Por trás de balcões e panelas de Niterói existe uma história de coragem, determinação e muito trabalho. Antonia Aparecida dos Santos Sousa, conhecida por todos como Cida, chegou ao Rio aos 15 anos, vinda de Santa Quitéria, no Ceará. Sem escolaridade completa e com uma vida inteira pela frente, ela transformou desafios em oportunidades, construindo um império gastronômico.
- Saques duas madrugadas seguidas: Restaurante em Niterói reabre após ser obrigado a interromper atividades
- Bandeira Azul 2025/2026: Três praias do Rio e uma de Niterói ganham selo internacional
— Vim para morar na Vila do João, em Bonsucesso, com minha irmã mais velha — lembra Cida.
Com escolaridade apenas até a 5ª série, precisou aprender a vida na prática. As aulas da escola pública eram à noite, horário em que já estava trabalhando para se sustentar, o que a obrigou a interromper os estudos. O primeiro contato com bares e restaurantes veio com a tia, no Bar 20, em Ipanema.
— Eu nem tinha salário, ganhava umas caixinhas, mas aprendi a trabalhar como atendente de balcão — conta.
Em 1995, já em Icaraí, mas morando na Rocinha, assumiu funções no Bar Isaura, restaurante do qual seu irmão era sócio. Foi lá que começou a moldar sua trajetória. O espírito empreendedor ganhou força em 1998, quando começou a trabalhar no que viria a ser seu primeiro grande desafio: o Cerol Sport’s Bar.
Um dia, os donos viajaram e deixaram Cida sozinha à frente do negócio, lidando com contas e obstáculos. Com disciplina e coragem, ela conseguiu pôr tudo em ordem. Impressionados, os proprietários disseram que gostariam de vender o bar para ela. Ao lado de dois irmãos, tornou-se proprietária em 2000, aos 25 anos.
- Violência: Queda nos índices de crimes graves em Niterói é destaque em publicação internacional
A expansão veio rápido. Hoje, além do Cerol Sport’s Bar, Cida é dona do Bar do Siri, em Icaraí; e do Portista Bar, em Santa Rosa, comprado em 2020. Este último é um dos maiores e mais movimentados estabelecimentos da família, comportando quase 400 pessoas, com cardápio brasileiro que vai do bacalhau aos pratos nordestinos. Tem ainda o restaurante Dona Antônia, batizado em sua homenagem, que funciona com menu à la carte e self-service com churrasco em um shopping em Icaraí, bairro onde também mantém algumas lojas de sua propriedade.
— Somos seis irmãs e três irmãos na família. Só uma está aposentada. Todos têm os seus próprios negócios, e somos sócios em alguns. Meu marido também tem o bar dele na Gavião Peixoto. Tudo, aqui em Niterói — detalha.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/D/u/kBp8KaTmCrj5X0dmUgVw/whatsapp-image-2025-10-08-at-18.30.42-1-.jpeg)
A história da família é marcada por memórias afetivas que atravessam gerações. No Portista Bar, um quadro próximo à churrasqueira mantém viva a lembrança do pai de Cida, que faleceu em 2022. Ele tinha um martelo especial para preparar fumo com cravo, uma espécie de rapé. O detalhe curioso: o martelo era invertido para que ninguém pudesse usar o utensílio para pegar pregos. Hoje, o quadro é um símbolo do legado de cuidado e sabedoria que ele deixou.
— Dividir o negócio com a família é bom, mas tem um lado complicado. Mas nós nos entendemos, fomos muito bem criados por nossos pais. Por causa da educação que tivemos, não sobra espaço para mal-entendidos. Quando há uma desavença, logo em seguida já estamos sentados à mesa dividindo uma refeição — diz.
- Maca controlada por voz, hidrogênio verde como combustível: Alunos de Faetec de Niterói apresentam projetos em Brasília
Cida é o coração de uma dinastia gastronômica. A família tem oito restaurantes em Niterói, espalhados por Icaraí, Santa Rosa e Fonseca. O filho João Victor, de 22 anos, e os sobrinhos já representam a segunda geração envolvida nos negócios.
— A gente trabalha todo dia. Eu fico na operação, atendo mesas, carrego pratos e supervisiono cada detalhe — afirma.
A empreendedora se destaca pelo trabalho duro e pela liderança em um ambiente tradicionalmente masculino.
— Ser mulher e trabalhar em bar é difícil. Tem muita gente com quem você precisa ter cuidado. Com o tempo, aprendi a colocar uma “armadura” para me proteger — diz.
Com 50 anos recém-completados, Cida ainda pensa em expandir seu horizonte. Entre as possibilidades está um restaurante em Fortaleza ou na Serra da Ibiapaba, no Ceará.
— Não penso em parar de trabalhar. Talvez algo mais leve, de quarta-feira a domingo — conclui.