Fontes militares ouvidas pela imprensa israelense afirmaram nesta sexta-feira que as Forças Armadas de Israel foram instruídas a retransmitir o pronunciamento do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu — que abre a sessão desta manhã da Assembleia Geral da ONU — na Cidade de Gaza, palco da principal ofensiva do Estado judeu contra o enclave palestino. As informações foram publicadas pelo jornal Haaretz e pelo Canal 12. O Ministério da Defesa de Israel e o comando das Forças Armadas não se pronunciaram sobre as reportagens.
- Expectativa: Netanyahu usará discurso na ONU para condenar líderes internacionais que reconheceram a Palestina
- Antes de reunião com Netanyahu: Trump afirma que ‘não permitirá’ que Israel anexe a Cisjordânia
Os militares ouvidos pelos veículos de imprensa afirmaram que a ordem teria partido do gabinete do primeiro-ministro, que instruiu que o discurso ecoasse pelo território palestino a partir de alto-falantes instalados em caminhões e posicionados ao longo da fronteira. O ato foi descrito como um método de guerra psicológica, e foi considerado arriscado.
— É uma ideia tresloucada — disse um oficial militar ouvido pelo Haaretz. — Pessoas de todo o espectro político estão se perguntando que delírio é esse. Ninguém entende o benefício militar aqui.
Uma fonte ouvida pelo Canal 12, citada também pelo Times of Israel, afirmou que o comando militar se mostrou contrário à ordem, alertando que poderia colocar soldados israelenses em risco. Apesar disso, sinalizaram que não irão descumprir a determinação.
O discurso de Netanyahu na ONU é o mais esperado desta sexta, em uma Assembleia Geral que teve o conflito palestino-israelense em destaque. Países europeus reconheceram a Palestina como Estado soberano no começo desta semana, algo que a liderança israelense afirmou que não iria admitir.
Antes de embarcar para Nova York, Netanyahu fez uma declaração pública, antecipando que falaria a
“verdade de Israel” no plenário da ONU, e denunciaria líderes que “em vez de denunciar os assassinos, estupradores e queimadores de crianças”, referindo-se ao Hamas, “querem dar a eles um Estado no coração da Terra de Israel”. O premier disse que não iria admitir a criação de um Estado palestino.
À medida que cada vez mais líderes internacionais se manifestam pelo fim do conflito no Oriente Médio, e condenam às ações militares de Israel — como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a classificar a situação como um genocídio —, autoridades do governo israelense intensificam falas pedindo a ocupação permanente de territórios palestinos.
Na semana passada, o ministro das Finanças israelense, o radical Bezalel Smotrich, afirmou em um evento imobiliário que Gaza era uma potencial “mina de ouro” imobiliária, e que estaria conversando com os EUA sobre a divisão do enclave após a guerra — Trump e seu genro, Jared Kushner, haviam defendido a especulação imobiliária em Gaza no passado. No fim de semana, o governo israelense aprovou o plano de ocupação E1 para a Cisjordânia, que autorizaria a construção de 3.400 casas em um corredor que na prática cortaria o acesso do território palestino a Jerusalém Oriental, ocupada por Israel após a Guerra de Seis Dias, em 1967.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, denunciou a tentativa de colonização dos territórios palestinos em seu discurso na quinta-feira na ONU. Ele condenou o atentado terrorista do Hamas e disse reconhecer o Estado de Israel, mas afirmou que apenas um Estado soberano palestino pacificaria a região. Em uma declaração a parte, o presidente americano, Donald Trump, disse na quinta que não permitiria que Israel anexasse a Cisjordânia.
Enquanto o debate político se aprofunda, a guerra em Gaza continua. Em um comunicado na quinta, o Exército israelense afirmou que 700 mil pessoas deixaram a Cidade de Gaza desde o final de agosto, em meio à ofensiva terrestre. A ONU calculava que um milhão de pessoas viviam na Cidade de Gaza e arredores antes da incursão.
— Desde o início dessa operação, o Exército israelense realizou 2 mil bombardeios contra alvos terroristas na Faixa de Gaza — disse Effi Defrin, porta-voz do Exército, na quinta-feira.
A agência de Defesa Civil de Gaza — uma força de resgate que opera sob a autoridade do Hamas — disse que os ataques israelenses mataram 22 pessoas em todo o território nesta quinta-feira, incluindo cinco na Cidade de Gaza.
As restrições à imprensa no território e as dificuldades para acessar muitas áreas impedem a verificação de forma independente dos números fornecidos pela Defesa Civil ou pelo Exército israelense. (Com AFP)