A longa espera pela nova e imponente sede do Museu da Imagem e do Som (MIS), em Copacabana, está perto do fim. A expectativa é de que as obras — iniciadas em 2011 e permeadas por atrasos e paralisações — sejam concluídas até o fim do ano, e a abertura do museu ao público aconteça ainda no primeiro trimestre de 2026. Perto dali, no mesmo bairro, o aguardado início da reconstrução do icônico Teatro Villa-Lobos, consumido por um incêndio em 2011, começa a ser desenhado a partir da aprovação de um projeto em caráter especial para captação de recursos via Lei Rouanet.
As duas ações fazem parte de um pacote de investimentos em cultura estimado em R$ 1 bilhão, que vem sendo conduzido pelo governo do estado nos últimos anos. Essas e outras iniciativas foram tema de debate realizado, ontem, pelo GLOBO, no ciclo Diálogos RJ, que nesta edição teve como tema a “Cultura em movimento”.
— A obra do MIS passou por muitas paralisações. Em alguns momentos, parecia que ela não iria adiante. Concluir este museu representa a superação desses desafios e a reafirmação do compromisso do estado com a cultura — disse Danielle Barros, secretária estadual de Cultura e Economia Criativa. — A entrega do MIS à população do Rio coroa um ciclo de investimentos que temos feito na cultura ao longo dos últimos anos.
A previsão é que, ainda este ano, sejam realizadas visitas e pequenas atividades no novo MIS. Até março do ano que vem, será dado início ao desenvolvimento da museografia propriamente dita, que envolve, entre outras atividades, a curadoria, a montagem de exposições e os equipamentos internos. Nem todo o acervo do museu — composto por centenas de milhares de itens — poderá ser levado para Copacabana. Algumas peças precisam ficar armazenadas em condições especiais, na Lapa e na Praça Quinze, longe da maresia, por exemplo.
— O novo MIS será uma vitrine para turistas e cariocas, reforçando o protagonismo do Rio no audiovisual e na produção simbólica brasileira. Mas é importante lembrar que a Fundação (Fundação Museu da Imagem e do Som, FMIS) continuará atuando em sua sede na Lapa, que também está sendo reformada e vai incorporar a área da antiga escola Maria Olenewa, ampliando em 200% a capacidade de guarda de nossas coleções — explicou Cesar Miranda Ribeiro, presidente da FMIS.
A secretária Danielle Barros e o presidente da FMIS participaram da primeira mesa de debates do Diálogos RJ, que teve como tema “Do Sambódromo ao MIS: a potência das culturas do Rio”. O peso da indústria criativa na economia foi um dos pontos tratados na conversa, que contou ainda com a participação de Clara Paulino, presidente da Fundação Theatro Municipal.
Para se ter uma ideia da importância econômica do setor — para além da incalculável relevância simbólica e de formação humana embutida nas atividades culturais —, o Mapeamento da Indústria Criativa 2025, divulgado na semana passada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), aponta que o segmento responde por 5,2% do PIB estadual, a segunda maior participação entre os estados.
No contexto de fortalecimento desta corrente econômica, o pacote de investimentos do estado na recuperação de equipamentos culturais incluiu reformas de fôlego tanto na capital quanto no interior. O Teatro João Caetano, palco carioca mais antigo em atividade, com uma história que remonta ao ano de 1813, teve toda sua parte elétrica refeita e o sistema ar-condicionado trocado; os teatros Armando Gonzaga (Marechal Hermes) e Mário Lago (Vila Kennedy) passaram por reforma completa. O restauro do Parque Lage está sendo finalizado, e o Imperator, no Méier, também passa por obras. De acordo com Danielle Barros, também estão em curso conversas para que seja ocupado o antigo prédio da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), hoje vazio, ao lado do teatro da Vila Kennedy, que pode ser transformado em um novo espaço cultural.
— A gente buscou contemplar desde o Theatro Municipal até a Casa Euclides da Cunha, que fica lá em Cantagalo (cidade da Região Serrana com pouco menos de 20 mil habitantes, segundo o Censo 2022, do IBGE) e que é tão importante para aquela população como o Municipal é aqui na cidade do Rio de Janeiro para todos nós. Porque lá é o único equipamento cultural do estado e estava fechado, mas agora, está de portas abertas — contou a secretária.
Joia da coroa quando o assunto são os equipamentos culturais do estado, o Municipal tem experimentado um crescimento no seu público. Em resposta a uma pergunta formulada pelo mediador dos debates, o jornalista Rafael Galdo, editor de Rio do GLOBO, a presidente da Fundação Theatro Municipal afirmou que a frequência aumentou 60%.
— Atualmente os espetáculos ficam, em geral, lotados, o que fez com que a gente tivesse uma ação de colocar uma tela fora do Theatro Municipal para fomentar esse acesso para quem não consegue adquirir o ingresso — disse Clara Paulino, destacando ainda o programa de formação por meio da patrocinadora master do Theatro, a Petrobras, e do Projeto Escola, que leva alunos de todo o estado para assistir a espetáculos e acaba atraindo também o interesse de seus pais.
Em suas considerações finais, Danielle Barros disse que um dos seus sonhos na pasta da Cultura e Economia Criativa é conseguir que todas as 92 cidades do estado tenham pelo menos um equipamento cultural em funcionamento.
A cultura no interior foi o mote da segunda mesa do dia do Diálogos RJ. Com o tema “A força das experiências regionais”, o painel teve a participação de Conceição Diniz, assessora-chefe da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro; Hingo Hammes, prefeito de Petrópolis; Rodrigodraw Miguel, criador do Serra Comics, e Big Joe Manfra, diretor técnico do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival.
De acordo com Conceição Diniz, só no ano passado 138 projetos foram realizados com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, num total de R$ 230 milhões de investimentos. Este ano, até o início de julho, já são 60 projetos contabilizados, com R$ 120 milhões investidos.
— Nós estimulamos os empresários e os proponentes locais a entrarem com seus projetos, porque isso traz mais recursos culturais para o município. É importante deixar claro que isso é um investimento que se multiplica. Ele impacta não só quem está diretamente envolvido no projeto, mas toda a cadeia produtiva que gira em torno da cultura — disse o prefeito Hingo Hammes.