Filipe Luís completou um ano à frente do Flamengo há um mês, e desde então parece que fechou os olhos e tapou os ouvidos para encarar a reta decisiva da temporada. Mais uma vez após o desempenho ruim da equipe, na derrota para o Fortaleza, disse que vai seguir suas convicções.
Para um treinador que só perdeu 10 jogos nesse período, que mais acerta do que erra, o voto de confiança antes da decisão contra o Racing, na quarta-feira, seria mais do que natural. Mas o pé atrás com Filipe se dá porque o técnico ignora outro mantra, quando não ouve o que o campo fala.
Sem uma equipe titular definida, monta times de acordo com o adversário e não abre mão da maneira do Flamengo de atuar independentemente de quem enfrenta. A postura custou caro no Mundial de Clubes, diante do Bayern de Munique, quando o técnico deixou claro que seguiria suas convicções.
Nesse momento, o Flamengo desperdiçou a chance de reassumir a liderança do Brasileiro por uma derrota que não passou exatamente pelo técnico. Foram seis desfalques, o mais sentido deles de Pedro, que fraturou o braço e não vai jogar contra o Racing. E aí, o que Filipe Luis faz?
Depois de o Brasil inteiro ouvir que Bruno Henrique prefere não jogar de centroavante, o jogador é escalado na função contra o Fortaleza. Tenta se retratar no intervalo, e no fim da partida o técnico diz que vai manter o interesse da equipe em primeiro lugar e escalar quem ele achar que faz a função bem.
Nesse caso, Bruno Henrique. Que perdeu várias jogadas, e não marca um gol há um mês. A última vez foi na goleada de 8 a 0 sobre o Vitória. Não bastasse essa decisão, Filipe mantém Samuel Lino como intocável na ponta esquerda depois de uma sequência bem abaixo, técnica e fisicamente.
Do lado direito, Plata, o multifunção mais usado pelo técnico, também foi escalado, depois de um bom jogo de Luiz Araújo no meio de semana contra o Racing. No apoio ao lado direito da defesa, que tinha Danilo no lugar de Léo Ortiz, Luiz foi combativo e apoiou o ataque. Plata não fez nenhum dos dois.
Sem Carrascal, suspenso, o setor ofensivo do Flamengo contra o Fortaleza só deu o ar da graça quando Arrascaeta resolveu tentar sozinho. Apagado no primeiro tempo, criou chances na etapa final, mas é o talento que acaba preservado pelo treinador de um desgaste físico maior.
Sem Pedro, o camisa 10 teve dificuldade para associar as jogadas com os demais atacantes. Chego a se irritar com Bruno Henrique e Lino. No segundo tempo, com a entrada de Michael e Wallace Yan, houve uma subida de produção do ataque, mas o Flamengo não tinha mais organização.
Planejamento de contratações
Nos minutos finais, Juninho reapareceu. Centroavante de ofício, com mobilidade, foi contratado este ano como aposta, para disputar posição com Pedro. E desapareceu. Nas últimas entrevistas, Filipe Luís indicou que a performance do jogador nos treinos não era das melhores. E deixou de relacioná-lo para os jogos há dois meses. Sem Pedro, Juninho ressurgiu no banco. Mas o clube quer negociá-lo.
E ele não é o único. Ou seja, a profusão de atacantes não garante desempenho e resultados. Na verdade, o custo benefício das contratações dentro do que o treinador planeja para o time é ruim até agora. Por isso a sensação de Filipe de que o externo prefere quem não está jogando.
Com o placar de 1 a 0 no Maracanã, o Flamengo vai para a Argentina com um empate como vantagem. Poderia até ser armado de forma conservadora. Povoar o meio. Abdicar da pressão. Mas Filipe Luis tem suas convicções. E elas passam por um ataque intenso e pressionante. Mas e o gol?
Pedro está aí para provar que quando o campo fala nesse sentido, o técnico dá o braço a torcer. E quando o “melhor centroavante do Brasil”, nas palavras de Bruno Henrique, não está presente? Quem empurra a bola para dentro quando o camisa 9 não está na área? E Arrascaeta não está nos seus dias?
