“É um carro, uma cor, um ronco, um sonho”. Foi com essas palavras que Ayrton Senna resumiu para Galvão Bueno o que significa a Ferrari para um piloto de Fórmula 1, episódio contado recentemente pelo locutor em uma participação na Band. Um sonho que o brasileiro adiou por não ter garantias de um carro competitivo na época e que acabou não realizando em razão do acidente fatal em 1994. Um sonho que outro ícone da categoria – e grande fã de Senna –, Lewis Hamilton, está realizando nesta temporada, aos 40 anos.
Hamilton larga em oitavo no GP do Japão deste domingo, às 2h (horário de Brasília). O britânico é nono colocado no Mundial de Pilotos, com 9 pontos marcados.
Mas será que somente a mística da Ferrari motivou a ida do britânico para a equipe? Ou o heptacampeão fez este movimento, que chocou o mundo da F1, com o sonho de ainda conquistar o oitavo título, que o colocaria isoladamente como o maior campeão de todos os tempos, descolando-se de Michael Schumacher?
— Todos os pilotos têm o sonho de correr pela Ferrari. Independentemente da situação, o sonho sempre continua até, quem sabe, no fim da carreira. Sem dúvida ele foi pelo amor e pelo encanto de virar um piloto Ferrari, mas, logicamente, pela vitória também. Nenhum piloto do nível dele vai para qualquer lugar sem pensar no sucesso — opina o brasileiro Felipe Massa, piloto da Ferrari entre 2006 e 2013.
Desde seu último título com a Mercedes, em 2020, Hamilton teve um carro competitivo apenas na temporada seguinte, quando perdeu a taça para Max Verstappen, da Red Bull, na última etapa. De lá para cá, experimentou anos discretos pela escuderia alemã. Visivelmente desestimulado, encontrou na Ferrari um recomeço aos 40 anos. Com o time italiano, além de tentar superar os pilotos das demais equipes, terá que bater a concorrência de Charles Leclerc, cria da casa e 13 anos mais jovem.
Enquanto nomes como Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Fernando Alonso só realizaram o sonho de pilotar pela Ferrari nas retas finais de suas carreiras, Felipe Massa viveu situação inversa e “deu check” neste desejo cobiçado por todos os pilotos logo quando jovem. Ainda na base, ele ingressou na Academia de Pilotos da Ferrari. Em 2002, fez sua estreia na F1 na Sauber, apoiado pela montadora. E virou piloto titular da escuderia italiana em 2006.
— A hora que você vira piloto oficial é algo completamente diferente. Foi a realização de um sonho. É algo difícil de explicar, mas é um grande prazer ter feito parte dessa dimensão de ser um piloto Ferrari — completa Massa.
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Maior campeã da F1, a Ferrari não fatura o título do Mundial de Pilotos desde 2007, com Kimi Raikkonen, e de Construtores desde 2008. A reta final de 2024, porém, deu esperança de dias melhores. A escuderia brigou pelo título entre as equipes até a última corrida e terminou com o vice-campeonato, atrás da McLaren.
Mas 2025 não começo da mesma maneira. Enquanto a McLaren, de Lando Norris e Oscar Piastri, deu passos adiante em termos aerodinâmicos em seu MCL39 e desponta como grande favorita na temporada, a Ferrari ainda não deu sinais de evolução com seu SF-25 e parece estar um degrau abaixo neste início de temporada. A maior preocupação é uma questão estrutural do carro, relacionada à adaptação da caixa de câmbio.
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Além disso, Hamilton já experimentou os sabores e dissabores de pilotar pela tradicional escuderia. Em sua estreia, na Austrália, terminou apenas em décimo após um erro de estratégia da equipe. Na segunda etapa, na China, sentiu o gostinho de vencer com o macacão vermelho ao faturar a sprint. Na corrida principal, porém, foi sexto, mas foi desclassificado por uma irregularidade no assoalho do carro.
— Vi alguém dizendo que eu estava perdendo fé na equipe. Besteira total — garantiu o inglês em Suzuka, palco do GP do Japão deste fim de semana. A corrida é domingo, 2h (de Brasília).
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Com esse início conturbado, as chances do sonho do octa de Hamilton acontecer ainda em 2025 se reduzem. Há, porém, uma grande janela de oportunidade a partir da próxima temporada, quando haverá uma mudança drástica no regulamento técnico, com a introdução de uma nova geração de carros. Serão mais leves e compactos, com menor distância entre eixos e largura reduzida. O DRS será substituído por asas móveis dianteira e traseira, permitindo alternar entre modos de alto e baixo arrasto. As mudanças visam aumentar a competitividade e reduzir o impacto ambiental da categoria. E a equipe que largar na frente, poderá dar início a uma nova dinastia.