A nova era da inteligência artificial (IA), cada vez mais personalizada, capaz de sugerir ações e atuar quase como um assistente invisível dos usuários, começa não só a redesenhar o papel dos dispositivos no dia a dia, como também a reforçar a importância da conectividade.
O smartphone, até aqui protagonista absoluto, passa a dividir espaço com fones de ouvido, relógios e laptops nas mudanças que estão acontecendo na indústria de tecnologia. São dispositivos que incorporam cada vez mais funções e vão ganhar novo protagonismo com a chegada do 6G.
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Depois dos avanços do 5G, a sexta geração de telefonia e internet móvel pode alcançar velocidades até 100 vezes maiores que as da atual rede 5G.
Foi nesse cenário que a Qualcomm anunciou que os primeiros aparelhos comerciais preparados para o 6G devem chegar ao mercado no início de 2028. A previsão foi durante o Snapdragon Summit, evento da empresa americana de chips e processadores para dispositivos móveis, realizado esta semana no Havaí.
— A conectividade passa a ter um papel ainda mais crucial. Afinal, é ela que garante a ponte entre a nuvem e os dispositivos. Para a era da inteligência artificial, as redes precisam evoluir e se tornar nativamente projetadas para IA, com novos níveis de eficiência e resiliência. É nesse ponto que entra o 6G, a próxima geração de conectividade, desenvolvida justamente para conectar a nuvem aos dispositivos na ponta — disse Cristiano Amon, CEO da Qualcomm durante o evento.
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Segundo o executivo brasileiro, diferente do 5G, o 6G não apenas amplia velocidades, largura de banda e capacidade de dados, mas também se torna uma rede inteligente, com percepção e capacidade de lidar com informações vindas de sensores:
— Essa nova infraestrutura vai possibilitar casos de uso inéditos, criando experiências que unem o mundo físico e o digital.
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Até agora, relógios inteligentes, óculos e fones de ouvido serviam apenas para estender as funções do telefone. Mas agora a lógica é outra: com a IA como interface central, a experiência se transforma.
— Isso significa que esses dispositivos deixam de ser meros acessórios do celular e passam a interagir diretamente com a IA. Um novo ecossistema será criado à medida que esses equipamentos funcionem em conjunto.
Rick Osterloh, vice-presidente sênior de Dispositivos e Serviços do Google, lembrou que a forma como o usuário vai interagir com os dispositivos se tornará muito mais natural. Ele destacou que hoje a principal forma de interação das pessoas com celulares, relógios e outros dispositivos é através do Gemini, a IA desenvolvida pelo Google.
— Depois de realizar tarefas usando a voz, agora é possível compartilhar a tela ou transmitir vídeo ao vivo, mostrando seu contexto em tempo real para obter os resultados, informações e ações desejadas. Além disso, estamos usando uma arquitetura híbrida, com modelos locais rodando diretamente no dispositivo. O Gemini Nano V3, recém-lançado, realiza tarefas como detecção de escaneamento durante chamadas telefônicas, rodando localmente no aparelho.
Adobe: modelo próprio de IA com base no usuário
Shantanu Narayen, diretor executivo da Adobe, deu alguns exemplos de como a IA, potencializada com o 6G, vai alterar a rotina dos usuários. Ele diz que uma pessoa estará andando com seus óculos conectados a um modelo e diz: “gostei muito desta cena. Quero usar isso no meu projeto.”
— E você chama o agente da Adobe, com uma interface conversacional, e diz ‘por favor, faça essas alterações para mim’. Também acho que vamos ver pessoas começando algo em um dispositivo, completando no celular, recebendo informações dos óculos, voltando para o PC. E isso vai se estender à criatividade. Com os modelos de linguagem grande, as pessoas poderão descrever o que querem como resultado.
Narayen ressalta ainda a possibilidade de integrar essas novas interfaces com o Gemini e ChatGPT, associados a novos processadores em diferentes dispositivos.
— E você começa a ter uma coleção de modelos, como o Firefly 5, com modelos muito especializados e a capacidade de rodá-los em qualquer lugar, inclusive nos dispositivos na ponta. Acredito que a forma como a IA vai escalar será com a nuvem e a ponta trabalhando juntas como uma só.
Segundo o diretor da Adobe, a importância de rodar nos próprios aparelhos vai permitir uma experiência mais pessoal:
— Todos nós temos muitos documentos em nossos computadores. Com a ligação entre nuvem e dispositivo, a IA terá um pequeno modelo de linguagem, um modelo personalizado para mim. A maioria das pessoas tem um estilo criativo associado ao seu trabalho. O que estamos desenvolvendo é a capacidade de criar um modelo Firefly personalizado baseado em todo o meu portfólio. Ou seja, posso dizer ‘aqui estão todos os meus dados, crie para mim, no dispositivo, um pequeno modelo que contenha todo o meu portfólio com meu estilo’. Assim, quando começar um novo projeto, posso dizer: Mostre como isso ficaria usando meu modelo’.
* O repórter viajou a convite da Qualcomm