Anote o número: 88. Esse é o total de entidades do setor empresarial que assinaram um manifesto pedindo a derrubada integral dos vetos de Lula à lei de licenciamento ambiental — que combatiam os piores retrocessos propostos, como desmontar a Lei da Mata Atlântica, o autolicenciamento para empreendimentos de médio porte (equivalente ao tamanho da barragem rompida em Brumadinho) e o cheque em branco para que estados e municípios criem suas próprias regras. Mas pior do que apoiar a derrubada dos vetos é ver que muitas dessas organizações vão posar de verdes na COP30. Entidades como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Fiesp participarão ativamente da conferência, mesmo aderindo a algo contrário a tudo o que a COP representa. Se querem contribuir com um futuro sustentável, deveriam começar por não apoiar o desmonte das regras que o tornam possível.
Divulgada anteontem, a oitava carta do presidente da COP, André Correa do Lago, é um chamado, mas também uma derrota. O chamado: a lembrança de que mais de 1 bilhão de pessoas vivem em pobreza aguda — o que tende a piorar sem políticas urgentes de adaptação aos efeitos da mudança climática. O revés: o reconhecimento de que isso precisa ocorrer em função da nossa incapacidade de mitigar o aquecimento global. A adaptação “é a primeira parte de nossa sobrevivência”, escreveu.
Lance inesperado na Islândia: três mosquitos foram capturados em um experimento de campo. O episódio gerou um alerta para as consequências do aquecimento global, já que o país era, junto com a Antártida, um dos poucos sem esses insetos, que se desenvolvem melhor em temperaturas altas. Esse foi o primeiro registro de mosquitos no ambiente natural na Islândia.
Petróleo na foz: o gol contra do Brasil
A COP30 vive novo drama com a concessão da licença do Ibama para a Petrobras perfurar petróleo na bacia da Foz do Amazonas. Crescerão as pressões para que a conferência avance na eliminação gradual dos combustíveis fósseis, ainda mais depois que o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou morta a meta de limitar o aquecimento global em 1,5°C. Acontece que o tema nem sequer está na agenda da COP e, para que entre, será necessária a intervenção pessoal de Lula, num discurso que fará no dia 7 de novembro na Cúpula de Líderes. Neste momento, seu apetite para isso é mínimo.
Correndo por fora: a Petrobras e a perfuração
Enquanto isso, a sociedade civil espera conseguir na Justiça uma liminar para suspender a perfuração no bloco 59. A ação tem um parecer inédito da organização de advogados eLaw mostrando que a Petrobras e o Ibama desconsideram dois problemas cruciais em caso de derramamento: as correntes que levariam o óleo para cima dos recifes amazônicos e os sedimentos na água que fariam o petróleo afundar, atingindo o ecossistema. O pedido foi protocolado na Justiça Federal do Pará na última quarta-feira.
Olho no lance: a Shell e o supertufão
A britânica Shell também foi notificada, nesta semana, sobre um processo que será aberto contra ela na Justiça inglesa. A ação, em nome de 67 cidadãos filipinos, a responsabiliza por seu papel na causa do supertufão Odette, de 2021, que matou mais de 400 pessoas e destruiu 1,4 milhão de casas no país. O argumento é que a Shell foi responsável por 2,5% das emissões globais de combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial, enquanto as Filipinas emitiram só 0,2%.

