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editor de ‘Harry Potter’ e Clarice Lispector comemora 50 anos no mercado e agora quer ‘prever o futuro’

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maio 7, 2025
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Paulo Rocco e Madonna, de quem editou obra infantil: “Seu filho se chama Rocco e meu sobrenome é Rocco”, disse ele — Foto: Arquivo pessoal

Paulo Rocco jura que sempre foi “audacioso”. Em 1967, aos 22 anos, ele bateu à porta de Rubem Braga e Fernando Sabino e se ofereceu para gerenciar a editora Sabiá. Como não tinha experiência, o estudante de economia disse que trabalharia de graça. Braga e Sabino toparam.

— Eu nunca tinha ido a uma editora, não tinha nenhuma qualificação para ser gerente. Era só um leitor — recorda Rocco em entrevista na sede da editora que empresta seu sobrenome, no Rio. — No meu primeiro dia, Fernando disse para Rubem: “Acho que esse menino vai dar certo.” “Mas o que ele fez de importante?”, Rubem perguntou. E Fernando: “Já mudou todos os móveis de lugar.” É que eu queria me posicionar como gerente (risos).

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E o menino deu certo mesmo. Em março, Rocco chegou aos 80 anos. Mês passado, sua editora comemorou 50. Nesse meio século, a Rocco se estabeleceu como uma das principais editoras no país, apoiando-se num catálogo plural, no qual no correr das décadas conviveram autores tão diferentes como Chico Anysio e o teórico francês Jean Baudrillard, o Nobel de Literatura Patrick Modiano e Paulo Coelho (“nossa relação sempre foi atribulada, mas somos amigos até hoje”), Clarice Lispector e J.K. Rowling, Lygia Fagundes Telles e Madonna. Nos anos 2000, Rocco editou os títulos infantis da Rainha do Pop e a conheceu num jantar na casa do editor francês Antoine Gallimard.

— Disseram que não podíamos pedir foto nem autógrafo para ela. Levei o livro escondido no paletó e quando vi a filha adolescente do Gallimard pedindo um autógrafo para Madonna, me aproximei e falei: “Nós temos uma coisa em comum. O seu filho se chama Rocco e o meu sobrenome é Rocco.” Ela achou legal e autografou meu livro: “Para o segundo Rocco mais importante da minha vida” — conta ele, que ainda conseguiu uma foto com a popstar.

Paulo Rocco e Madonna, de quem editou obra infantil: “Seu filho se chama Rocco e meu sobrenome é Rocco”, disse ele — Foto: Arquivo pessoal

Segundo o editor, a mistura de best-sellers como “Mulheres que correm com os lobos”, de Clarissa Pinkola, e joias literárias como “A morte de Artemio Cruz”, do mexicano Carlos Fuentes (de quem ficou amigo), conferiu solidez à Rocco, cujo catálogo soma mais de seis mil títulos, dos quais cerca de 2.600 continuam ativos. João Paulo, seu único filho, lembra que o pai sempre diz que a editora não é uma lancha, pequena e veloz, mas um navio, que pode não impressionar pela velocidade, mas avança firme e imponente, sem tombar.

Rocco, o pai, de fato parece capaz de prever para onde vão soprar os ventos editoriais, e assim vai pilotando o navio num mar quase sempre revolto. Ele apostou em Paulo Coelho e “Harry Potter” antes que o mago e o bruxinho se tornassem fenômenos de venda, surfou na onda da fantasia com “Jogos vorazes”, de Suzanne Collins, e, mais recentemente, investiu em ficção de cura, a moda dos livros asiáticos fofinhos. Agora, está lançando livros para o público religioso.

Como homem de negócios, Rocco olha para a política com pragmatismo e se orgulha de nunca ter dependido de compras de governo para manter a editora de pé. Em 2004, ele uniu políticos dos mais diversos matizes para aprovar a lei que isenta a indústria do livro do pagamento do PIS e da Cofins (a imunidade foi mantida pela reforma tributária). Ele era presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros e, para celebrar a vitória, Sergio Machado (1948-2016), presidente do Grupo Editorial Record, mandou confeccionar uma estatueta do colega vestido de São Jorge e matando um dragão. “Paulo Rocco, o exterminador de impostos”, diz uma placa ao pé da estatueta.

Fundador da editora Objetiva, Roberto Feith afirma que, ao lado de Machado e de Luiz Schwarcz (da Companhia das Letras, que incorporou a Objetiva em 2014), Rocco “teve um papel fundamental na profissionalização e consolidação do mercado editorial a partir dos anos 90”.

— Sua característica mais admirável é o bom humor. Nunca vi Paulo de cara amarrada. Talvez esse seja um dos motivos de ele estar aí comemorando, sem deixar passar a oportunidade de uma boa piada, seus 80 anos e os 50 de sua grande criação — elogia Feith, que hoje edita o selo História Real, da Intrínseca. — A competência do Paulo como editor está expressa, concretamente, na forma como conduziu, durante décadas, a publicação de duas grandes autoras: Clarice Lispector e J.K. Rowling. As escritoras, suas obras e seus leitores não poderiam ser mais diferentes, exigindo estratégias totalmente distintas, mas foram e continuam sendo publicadas pelo Paulo com indiscutível eficácia.

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Rocco conta que não pagou caro por “Harry Potter”, lançado por aqui em abril de 2000, em tradução de Lia Wyler — uma edição comemorativa do primeiro volume, “Harry Potter e a pedra filosofal”, com as ilustrações da primeira edição inglesa, de 1996, acaba de aportar nas livrarias. O bruxinho já vendeu cinco milhões de livros no país. J.K. Rowling aprovou as primeiras traduções brasileiras, que voltavam da Inglaterra com comentários nas margens.

Os direitos de publicação de Clarice foram negociados em 1998 com a mítica agente literária espanhola Carmen Balcells (que sugeriu o nome da editora e a quem Rocco ajudou a comprar um apartamento no Rio). À época, a autora de “A hora da estrela” ainda tinha fama de hermética e vendia pouco. Rocco conhecera Clarice na Sabiá.

— Uma vez ela mandou um livro de contos inédito e tinha um repetido. Liguei para avisar e ela disse: “Você acha que alguém vai perceber?” — conta o editor, que se diverte também recordando histórias de seu primeiro emprego. — Um dia eu perguntei para o Rubem: “O que é a velhice?” Ele me xingou um pouquinho e depois disse: “A velhice é o descompasso entre a mente e o corpo.” Até hoje eu lembro o número do telefone dele (e recita o número).

De Fernando Sabino, Rocco ficou muito próximo, tanto que o convidou para ser padrinho de João Paulo, que o escritor mineiro chamava de “Vossa Santidade”. João Paulo tem 39 anos, é designer gráfico e começou fazendo capas para a Rocco. Um dia, o pais quis saber se ele tinha interesse em sucedê-lo dos negócios. Do contrário, venderia a empresa. João Paulo topou e, há pouco mais de uma década, vem se preparando para assumir o comando.

— Antes, meu pai centralizava tudo. Ele decidia que livros íamos fazer, qual seria a tiragem, tudo. Hoje já não é mais assim — conta.

O pai admite que não foi fácil abrir mão do controle total, mas elogia a contribuição de João Paulo aos negócios: foi ele quem sugeriu que a editora investisse mais nas redes sociais e, em vez de correr para lançar tantos títulos, divulgasse melhor o que estava chegando às livrarias.

— Tentei botar um pouco de modernidade. Quando entrei, o nosso site era o mesmo de 1996! Não dava nem para ver as capas direito — explica João Paulo.

Rocco garante que não hesitaria em puxar a orelha do filho se ele fizesse besteira.

— Até agora, não precisei — diz ele, que comemora que sua editora cresce ano a ano (mas sem citar números) e se prepara para assumir um novo papel à medida em que passa o bastão para o herdeiro. — O que mais gosto de fazer é identificar tendências. Brinco que minha função será prever o futuro.

— Ele é o nosso mago — diz o filho, ciente de que, de Paulo Coelho a “Harry Potter”, passando pela bruxaria de Clarice Lispector, a magia foi mesmo um dos ingredientes do sucesso da empresa da família.

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