A inteligência artificial está turbinando o crime organizado, desde a criação de imagens de abuso sexual infantil até a lavagem de dinheiro via criptomoedas, alertou a Europol esta semana. A Agência da União Europeia para a Cooperação Policial advertiu que avanços, como a computação quântica e interfaces cérebro-computador, estão prontos para “piorar” o cenário.
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A diretora executiva da Europol, Catherine De Bolle, descreveu o relatório como um “chamado de atenção” para a polícia. “Esta é uma luta pelo Estado de direito, por nossas comunidades, por nossos negócios e pelo futuro de nossos filhos. Não deixaremos que o crime organizado dite as regras do jogo”, disse ela.
Em seu relatório expondo as ameaças representadas pelo crime organizado, a organização policial europeia disse que os criminosos aproveitaram as oportunidades oferecidas pela IA como um “catalisador” para acelerar suas atividades.
“Avanços tecnológicos rápidos, especialmente em inteligência artificial (IA), estão remodelando como o crime é organizado, executado e ocultado”, disse a Europol em um relatório detalhado de “avaliação de ameaças” de 80 páginas.
Essas mudanças estão tornando o crime organizado mais perigoso, representando um desafio sem precedentes para a segurança em toda a UE e seus Estados-membros”, acrescentou a polícia.
O uso de IA e outras tecnologias está ajudando criminosos em todo o seu portfólio — do tráfico de drogas e de pessoas ao crime cibernético e roubos de identidade.
A IA generativa permite que gangues criminosas atinjam seus alvos globalmente, em vários idiomas, e até mesmo gerem imagens de abuso sexual infantil, alertou o relatório policial.
Imagens explícitas de adultos podem ser manipuladas para fazer o indivíduo parecer mais jovem ou aplicativos podem ‘nudizar’ imagens não explícitas”, disse o relatório.
“As mesmas qualidades que tornam a IA revolucionária — acessibilidade, versatilidade e sofisticação — a tornaram uma ferramenta atraente para criminosos”, observou a Europol.
A tecnologia também está dificultando que as autoridades recuperem ganhos ilícitos. O confisco de receitas do crime estagnou em cerca de 2%, disse a polícia, com o desafio “ainda mais exacerbado pela crescente exploração criminosa de ativos digitais”.
Grupos criminosos estão usando criptomoedas para lavar dinheiro e movimentar fundos, dificultando o rastreamento e, eventualmente, o confisco.
A exploração criminosa de criptomoedas como método de pagamento agora ultrapassou o escopo do crime cibernético e é encontrada cada vez mais em áreas de crime mais tradicionais, como tráfico de drogas ou contrabando de migrantes”, destaca o relatório.
À medida que a tecnologia melhora, o impulso à atividade criminosa só tende a aumentar, de acordo com a Europol, que observa rápidos desenvolvimentos em computação quântica, metaverso, 6G, sistemas não tripulados e interfaces cérebro-computador.
“Os altos níveis de anonimato, velocidade e sofisticação atualmente demonstrados por redes criminosas provavelmente só aumentarão nos próximos anos”, alertou o relatório.
A computação quântica, em particular, permitirá que os criminosos quebrem a tecnologia de criptografia atual com facilidade. A polícia projetou uma perspectiva distópica de gangues criminosas administradas inteiramente por IA.
“O surgimento da IA totalmente autônoma pode abrir caminho para redes criminosas totalmente controladas por IA, marcando uma nova era no crime organizado”, disse o relatório.