Maior representante do cooperativismo na saúde suplementar, os números do Sistema Unimed impressionam: o faturamento chegou a R$ 115 bilhões em 2024 — dos quais R$ 96 bilhões foram transferidos à área de saúde e aos profissionais. São 118 mil médicos cooperados, espalhados por 340 cooperativas, das quais 270 são operadoras de planos ativas, que atendem 20 milhões de pessoas.
Mais da metade dos clientes Unimed estão em contratos coletivos, e 45% têm planos individuais, com a marca presente em mais de 90% dos municípios brasileiros. O gigantismo, no entanto, não garante sucesso. O sistema apresenta cooperativas com boa saúde financeira; outras, não.
— É preciso fortalecer a governança e, especialmente, a relação entre cooperativa e médico cooperado — diz Cesar Serra, diretor adjunto de Normas e Habilitação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Ele reconhece o desafio, por conta de um conjunto heterogêneo de Unimeds:
— Não é fácil padronizar essa governança. Existe um esforço, mas precisa ir além.
O problema, diz ele, é que há médicos cooperados que não se enxergam como donos que cuidam da gestão pensando na sustentabilidade do negócio. Pelo contrário, querem recuperar rapidamente o investimento que fizeram para entrar na cooperativa e geram custos.
Para Serra, com uma boa governança, na qual todos se vejam como donos do negócio — percebendo que suas atitudes contribuem para o resultado e o futuro da cooperativa —, seria difícil para outras operadoras concorrerem com a Unimed, pela capilaridade do sistema e pela quantidade de médicos e beneficiários.
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Serra lembra que as Unimeds têm diretorias eleitas para mandatos pré-determinados, e isso traz o risco de gestões focadas apenas em resultados de curto prazo, de olho na reeleição ou na geração de sobras para distribuir, deixando rombos para futuros diretores.
Um exemplo de boa gestão é a Unimed BH. Com 1,5 milhão de beneficiários — 87,5% em contratos coletivos e 12,5% em individuais —, a cooperativa registrou um aumento de 13,78% na receita líquida em 2024, de R$ 6,89 bilhões. O resultado operacional, de R$ 294,7 milhões, foi 24,27% superior ao de 2023. Já o lucro líquido foi de R$ 390,5 milhões, contra R$ 333,8 milhões do ano anterior.
Também mantém, por sete anos consecutivos, a nota máxima no Índice de Desempenho da Saúde Suplementar (IDSS), da ANS.
A estratégia, diz Frederico Peret, diretor-presidente da Unimed BH, está assentada no fortalecimento do vínculo com os médicos cooperados, na jornada integrada do paciente, na qualificação e na eficiência operacional da rede assistencial, na inovação e na expansão da verticalização, com aposta na regionalização. São 15 unidades próprias na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e há dois hospitais em construção.
— A tomada compartilhada de decisões, característica do modelo cooperativo, exige alto nível de engajamento, comunicação transparente e alinhamento entre cooperados — diz Peret.
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Por outro lado, há exemplos de dificuldades. A Unimed Nacional, com 2,1 milhões de beneficiários, 90% deles em contratos empresariais, teve um prejuízo de R$ 503 milhões em 2024, o maior do setor. Para evitar a intervenção da ANS, recebe mensalmente, até setembro, o aporte de R$ 1 bilhão de cooperativas regionais.
Luiz Otávio Fernandes de Andrade, presidente da Unimed Nacional, diz que os cinco primeiros meses de 2025 registraram resultado operacional positivo, e maio foi o quarto mês consecutivo de resultado líquido favorável. Ele cita números: em dezembro de 2024, o patrimônio líquido negativo era de R$ 100 milhões e, em maio, o valor ajustado bateu R$ 300 milhões positivos.
— Ainda temos uma dívida bancária significativa, mas que está decrescendo com a ajuda do aporte — ressalta Andrade, lembrando que há uma reestruturação interna em curso, com rediscussão de contratos.
Para ele, a crise da Unimed Nacional se deve à ausência de um processo sistemático de capitalização, além de erros de precificação e gestão inadequada de custos. Mas, graças ao cooperativismo, a Unimed consegue ter a capilaridade atual.
— Somente o cooperativismo viabiliza uma operação em praças que, a rigor, não são interessantes do ponto de vista comercial para as empresas de mercado — afirma Andrade.
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Para Leandro Berbert, sócio-líder de Health Sciences & Wellness da EY Brasil, as características da saúde suplementar impõem desafios adicionais:
— Uma maior produção por parte de alguns cooperados pode impactar na necessidade de redução de receita dos demais, ou tem-se como consequência o desequilíbrio financeiro da operadora como um todo.
Esses potenciais desequilíbrios, diz ele, podem significar a necessidade de aportes por parte dos médicos.