O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter sido sabotado ao ficar preso em uma escada rolante que parou de funcionar no dia de sua participação na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Caso viesse ao Rio, o americano teria inúmeros motivos para acreditar em tentativas de boicote. Diariamente, cariocas enfrentam dificuldades para acessar estações de trem e metrô ao se deparar com escadas rolantes quebradas, desativadas ou passando por manutenção — o que às vezes dura semanas.
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Em várias paradas de trem da Zona Norte do Rio, as escadas rolantes estão fora de uso há tanto tempo que os passageiros nem se lembram mais. O pedreiro Geraldo Pereira, de 58 anos, conta que lida frequentemente com as consequências do mau funcionamento dos aparelhos. Há três anos usando muleta, em decorrência de problemas de coluna, ele é obrigado a recorrer às escadas comuns:
— Esse transtorno sempre acontece comigo.
Segundo usuários de trem, idosos com mobilidade reduzida, grávidas e pessoas com deficiência precisam, muitas vezes, contar com a ajuda de terceiros para conseguir chegar às plataformas.
— Vemos constantemente pessoas com dificuldade de subir as escadas normais, cansadas e ofegantes. Na semana passada, vi um cadeirante sendo carregado para conseguir acessar a estação do Méier — critica o mecânico Aluísio Gomes, de 81 anos.
Para os mais idosos, escadas rolantes danificadas também geram transtornos.
— Eu venho a um hospital no Méier para tratar o pé que torci. A minha sorte é ter a possibilidade de pagar um carro de aplicativo para me levar até o local e utilizar o trem apenas na volta. Imagina quem não pode fazer isso? — pondera uma aposentada, que preferiu não se identificar.
Na estação de trem de Madureira, a situação é ainda mais crítica. As escadas não estão apenas interditadas, mas quebradas e cercadas por lixo. Um problema que não é novo. Segundo relatório de 2023 da SuperVia, os aparelhos já estavam danificados naquela época. A promessa, no entanto, era substituir os equipamentos por elevadores, o que não aconteceu.
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Em Bangu, na Zona Oeste, as escadas rolantes que ligam o calçadão à estação também irritam os usuários. De acordo com funcionários de lojas dali, o funcionamento das instalações, que é ruim nos dias úteis, piora nos fins de semana.
— É sempre assim. Pessoas ficam presas e perdem sapatos nas escadas rolantes, idosos precisam subir com peso pelas escadas normais, gente é impedida de chegar aqui em cima porque não consegue se locomover — diz a caixa Michele Silva.
No metrô, a escada rolante parada também faz parte da rotina de usuários. Na estação General Osório, em Ipanema, na Zona Sul, a professora Beatriz Ramalho, de 70 anos, faz queixas:
— Constantemente, precisamos subir e descer com peso, porque encontramos os aparelhos com defeito.
Reclamações também são comuns em estações do Centro da cidade.
— Outro dia a escada começou a funcionar ao contrário antes de parar, e uma mulher que estava em cima acabou caindo — conta a estudante Paloma Miranda, que frequenta a estação Carioca.
Segundo a SuperVia, as escadas rolantes são alvos frequentes de vandalismo, o que atrapalha a disponibilidade do serviço. “Estamos fazendo um trabalho de recuperação desses ativos”, informa em nota.
O Metrô Rio afirma que duas escadas da estação Siqueira Campos/Copacabana estão em manutenção para troca de peças. Em relação à estação General Osório, três tapetes rolantes também estão em manutenção. Quanto à estação Carioca, uma escada rolante parou momentaneamente na quinta-feira, voltando a funcionar no dia seguinte.
Já a Agetransp — agência responsável pelos transportes regulados no estado — afirma realizar fiscalizações rotineiras. Entre setembro de 2024 e agosto deste ano, a ouvidoria do órgão recebeu 59 reclamações sobre escadas rolantes do Metrô Rio e 51 da SuperVia.
*Estagiária sob supervisão de Cláudia Meneses.