“Eu queria me relacionar com a direita dessa forma”, disse Wagner Moura na coletiva de imprensa da peça “Um julgamento – depois do Inimigo do Povo”, que estreia em Salvador no próximo dia 3, sob direção de Christiane Jatahy.
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A frase do ator, dita no Trapiche Barnabé, na capital baiana, onde aconteceu o encontro, respondia à uma pergunta sobre como o espetáculo, que traz questões sobre o papel da direita e da esquerda, dialoga com o Brasil atual.
— Enquanto a gente fala que quer justiça social, a direita faz perguntas muito diretas, como: “Ok, quem vai pagar pelo que você estar querendo?” — afirmou Moura, continuando sua reflexão. — Queria ter essa conversa, mas a gente não consegue, é um negócio de “toma o visto dele”.
O ator também comentou sobre a angústia que sente diante do que classificou de falta de apoio do governo atual à cena teatral baiana.
— Lamento que isso esteja acontecendo em dois governos sucessivos do PT. Governo de esquerda tem que apoiar a cultura. Teatro depende de incentivo público. Quando eu comecei, havia uma ebulição na cena, e era no governo Antonio Carlos Magalhães. Acho ruim que jovens atores baianos que estão se formando tenham como referência artistas que são do Rio. A gente precisa que o governo chegue junto não só na Bahia como no Brasil. O teatro na Bahia está abandonado. A gente precisa disso.
Moura comentou ainda o que passou em sua cabeça na véspera, no domingo (21), assim que subiu ao trio de Daniela Mercury na manifestação contra a PEC da Blindagem e projeto da anistia aos apoiadores da tentativa de golpe.
— Fiquei pensando nos caras que a polícia rodoviária parava de moto para que fossem impedidos de votar (nas últimas eleições presidenciais). Eles desceram e foram andando para votar. Isso é uma compreensão muito bela da democracia. Muito mais do que os caras que disseram no Congresso: “Não, a gente aqui julga a gente mesmo”. Perderam a vergonha e as manifestações de ontem foram uma reposta muito clara.
Wagner Moura fez questão de estrear a peça — um texto inteiramente novo escrito por Christiane Jatahy, Lucas Paraízo e pelo próprio ator — a partir do clássico “O inimigo do povo”, de Henrik Ibsen — com que volta aos palcos após 16 anos longe da ribalta em sua cidade natal. Foi lá que ele encerrou a temporada de seu último espetáculo, “Hamlet”
— É como a cobra que come o próprio rabo. Terminei “Hamlet” aqui e agora começo outro espetáculo em Salvador, que é onde está meu axé, onde me sinto acolhido. Sou o que sou no mundo porque venho daqui.
Uma curiosidade: dois dos três filhos de Wagner fazem uma participação no espetáculo por meio de um vídeo.