Em meio a uma forte reorganização do negócio para recuperar os resultados globalmente e num cenário desafiador ao setor automotivo diante da nova política tarifária do governo de Donald Trump, a Nissan planeja fazer de sua fábrica de Resende, no Sul Fluminense, uma plataforma de exportação para até 20 países da América Latina.
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Em novembro de 2023, a montadora japonesa anunciou um investimento de R$ 2,8 bilhões na unidade para permitir a produção de dois novos veículos utilitários esportivos (SUVs) e um novo motor turbo.
A fábrica está agora pronta para iniciar nas próximas semanas a produção da nova geração do Kicks (hoje produzido apenas no México), o que deverá ocorrer nas próximas semanas, e de um novo motor turbo. Atualmente, a filial no Sul Fluminense já fabrica o Kicks Play para o mercado nacional, além de Argentina e Paraguai.
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Um segundo SUV será lançado até março de 2026, cujo modelo é mantido em segredo pela empresa. Como será produzido apenas no Brasil, ele será vendido para até 20 países da América Latina.
— O Brasil representa 20% das vendas na América Latina. Nos dois últimos anos, crescemos acima da média do mercado — diz Guy Rodríguez, presidente da Nissan América Latina. —Seremos um hub de exportação. Temos dois SUVs planejados: o Novo Kicks e outro que será fabricado só aqui. Daí o plano de exportar para até 20 países na América Latina — acrescentou, frisando que a região equivale a 15% das vendas globais.
Nesta terça-feira, a nova plataforma de produção foi inaugurada com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na fábrica em Resende.
Não há planos de exportar de Resende para os Estados Unidos, maior mercado da Nissan no mundo. Tanto Rodríguez quanto Gonzalo Ibazábal, presidente da Nissan do Brasil, evitam comentar efeitos do tarifaço de Trump para o setor e a montadora.
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— O mercado global sempre vai ter desafios. Teve a Covid, a falta de peças, o problema de logística, de semicondutores. Agora, estamos olhando para os nossos produtos, com foco em oferecer o melhor a nossos clientes, redução de custo, focar no que já fazemos bem — diz Ibazábal.
Rodríguez, no entanto, destaca que 92% do que a Nissan vende na América Latina são produzidos na região.
No início de abril, a Nissan Motor, nome da holding da montadora, substituiu Makoto Uchida, seu CEO desde 2019, por Ivan Espinosa, até aqui diretor de Planejamento da companhia.
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Em meio a um tombo nos lucros e planos de redução de operações para reestruturar o negócio, no fim do ano passado, a Nissan chegou a negociar uma fusão com a Honda, que daria origem a um dos maiores grupos do setor automotivo no mundo. A transação, no entanto, acabou não saindo após a Honda propor fazer da Nissan uma subsidiária.
Os esforços para retomar o crescimento do grupo incluem mudanças na América Latina. Em março, com foco em ganhar agilidade para responder com mais rapidez a mudanças de mercado, a Nissan anunciou que vai concentrar a produção das picapes Frontier e Navara no México, descontinuando a linha que mantém hoje em uma instalação da parceira Renault na Argentina.
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Na Argentina, permanecem as operações comerciais, com a rede de distribuição de veículos e concessionárias. Ainda assim, Rodríguez diz estar confiante nas mudanças em curso na economia no país sul-americano:
— A indústria argentina está crescendo, a inflação está baixando. E isso vai tornar a taxa de financiamento (de veículos) menor. O Kicks do Brasil vai para lá — diz ele. — O Brasil já é o sétimo mercado (dentre 160 países) para a Nissan no mundo e com perspectiva de crescer.
No ano passado, a Nissan registrou alta de 21% em vendas no Brasil na comparação com 2023, com 87.441 unidades comercializadas. O avanço veio após um crescimento de 35% no ano anterior.
Com isso, a montadora estima alcançar 7% de participação de mercado no país, diz Ibazábal, sem precisar em que prazo. É o dobro da taxa registrada o último ano.
Em Resende, a meta é, a partir da produção do novo Kicks ocupar a capacidade ociosa da fábrica que hoje opera em dois turnos, com 70% de aproveitamento. A unidade produz 24 carros por hora (até aqui integralmente do modelo Kicks Play), podendo chegar a até 32 por hora.
Para a expansão da plataforma, a Nissan está contratando mais 400 pessoas, sendo 297 apenas na linha de produção. Ao todo são dois mil funcionários diretos em Resende, alçando três mil ao incluir os indiretos.
Houve também avanço em automação, com o uso de 98 novos robôs, totalizando quase 170, além da inclusão de outros 29 veículos autoguiados (AGVs), somando mais de 200 na fábrica, que carregam peças e plataformas dentro da unidade.
Segundo Rodríguez, que lidera a Nissan na América Latina, o Mover, programa do governo federal para modernização do parque fabril e da produção das montadoras com foco em inovação e descarbonização, ajuda na expansão da indústria por meio da captação de investimentos para o país.