As crianças têm acessado a internet cada vez mais cedo e o uso da inteligência artificial generativa já é disseminado entre os mais jovens. É o que mostra a pesquisa Tic Kids Online Brasil 2025, divulgada nesta quarta-feira, sobre hábitos e riscos do acesso à web pela população brasileira de 9 a 17 anos. O levantamento do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) destaca que 85% dos usuários dessa faixa etária têm perfil em pelo menos uma plataforma digital, sendo o WhatsApp e o YouTube as mais acessadas. O estudo foi feito em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
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Os dados mostram que 92% da população de 9 a 17 anos é usuária de internet no país, o que representa 24,5 milhões de crianças e adolescentes no ambiente digital — proporção semelhante à estimada na sondagem do ano passado. Por outro lado, outros 710 mil jovens nunca acessaram a internet. Entre as regiões do país, a presença digital dos jovens é mais comum no Sul (96%) e menos no Norte (85%). No recorte por renda, destaca-se o acesso das classes A, B e C (96%), quase dez pontos percentuais à frente de D e E (87%).
Coordenadora da pesquisa, Luisa Adib ressalta que, apesar da desigualdade regional, a última década registrou avanços na inclusão por região e por idade. Se os adolescentes e as classes A e B já se aproximavam da totalidade do uso da internet, em anos mais recentes, crianças e jovens das classes D e E também alcançaram patamar ao menos próximo dos 90%.
— Mas é importante analisar isso na perspectiva da conectividade. Há uma disparidade grande em relação à qualidade da internet, à disponibilidade de dispositivos e dados. Por exemplo, 30% das classes D e E acessam a internet exclusivamente pelo celular, então as classes A e B têm variedade maior de acesso, o que impacta na diversidade de atividades que podem desenvolver e nas habilidades que podem desenvolver também — pondera Luisa.
Em 2016, no início da série histórica, a pesquisa identificou que 10% dos usuários faziam o primeiro acesso à internet com até 6 anos. No novo levantamento, esse grupo chegou a 28% do total, o que aponta para uma inserção digital cada vez mais precoce.
De maneira inédita, o levantamento de 2018 estima a frequência do uso de dispositivos digitais por parte dos usuários de 9 a 17 anos. O celular foi usado “várias vezes ao dia” por 78% desse grupo e a televisão, por 37%. Já 9% fizeram uso diário do computador de mesa ou computador portátil.
Apesar disso, os dados também mostram um queda entre os mais jovens que possuem um celular. Os “donos” de aparelhos eram 81% no ano passado e passaram a 77%, desta vez. O tombo se deu principalmente entre os entrevistados de 9 a 10 anos, com doze pontos percentuais a menos de “posse de celular” (a 55%), e de 11 a 12 anos, com dez pontos de recuo (a 69%).
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Luisa Adib ressalta que o novo levantamento vem na esteira da intensificação dos debates sobre a proteção de crianças e adolescentes na internet — por exemplo, com a repercussão do vídeo-denúncia sobre adultização do influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, o Felca, e a posterior aprovação do “ECA Digital”, com o reforço das regras para provedores e plataformas para a segurança dos mais jovens online. A coordenadora da pesquisa ressalta que ainda é preciso acompanhar como a regulamentação vai afetar a participação digital de crianças e adolescentes, mas aponta indícios que o debate público já pode ter influenciado as famílias.
— A gente viveu no último ano um debate público em torno da proteção de crianças e adolescentes. As recomendações de profissionais que advogam pela proteção é que os 13 anos sejam a idade para o início da posse de celular, e a gente vê que essa queda na posse se dá principalmente entre os mais novos. Dado importante alinhado a esse cenário é a tendência de queda na presença dos mais novos, de 9 a 10 anos, nas plataformas. O uso de redes sociais voltou à proporção mais próxima à de antes da pandemia depois de um período de uso mais intenso. É algo que a gente vai seguir monitorando, mas pode ser efeito do debate, do vídeo do Felca. Tem um papel dessa pauta que a gente não viu acontecer em anos passados — destaca.
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Outro indicador inédito na Tic Kids Online Brasil 2025 expressa a frequência do acesso à internet em diferentes locais. Se 84% dos usuários de 9 a 17 anos apontaram ter entrado na internet em suas casas “várias vezes ao dia”, outros 12% reportaram fazê-lo repetidamente, a cada dia, na escola.
Pela primeira vez, o levantamento também questionou os usuários mais jovens sobre o uso de inteligência artificial generativa. A pesquisa mostra que, no total, 65% dos usuários entre 9 e 17 anos utilizaram ferramentas de IA para ao menos uma das atividades mencionadas.
Quase seis em cada dez deles (59%) se valeram desse artifício para realizar pesquisas escolares ou estudar, e 42%, para procurar informações. Além disso, 21% usaram a IA para criar conteúdo e 10%, para conversar sobre problemas pessoais ou suas emoções.
Os dados mostram que o uso da IA generativa cresce à medida que a idade do jovem avança — foi mais comum, por consequência, na faixa etária entre 15 a 17 anos, em que 68% usaram para estudar; 60%, para buscar informações; e 12%, para falar sobre questões pessoais.
— A gente pode considerar que essas ferramentas estão disseminadas. Em outros indicadores da série histórica a gente via que os mais velhos tendem a usar mais esse tipo de ferramenta. Agora, a gente passa a investigar esse tipo de interação, inclusive em relação à saúde, não só de busca de informações sobre a saúde, mas de questões emocionais. A gente não faz uma avaliação se isso é bom ou ruim, porque a gente não sabe como é essa conversa, mas essa interação é importante e entra numa agenda de políticas de privacidade, de adequação dessas plataformas para etapas de desenvolvimento, para a idade. A IA pode ampliar oportunidades de fazer buscas, mas pode colocar riscos por gerar essa interação, trazer uma proximidade — afirma Luisa Adib.
De maneira geral, em 2025, 81% de crianças e adolescentes usaram a internet para fazer trabalhos escolares e 70%, para buscar informações sobre temas que lhes interessam. A pesquisa mostra ainda que 48% recorreram ao ambiente digital para ler ou assistir a notícias, enquanto 31% procuraram informações sobre saúde. Em relação a finalidades mais ligadas à criatividade, um terço dos mais jovens disse ter produzido vídeo, música ou imagem e postado na Internet (33%), e um quinto (20%) ressaltou ter escrito e postado suas ideias e pensamentos online.
Ao longo da série histórica da Tic Kids Online Brasil, as atividades multimídia se destacaram como as práticas mais comuns de crianças e adolescentes na internet. Mas a edição de 2025 traz, pela primeira vez, um levantamento sobre os tipos de conteúdo online consumido pelos mais jovens. Entre os usuários de 9 a 17 anos, 46% afirmaram ter visto vídeos de influenciadores digitais “mais de uma vez por dia”, e 35% citaram o consumo diário de séries, filmes ou programas na internet.
Ainda nesse tema, 29% dos entrevistados reportaram que assistem “mais de uma vez por dia” a vídeos ou tutoriais que ensinam a fazer coisas de que gosta, e 23% disseram ver vídeos de pessoas jogando videogame online.
Os dados apontam, ainda, que o WhatsApp é a plataforma digital acessada com mais frequência pelos usuários de 9 a 17 anos no país — 53% afirmaram usar o aplicativo de mensagens “várias vezes ao dia” e outros 15%, todos os dias ou quase diariamente. Na sequência, vêm o YouTube e o Instagram, utilizados várias vezes ao dia por 48% dos entrevistados. Já o TikTok faz parte da rotina diária em “vários” momentos de 46% deles.
O estudo ressalta que quase a totalidade (99%) dos usuários de 15 a 17 anos possuem um perfil em pelo menos uma plataforma digital investigada. Entre os brasileiros de 9 a 10 anos, a proporção é de 64%. No cômpito geral, 85%.
A pesquisa ouviu 2.370 crianças e adolescentes e 2.370 pais ou responsáveis, em entrevistas face a face, de março a setembro deste ano.

