Com discursos curtos, um olhar firme e sempre cercado por um forte esquema de segurança, o presidente do Equador, Daniel Noboa, foi reeleito no domingo com o compromisso de dobrar a aposta para enfrentar o narcotráfico. Com pouca experiência política, Noboa, que já detinha a marca de presidente mais jovem da história do Equador, ao ser eleito em 2023 aos 35 anos, conquista seu segundo mandato aos 37 — quebrando a escrita de derrotas de seu pai, Álvaro Noboa, um bilionário do setor bananeiro que tentou, mas nunca conseguiu chegar ao poder.
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— Esta vitória foi histórica, uma vitória de mais de 10 pontos — disse a apoiadores no domingo, quando os resultados oficiais já apontavam sua vitória sobre a opositora Luisa González, que não reconheceu a derrota, acusando fraude eleitoral.
Nascido nos Estados Unidos e formado em prestigiadas universidades estrangeiras, Noboa foi eleito pela primeira vez em 2023, para completar o mandato de Guillermo Lasso, até maio deste ano. Apesar de se definir como de centro esquerda, venceu com o apoio de parte da direita, definiu como prioridade o combate ao tráfico de drogas e adota uma economia neoliberal.
Os narcotraficantes “nunca imaginaram que eu teria colhões para declarar guerra contra eles”, disse à revista New Yorker em junho.
A ofensiva contra o narcotráfico rendeu-lhe amplo apoio. O projeto de combate incluiu o envio de militares às ruas e dentro das prisões, onde exibiu presos seminus, o que lhe rendeu comparações com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele — mas também críticas sobre o abuso da força pública durante os prolongados estados de exceção e pela declaração de conflito armado interno.
Noboa afirma ter diminuído a taxa de homicídios do recorde de 47 para cada 100 mil habitantes, em 2023, para 38 para cada 100 mil, em 2024 — ano em que o Equador foi o país da América Latina com maior número de homicídios proporcionalmente à sua população, segundo o ‘think tank’ Insight Crime.
— Nós não somos uma promessa. Nós somos uma realidade — afirmou.
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Apesar de sua posição política autodeclarada, Noboa investiu em contatos com líderes de direita e manteve uma relação turbulenta com governos de esquerda na região. Ele buscou apoio do presidente americano, Donald Trump, na luta contra o crime, e não descarta autorizar a construção de bases militares estrangeiras no país, hoje proibidas por lei. Além disso, anunciou uma aliança com Erik Prince, fundador da polêmica empresa americana de segurança Blackwater, cujos funcionários mataram e feriram dezenas de civis no Iraque.
— Precisamos de mais soldados para lutar nesta guerra — disse Noboa à rede britânica BBC. — Setenta por cento da cocaína mundial sai pelo Equador, precisamos da ajuda das forças internacionais.
Em contrapartida, o presidente rompeu laços diplomáticos com o México após ordenar uma incursão policial na embaixada do país em Quito para capturar o ex-vice-presidente correísta Jorge Glas, condenado por corrupção.
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Ao passo em que lança advertência a criminosos nas áreas mais perigosas do país do alto de um tanque de guerra e vestindo colete e capacete à prova de balas, o presidente também aparece para os eleitores com roupas esportivas, guitarra acústica e cantarolando em inglês músicas dos Goo Goo Dolls no Instagram — onde se mostra como um católico devoto. A construção de imagem também conta com participação de sua esposa, Lavinia Valbonesi, uma influencer de 26 anos, mãe de dois de seus três filhos.
Em seus comícios, apoiadores de Noboa fazem fila para conseguir imagens distribuídas por sua equipe, do presidente em tamanho real— a figura com os braços cruzados, de bermudas ou uma roupa informal, foram usadas pela oposição para chamá-lo de “presidente de papelão”.
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O círculo íntimo do presidente é formado por amigos do colégio e alguns deles fazem parte de sua equipe de trabalho. Pessoas próximas dizem que ele é um homem de rotina e disciplina, seguindo uma dieta balanceada, correndo até 10 km por dia, tomando shakes de proteína e poucas vezes dormindo tarde.
Mas é de figuras com quem teve relação próxima que surgem algumas das acusações pessoais que ferem a imagem do presidente. Sua ex-esposa, Gabriela Goldbaum, o acusou perante o Congresso de machismo e violência vicária (praticada contra terceiros para atingir a mulher), ao usar a filha que os dois têm em comum para lhe causar “dor”. A empresária diz ter apresentado dezenas de ações contra ele por impedi-la de se comunicar com a menina de cinco anos, entre outros abusos.
Esta não é a única denúncia contra Noboa: a vice-presidente Verónica Abad, eleita juntamente com ele na chapa vencedora em 2023, o acusa de violência de gênero por suas tentativas para afastá-la do cargo.
