplo, paga um salário inicial para comissários de classe econômica que gira em torno de 11 mil dirhams por mês (cerca de R$ 15 mil), incluindo pagamento fixo, horas de voo e diárias internacionais.
A empresa também garante moradia mobiliada gratuita (compartilhada com dois ou três colegas) e contas de água e energia pagas pela empresa. O transporte é fornecido pela companhia, que também garante 30 dias de férias anuais, um bilhete gratuito por ano para o país de origem e cobertura médica e odontológica integral.
— A diferença salarial e de benefícios é enorme. No Brasil, um comissário recebe entre R$ 5 e R$ 8 mil reais por mês após os descontos, e aí tem que pagar aluguel, água, energia, transporte. Nos Emirados, o comissário iniciante recebe entre 9 e 12 mil dirhams (algo entre 13 e 18 mil reais). Além de moradia, transporte e saúde, as empresas dão descontos pela cidade em restaurantes, clubes de praia, lojas, cinema, apenas por ser comissário — afirmou Ramos.
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O custo de vida, segundo o comissário brasileiro, é alto, mas amplamente compensado pelos benefícios. A rotina, no entanto, não é apenas glamour: o trabalho é marcado por longas jornadas e constante adaptação. Os voos podem ultrapassar 14 horas, seguidos de breves períodos de descanso em países diferentes a cada semana.
As mudanças de fuso horário e o sono irregular afetam o corpo e exigem disciplina para manter a saúde e o bom desempenho. Além do atendimento a bordo, o trabalho envolve inspeções de segurança, treinamentos frequentes e disponibilidade para escalas que variam a qualquer momento.
— As escalas variam muito, chegando a 100 horas de voo (cerca de 140 horas de jornada de trabalho), que é o máximo permitido. Mas às vezes você ganha umas folgas a mais e trabalha menos horas. Nas folgas, muitos comissários aproveitam esse tempo para viajar mais ainda, outros preferem ficar em casa e descansar. Não é pra todo mundo, muita gente fica pouco tempo e vai embora.
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Lucas também contou que a adaptação à cultura local foi mais tranquila do que imaginava, mas admitiu que a rotina de trabalho com pessoas de diversas nacionalidades impõe conflitos e obstáculos — tanto com tripulantes quanto com passageiros.
Ainda assim, ele garante que não trocaria a experiência e que considera essa troca uma das partes mais enriquecedoras da profissão. De acordo com Ramos, trabalhar com pessoas de origens tão distintas amplia a visão de mundo, estimula o respeito às diferenças e transforma a forma como se enxerga a vida. Como a cada voo a tripulação muda, a rotina também se torna uma oportunidade constante de conhecer novas pessoas e acumular experiências.
— Definitivamente compensa. Amo morar aqui, a sensação de segurança, receber um salário que me permite aproveitar a vida, e não só pagar as contas. Dá para guardar bastante dinheiro, ajudar a família ou simplesmente viver com pequenos luxos e viagens. Dinheiro meio que deixa de ser uma preocupação quando você voa aqui. Pra mim, tudo se encaixou — disse o brasileiro.

