Aos 24 anos de idade, a cantora paraense Zaynara, ponta de lança do estilo beat melody, deu o seu passo mais firme, às 21h desta quinta-feira, “para que as pessoas conheçam mais de mim em termos de som e como artista mesmo”: o lançamento do seu segundo álbum da carreira, “Amor perene”.
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É o disco que tem tudo para levá-la ao Brasil inteiro, dias depois de ter dividido o palco com as conterrâneas (e suas referências artísticas) Joelma, Dona Onete e Gaby Amarantos em shows do festival The Town (e São Paulo) e do Amazônia Live (celebração fluvial em Belém, que ainda teve a participação da diva americana Mariah Carey).
— Mas eu ainda tô aqui em Belém, passando calor, tomando tacacá, comendo açaí… talvez em algum momento que talvez isso mude, mas por agora tô aqui! — brincava ela, em entrevista por Zoom. — E no domingo, a gente vai ter o Círio (de Nazaré), então tá todo mundo aqui com a casa cheirando a maniçoba, todo mundo preparado!
Para ela, os show no The Town e no Amazônia Live foram ocasiões mais do que simbólicas:
— Eu me vi ali representando os artistas da minha geração. Quando subo no palco, levo comigo não só a minha música, mas a música que a galera faz hoje no Pará, para mostrar mesmo o quanto a gente é potente, o quanto tem de coisa boa que as pessoas ainda precisam conhecer e irão conhecer.
E, para dar continuidade a esse movimento com “Amor perene”, ela se decidiu por uma estratégia bem singular: a de fazer um disco que fluísse assim como os rios da Amazônia.
— Eu estava com essa coisa na cabeça há um tempinho já, por eu ser de um lugar que é em beira de rio. Queria muito trazer essa essa minha vivência, e aí eu fui levando o álbum por esse caminho — conta. — Fiz muito essa correlação entre rio e relacionamentos, sejam eles amorosos ou não. Todos eles têm segmentos de cheias e de secas, mas sempre me preocupei com que o nosso cuidado e o nosso amor para com a gente mesmo fosse perene. A música “Eu não gosto de errar”, por exemplo, é muito sobre a administração de sentimentos. Ela fala sobre se perceber quando errou, como errou e o que se vai fazer dali para frente.
Essa pororoca de sentimentos de Zaynara no disco resultou ainda na sofrência arrocha de “Cinco estrelas” (na qual ela desabafa para o motorista do uber: “tem corrida que não vale a gasolina!”), na apaixonada faixa-título (“tu é nascente que deságua em mim”) e no seu picante funk paranese “Perfume de bôta” (“é DDD 91 / fazendo magiquinha com o bumbum”).
— Nesse disco eu explorei mais ritmos, e estou me mostrando um pouco mais como compositora, com certeza é um passo adiante no meu trabalho — aposta.
Zaynara se esmerou na composição com parceiros como o DJ Bispo Junior (seu colaborador desde o início da carreira, com quem havia feito seu primeiro álbum), a cantora e compositora Julia Joia e o produtor Márcio Arantes (um dos que trabalharam com a carioca Anitta no álbum “Funk Generation”, e que assumiu a produção de “Amor perene”):
— O Márcio foi extremamente respeitoso, entrou de cabeça comigo nos ritmos, ouviu as minhas referências, me ouviu e acho que, com isso, ele fez todo o trabalho ficar mais leve. Consegui experimentar muitos vocais, acho que estou mais madura agora nesse sentido.
E Zaynara ainda promoveu camps de composição para o disco em Recife e em São Paulo:
— Olha que chique, né? Fui sem compromisso, sem me cobrar muito, e adorei a experiência. Sempre gostei de escrever, mas guardava muito para mim as minhas composições. Achei muito interessante poder mostrar as minhas músicas e ter a visão de outras pessoas, outras óticas sobre um mesmo assunto.
A cantora diz ter incluído em “Amor perene” “toda a música que se escuta no Pará, mas que o Brasil já ouviu em algum momento”. Entre os feats do disco, estão craques do brega, como Rafaela Santos (de Pernambuco, em “Aceita meu tchau”) e Tierry (da Bahia, em “Cinco estrelas”). Isso, além da estrela Marina Sena, em “Eu não ligo”.
— Então, o disco tem bachata (estilo da República Dominicana que influenciou muito o pop sertanejo), tem arrocha, tem beat melody… quis trazer tudo que a gente escuta aqui, mas com essa cara mais mais Zaynara — explica. — Consegui trazer até elementos do siriá, que é um ritmo da minha cidade (Cametá). Em “Perfume da bôta” e “Amazônia menu”, os metais de condução são todos de siriá, do mestre Copijó, lá da minha cidade. Queria muito que isso estivesse presente no disco.
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Por via das dúvidas, como de costume Zaynara levou para o estúdio o pai, Nildo, que é baterista.
— Ele sempre foi comigo. Às vezes o produtor pedia uma coisa e eu não entendia, então meu pai entendia o que a pessoa queria, me passava, aí eu entendia. Mas por incrível que pareça, com o Márcio não precisou. Eu entendi a linguagem dele.
Em um ano com álbuns fortes de Gaby Amarantos (“Rock doido”) e de Viviane Batidão (o aguardado “É sal”), Zaynara diz animada.
— Sinto que está mais pesado, a galera se unindo, indo para cima, fazendo o seu trabalho. Acho isso muito legal dos artistas paraenses, como cada um faz algo muito seu. A Gaby veio com um rock doido muito bom. Os artistas daqui já tinham os seus blocos de rock doido nos seus shows, e agora ela vem concretizando isso como um gênero musical também. Isso é só a pontinha do iceberg, do tanto de coisa que tem aqui e que eu quero muito conseguir ir mostrando no decorrer do meu trabalho — conta ela, que diz torcer por talentos locais como Viviane, Carol Lyne, Nirah Duarte (que participou do reality “Estrela da Casa”) e Luê
Quanto aos shows de “Amor perene”, ela não pensa pequeno:
— Tenho um projeto para uma turnê especial, trazendo a experiência completa de um rio, para o começo do ano que vem. Quero fazer o show em barcos mesmo, na água. Vamos ter que achar os lugares para fazer isso!