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conheça as histórias de quem carrega no nome a devoção aos santos associados à distribuição de doces

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setembro 27, 2025
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Devoção no nome. Nascido em 27 de setembro, Cosme Damião Silveira vai distribuir saquinhos de doce com as filhas Beatriz e Alice: promessa feita depois que a caçula se curou de uma pneumonia — Foto: Gabriel de Paiva

Hoje, dia deles, não é feriado, e, como se sabe, o padroeiro da cidade é outro. Nada disso, no entanto, abala o prestígio da dupla, que uma vez por ano leva a garotada às ruas, em busca de suspiros, balas e outras guloseimas entregues em inconfundíveis saquinhos de doce. A doce tradição, reverência aos gêmeos São Cosme e São Damião, resiste a mudanças na dinâmica urbana e até ao azedume da intolerância, tão presente nos dias de hoje. Ecumênica, a devoção congrega anônimos, que agradecem a graça alcançada, quadras de escolas de samba, restaurantes e certidões de nascimento: muita gente carrega os nomes dos santos.

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O analista de sistemas Cosme Damião Silveira ganhou nome composto: nasceu num 27 de setembro e hoje completa 42 anos. Os pais planejavam batizá-lo como Leonardo, mas a data falou mais alto. Foi justamente aos seus divinos xarás que sua mãe recorreu quando o então bebê teve problemas de saúde. Com a cura, veio também a promessa de distribuir doces por sete anos, assim como não cortar o cabelo do pequeno Cosme Damião pelo mesmo período.

— Uso mais o “Cosme”. Mas no trabalho tem quem brinque que contrataram dois ao preço de um — diverte-se o aniversariante. — Quando vou ao médico e chamam “Cosme Damião”, todo mundo olha: levanto orgulhoso. Gosto do meu nome.

Devoção no nome. Nascido em 27 de setembro, Cosme Damião Silveira vai distribuir saquinhos de doce com as filhas Beatriz e Alice: promessa feita depois que a caçula se curou de uma pneumonia — Foto: Gabriel de Paiva

Morador de Guadalupe, Cosme Damião repetiu a promessa em abril. Pai de Alice, de 10 anos, e Beatriz, de 7, ele recorreu aos santos quando a caçula enfrentou uma pneumonia grave e foi internada. Agora, a família distribuirá sacos de doce por sete anos, em agradecimento pela recuperação da saúde da menina. O local escolhido foi o entorno do Engenhão, onde sente uma “energia boa”.

Um levantamento da Associação de Notários e Registradores do Estado do Rio (Anoreg-RJ) encontrou 102 pessoas chamadas Cosme Damião em território fluminense. A primeira delas nasceu em 1937, em Itaboraí.

Além de promessas feitas ou manifestações de devoção, uma inspiração evidente para batismos com os nomes dos santos é o nascimento de gêmeos. Os irmãos Cosme e Damião Lima, de 32 anos, são fruto de todas essas opções. Durante a gravidez de risco da mãe, um episódio foi decisivo para a escolha.

— Nessas idas ao hospital, meu pai viu os santinhos no corredor. Minha mãe já estava com um quadro grave. Então os dois fizeram a promessa: se tudo corresse bem e nascêssemos com saúde, os filhos seriam Cosme e Damião — conta o fisioterapeuta Damião Lima. — Brinco que pagamos a promessa até hoje.

Cosme e Damião Lima, irmãos gêmeos batizados assim em 1993 após a mãe ter enfrentado uma gravidez de risco. Numa ida ao hospital, o pai viu os santos e então fez a promessa de batizar os filhos assim. Cosme é o de faixa azul. Damião é o de faixa roxa — Foto: Arquivo pessoal
Cosme e Damião Lima, irmãos gêmeos batizados assim em 1993 após a mãe ter enfrentado uma gravidez de risco. Numa ida ao hospital, o pai viu os santos e então fez a promessa de batizar os filhos assim. Cosme é o de faixa azul. Damião é o de faixa roxa — Foto: Arquivo pessoal

Situação parecida viveu o diretor de carnaval do Arranco do Engenho de Dentro, uma das escolas que fará distribuição de doces em sua quadra hoje. Por problemas de saúde ao nascer, sua avó, devota dos santos irmãos, prometeu nomear o bebê como Cosme. Ao cair da laje aos 13 anos, com quadro de traumatismo craniano e coma, ele teve mais uma cura atribuída a Cosme e Damião.

— No último exame antes da cirurgia, o médico falou para a minha mãe: “Não sei qual é a fé que a senhora segue, mas agradece muito, porque o seu filho está de alta” — conta o diretor de carnaval Cosme Márcio, hoje com 53 anos.

Cosme Márcio, batizado assim por conta de uma promessa da avó, devota de Cosme e Damião — Foto: Arquivo pessoal
Cosme Márcio, batizado assim por conta de uma promessa da avó, devota de Cosme e Damião — Foto: Arquivo pessoal

No Estado do Rio, a Anoreg-RJ encontrou 3.005 pessoas registradas como Cosme (o primeiro em 1891), e outras 1.592 como Damião, sendo o pioneiro, de 1888. O ápice de registros com esses nomes ocorreu na década de 1970, com 939 e 446 no período, respectivamente, fenômeno influenciado por um reconhecimento da tradição afrobrasileira como parte da cultura nacional naquele momento. Isso ajudou a popularizar os santos gêmeos, conforme analisa o antropólogo Lucas Bártolo, coorganizador do livro “Doces santos: devoções a Cosme e Damião”, publicado pelo Museu Nacional, e que terá versão impressa lançada neste ano.

Os santos. Imagem de Cosme e Damião na paróquia do Andaraí, que terá missa de hora em hora hoje/ — Foto: Gabriel de Paiva
Os santos. Imagem de Cosme e Damião na paróquia do Andaraí, que terá missa de hora em hora hoje/ — Foto: Gabriel de Paiva

A fé permanece, mas os nomes caíram em desuso. Na década atual, o levantamento da Anoreg-RJ encontrou apenas sete Damiões e nenhum Cosme: é o menor número desde os anos 1930. A redução da população católica, associada ao crescimento dos evangélicos, é um dos fatores que podem ter contribuído para esse cenário. Mas a festa para Cosme e Damião nas ruas da cidade se mantém, principalmente nas zonas Norte e Oeste.

— O subúrbio tem a força da tradição, com famílias morando na mesma casa há gerações, vínculos afetivos com o lugar. A tradição tende a se modificar, mas não acaba. Coisas que hoje são novidade podem virar tradicionais, enquanto outras podem desaparecer — observa Bártolo, pesquisador do Laboratório de Antropologia do Lúdico e do Sagrado (Ludens-UFRJ). — Dar doce é resultado do encontro de religiões. Essa infantilização de Cosme e Damião passa pela associação dos santos médicos, gêmeos, com os orixás gêmeos africanos (Ibeji). Essas coisas se confundem: tem católico que cultua os santos como meninos. Está muito além dos cânones religiosos, os fiéis têm essas práticas sem tantas fronteiras. A força da festa passa por não ser de uma religião específica. É de vários adeptos, candomblecistas, umbandistas, católicos.

Os médicos Cosme e Damião viveram no século III e não recebiam pelos atendimentos. Foram martirizados no período de perseguição do imperador Dioclesiano, na Síria, ao se recusarem a negar a fé em Cristo. Como São Vicente de Paulo também é celebrado em 27 de setembro, o Vaticano decidiu celebrar os santos gêmeos no dia anterior, em reforma de 1969. Por aqui, isso só serviu como mais um dia para a dupla, que na Umbanda conta ainda com um irmão, Doum.

Na Paróquia de Cosme e Damião, no Andaraí, são esperadas pessoas de todos os credos para celebrar os santos, com missas de hora em hora a partir das 7h de hoje.

— Os santos são distintos das entidades, mas é um dia importante para todos estarem em contato com o divino — diz o padre Walter Peixoto, pároco do templo.

Graças alcançadas. Placas são expostas na chamada “Sala dos Milagres”, na Paróquia de Cosme e Damião — Foto: Gabriel de Paiva
Graças alcançadas. Placas são expostas na chamada “Sala dos Milagres”, na Paróquia de Cosme e Damião — Foto: Gabriel de Paiva

A distribuição de saquinhos de Cosme e Damião deve movimentar a cidade. Acontecerá na Praça Professora Adélia Bandeira, em Oswaldo Cruz (13h); nas quadras da Imperatriz, em Ramos (10h30), e do Arranco, no Engenho de Dentro (14h); assim como no Al Farabi, no Boulevard Olímpico, e no Jurema Bar, na Lapa. No Estação Net, clientes ganharão um saquinho ao comprarem ingressos para filmes. Artistas, como Zeca Pagodinho, também farão a sua parte: o cantor distribuirá 500 saquinhos na Barra da Tijuca. No restaurante Yayá, da chef Andressa Cabral, no Leme, o caruru — comida tradicional em homenagem a Cosme e Damião — será o prato do dia.

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