Os 50 anos de relações bilaterais entre Brasil e China, completados em 2024, foram celebrados pelas autoridades dos dois países na abertura do “Summit Valor Econômico Brazil-China 2025”, na manhã desta quarta-feira (23) em Xangai, na China. – As relações bilaterais estão no seu melhor momento da história – afirmou Marcos Caramuru, conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-embaixador do Brasil na China.
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Frederic Kachar, CEO da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio (SGR) destacou os avanços nas trocas comerciais entre os países, que fomentaram o desenvolvimento de suas respectivas vocações. – Pelo lado do Brasil, nos tornamos um celeiro do mundo, atingindo a liderança nas exportações de soja, milho, carne bovina, celulose, café e açúcar. Do lado chinês, vimos a espetacular evolução das empresas de tecnologia, bens de consumo e de equipamentos para produção de energia sem emissão de carbono – afirmou, ressaltando que a China hoje é receptora de 30% das exportações brasileiras.
Apresentando-se como “ex-presidenta do Brasil, com muito orgulho”, Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), destacou o crescimento da corrente de comércio entre Brasil e China. De acordo com a Organização Mundial do Comércio, as trocas saltaram de US$ 6,6 bilhões em 2003 para um recorde de US$180 bilhões em 2024; as exportações brasileiras para a China somaram US$ 116 bilhões, triplicando em comparação com as exportações para os EUA, nosso segundo maior parceiro comercial.
– Brasil e China vêm mostrando ao mundo como uma relação de igual para igual pode levar a um resultado de grandes ganhos mútuos – disse Rousseff.
O recente tarifaço imposto ao mundo pelo presidente dos EUA, Donald Trump, foi lembrado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que se referiu ao ocorrido como uma “tempestade de tarifas no comércio global”. Silveira afirmou que Brasil e China podem ser grandes aliados no resgate das relações multilaterais, especialmente na transição energética e no combate às mudanças climáticas. – Juntos, os dois países podem aproveitar a hesitação global quanto ao Acordo de Paris e transformá-la em oportunidade de geração de negócios, emprego e renda – disse, citando cooperação no campo das baterias para armazenamento de energia, carros elétricos, minerais críticos, energia nuclear e linhas de transmissão.
A possibilidade de cooperação bilateral na transição energética também foi mencionada por Marcos Galvão, atual embaixador do Brasil na China. Fazendo um paralelo com a crise do petróleo em 1974, quando as relações diplomáticas entre os dois países foram estabelecidas, Galvão mencionou a mudança que se deu desde então – na época, o Brasil buscava incluir a China entre seus fornecedores de petróleo, quadro que perdurou entre 1978 e 1987. – Hoje, o Brasil é fornecedor de petróleo para a China e, no momento em que se enfrenta o grave problema global da mudança do clima, temos na COP30 uma oportunidade de avanço – disse. Ele destacou que a maior parcela de investimentos chineses no Brasil ocorre no setor elétrico, que já é o mais limpo entre os países do G20.
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Para as autoridades chinesas que participaram da abertura do evento, os próximos 50 anos devem marcar um novo ciclo de cooperação entre governos e empresas no Sul global. – Nos próximos anos, Brasil e China devem defender a globalização econômica, promover o livre comércio e fortalecer o sistema multilateral, criando um ambiente econômico internacional aberto, inclusivo e não discriminatório – afirmou Shen Xin, vice-presidente da Associação do Povo Chinês para a Amizade com Países Estrangeiros (CPAFFC).
Ele reforçou o peso chinês na economia do mundo. A economia do país asiático cresceu 5% em 2024, contribuindo com 30% para o crescimento global. – Agora se inicia uma nova parceria pelos próximos 50 anos de relações duradouras, com um novo desenho de cooperação Sul-Sul – disse Hua Zhong, vice-diretor geral do Departamento de Capital Estrangeiro e Investimentos no Exterior da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China (NDRC).
A pujança econômica e o espírito cosmopolita de Xangai foram mencionados por Chen Jing, vice-presidente do Comitê Permanente do Congresso Popular Municipal de Xangai. Embora a área do município represente apenas 0,06% do território chinês, a cidade contribui com 10% da receita fiscal do país, com um PIB de 5 trilhões de yuans (cerca de US$ 685 bilhões). Ele destacou ainda acordos de cooperação firmados entre Xangai e cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo. – Comércio, cultura e ciência e tecnologia são grandes espaços de cooperação – destacou.
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Representante da mídia chinesa, Zhang Lihui, presidente da Caixin Media – grupo reconhecido pelo jornalismo de negócios e investigativo – felicitou o Valor pelos 25 anos e o Grupo Globo pelo seu centenário, comemorados em 2025. No ano passado, a Caixin realizou um fórum sobre as relações Brasil-China em São Paulo, e afirmou haver espaço para cooperação também no setor de mídia. – O summit de hoje oferece um espaço de interação para empresas chinesas e brasileiras.
A diretora de Redação do Valor Econômico, Maria Fernanda Delmas, ressaltou a importância do evento para aprofundar as relações Brasil-China.
O summit é uma realização da Editora Globo e do Valor Econômico, em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e a Caixin Global; com patrocínio máster de BRF Marfrig; patrocínio de Cedae, ApexBrasil, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Prefeitura do Rio de Janeiro, CNA/Senar, BYD e Huawei; e com apoio de Eletromidia, Vale, CNI, governo do Estado de São Paulo, Portos Do Paraná, Suzano, Prefeitura de São Paulo e Fiesp.