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‘Desde criança sou fissurado por ele’

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outubro 23, 2025
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Mia Goth vive Clarie Frankenstein no filme, e Christian Convery está no papel do jovem Victor — Foto: Divulgação/Ken Woroner/Netflix

Em seu discurso de agradecimento pela vitória de melhor direção no Bafta, o prêmio da Academia Britânica de Cinema, pelo filme “A forma da água” (2018), Guillermo del Toro enumerou uma série de influências pessoais, de Stan Laurel a Charles Chaplin. Mas não esqueceu de reconhecer o valor de Mary Shelley (1797-1851) em sua filmografia. Segundo ele, a autora de “Frankenstein ou o Prometeu moderno” (1818) é “a figura mais importante do legado inglês”: “Ela continua sendo uma figura tão importante na minha vida quanto um membro da minha família. Sempre penso nela quando me dizem que contar as histórias que sonho é impossível. Ela assumiu a difícil situação de Calibã (personagem monstruoso da peça ‘A Tempestade’, de Shakespeare), deu peso ao fardo de Prometeu (titã da mitologia grega punido por Zeus por ter entregue o fogo aos homens), deu voz aos que não têm e presença ao invisível, e me mostrou que, às vezes, para falar sobre monstros, precisamos fabricar os nossos próprios monstros. E as parábolas fazem isso por nós”.

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Quase dez anos depois daquele reconhecimento público do peso da obra da escritora britânica em seu imaginário, o diretor mexicano lança sua visão do romance mais popular da autora, projeto que del Toro acalentava por mais de duas décadas. “Frankenstein”, que chega nesta quinta-feira, 23 de outubro, aos cinemas brasileiros, depois de ganhar pré-estreia mundial no Festival de Veneza, recria a trágica história de Victor Frankenstein, o cientista obcecado pela ideia de criar vida, que paga caro por desafiar as leis da natureza — e de Deus, para os religiosos.

Mia Goth vive Clarie Frankenstein no filme, e Christian Convery está no papel do jovem Victor — Foto: Divulgação/Ken Woroner/Netflix

Protagonizado por Oscar Isaac, no papel do cientista, e Jacob Elordi, que encarna o monstro, o filme reforça o caráter de drama familiar da relação entre criador e criatura, que se beneficiou da passagem do tempo.

— Desde criança sou fissurado por “Frankenstein”, e tudo que fiz na minha carreira é fruto de uma longa curva de aprendizado, que me trouxe ao ponto em que estou hoje. Desde “Cronos” (1992) até agora, todas as feridas do aprendizado, todas as ideias sobre o que é o diretor foram aplicadas. Eu não sabia é que, ao pensar em “Frankenstein” como uma história sobre a relação entre um pai e um filho, ele também se tornaria uma reflexão sobre a paternidade — diz o realizador de 61 anos, autor de fantasias alegóricas como “O labirinto do Fauno” (2006). — Depois que me tornei pai, nos anos 1990, percebi que tinha que ser a história de um segundo pai e de um segundo filho. Ainda bem que soube esperar esse tempo todo pelas condições ideais para fazê-lo agora.

Parábola sobre a fronteira entre a humanidade e a monstruosidade, o livro de Mary Shelley já serviu de fonte para mais de quatro centenas de adaptações, no cinema e na TV, em diversos formatos — a primeira, um curta-metragem mudo, dirigido por J. Searle Dawley, foi produzida pela Edison Studios em 1910. Houve quem seguisse o romance literalmente, como o clássico de terror da Universal Studios lançado em 1931, que tinha James Whale na direção e Boris Karloff no papel da criatura, ou quem usasse o romance para uma paródia dos filmes de horror, como “O jovem Frankenstein” (1974), de Mel Brooks.

Guillermo del Toro, diretor de "Frankenstein" — Foto: Divulgação/John Wilson/Netflix
Guillermo del Toro, diretor de “Frankenstein” — Foto: Divulgação/John Wilson/Netflix

Del Toro investe no drama sobre a solidão, a rejeição e a vingança, no qual um arrogante Vitor aliena todos em torno dele, incluindo a noiva de seu irmão (Mia Goth), e o mecenas que compartilha de seus delírios de grandeza (Christoph Waltz).

O filme de del Toro chega ao público na esteira de refilmagens ou novas versões de personagens clássicos do terror, como o Conde Drácula. Mas o realizador não tinha qualquer reserva à ideia de investir num remake:

— Para mim, uma música já conhecida se torna nova quando um cantor a rearruma e ela se torna tão importante para o ouvinte quanto a versão original. Então a diferença entre uma música dos Beatles e a versão dela criada por Joe Cocker é ótima e renova tudo — compara o diretor, em uma referência a “With a little help from my friends’’. — “Frankenstein” foi escrito por uma jovem inglesa em seus 18, 19 anos, cheia de perguntas que ninguém estava fazendo. É um romance biográfico, inteiramente confessional, às vezes de forma oblíqua, às vezes abertamente. Ela não era católica, e eu sou, ou era. Assim como ela fez, queria fazer perguntas urgentes para mim hoje. E fazê-lo de forma a renovar o texto clássico para as plateias modernas, sem tratá-lo com reverência, mas como algo urgente e vivo, como a própria Mary o concebeu à época.

Em sua releitura, del Toro subverte as estruturas e o enfoque moral e ético do romance original. A ação do filme abre em alguma região gelada do Ártico, onde o livro termina, dando à criatura a chance de contar sua história ao capitão do navio onde Victor foi buscar refúgio. Toda a primeira parte da trama é contada na perspectiva do monstro, criado a partir de pedaços de outros corpos humanos, como prova de uma possível vida eterna, e que acaba tocando o coração de Elizabeth. O cientista é pintado como um artista ensandecido, um homem problemático; a criatura é despida de suas origens grotescas e apresentada não como um monstro pura e simplesmente, mas como um ser inteligente e sensível, ferido física e psicologicamente pelos abusos de seu criador.

Sofia Galasso e David Bradley em cena de “Frankenstein” de Guillermo del Toro — Foto: Divulgação/Ken Woroner/Netflix
Sofia Galasso e David Bradley em cena de “Frankenstein” de Guillermo del Toro — Foto: Divulgação/Ken Woroner/Netflix

A ambivalência se reflete no conceito visual do filme, da aparência do monstro aos cenários.

— Queria uma criatura nova, que nascesse do zero. Muitos outros filmes a imaginaram como resultado de um acidente, mas queria que ela fosse bela, como uma estátua de alabastro, sem aqueles pontos aparentes indicando uma costura de partes de corpos. Até porque Victor criou uma criatura perfeita, do ponto de vista dele. No início, a criatura é um recém-nascido e, à medida que “cresce”, seu guarda-roupa e sua aparência mudam — explica Del Toro, que mostra o cientista atropelando qualquer sentimento moral ou ético ao buscar corpos para sua experiência nos campos de batalha das guerras napoleônicas. — Quando criança, fiquei obcecado pela ideia de que o cabelo da criatura tinha cores diferentes, porque vinha de cabeças diferentes. O personagem vem de pequenas peças sobressalentes.

Del Toro é um cineasta fascinado por figuras monstruosas — ou de representações do lado monstruoso dos seres humanos. “Fui salvo e absolvido por eles porque acredito que os monstros são os santos padroeiros da nossa beata imperfeição, eles permitem e abraçam a possibilidade de errar e viver”, disse o diretor na abertura de seu discurso de agradecimento do Globo de Ouro de 2018, quando conquistou o prêmio de direção por “A forma da água”. A produção audiovisual, em geral, não mede esforços para explorar o medo que essas criaturas inspiraram, mas o mexicano sempre encontra nelas uma forma de humanidade, ao mesmo tempo que denuncia a monstruosidade dos humanos. O romance de Mary Shelley lhe oferece a chance de explorar isso no contexto belicoso do presente.

— A questão central que o livro se propõe a fazer é: o que é o ser humano, o que nos torna humanos? Não há tarefa mais urgente hoje em dia do que saber permanecer humanos, quando tudo nos empurra para uma compreensão bipolar da nossa humanidade, o que é totalmente artificial — argumenta o diretor. — O ser humano tem características multicromáticas, ele é capaz de ser negro, branco, cinza e todas as cores entre um e outro. Acho que o filme tenta falar de personagens imperfeitos e do direito de permanecer imperfeito, e do direito de nos entendermos dentro das circunstâncias mais opressivas. E isso é importante para qualquer um que deseja preservar sua alma nos tempos em que vivemos. A resposta que a arte traz é o amor.

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