Foragida da Justiça no exterior há um mês, a deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) tem de desocupar nesta sexta-feira (4) o apartamento funcional onde vive desde março de 2021 em função do afastamento do mandato no mês passado. O regramento da Câmara dos Deputados prevê que o imóvel deve ser entregue 30 dias a partir do licenciamento por motivos particulares, oficializado no dia 5 de junho.

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Caso a entrega das chaves não ocorra em até dez dias após findo o prazo, a parlamentar está sujeita a uma multa correspondente ao valor do auxílio moradia, que hoje é de R$ 4.253, e a uma indenização de R$ 283,53 (correspondente a 2/30 avos do benefício) por dia de ocupação irregular descontados na folha de pagamento. As punições não dispensam outras medidas administrativas e judiciais contra a parlamentar.

Procurada, a defesa de Zambelli informou que “não foi informada sobre esse tema oficialmente”.

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O apartamento de Zambelli fica em um edifício de seis andares na 311 Sul, na Asa Sul, bairro nobre de Brasília – o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que determinou a sua prisão, morava até recentemente em uma quadra vizinha, na 312 Sul, a apenas 900 metros dali.

Prédio em Brasília onde fica localizado o apartamento funcional da deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) — Foto: Rafael Moraes Moura/O Globo

Apenas deputados vivem no prédio em amplas unidades que têm área de aproximadamente 250 metros quadrados, segundo apuramos. No apartamento da parlamentar vivem atualmente seu filho, João Zambelli, e a mãe, Rita. A equipe do blog esteve no local nesta quinta-feira (3) e conversou brevemente com João pelo interfone.

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Sem se identificar como parente, ele informou apenas que a mãe da parlamentar vive no local. Em um vídeo publicado nas redes sociais após a decretação da prisão preventiva contra a mãe, João já havia relatado que a avó vivia com os dois no apartamento funcional, situação que se mantinha até a última quinta-feira (3).

“Quem mantinha a minha avó era a minha mãe, que mora com a gente no único apartamento que a minha mãe tem em nosso nome, vamos dizer assim, que é o apartamento funcional da Câmara”, disse João à época do pedido de prisão preventiva de Alexandre de Moraes contra sua mãe.

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O filho de Zambelli não quis esclarecer se a família pretende desocupar o imóvel e se recusou a conceder entrevista.

A data-limite para a entrega do apartamento funcional foi confirmada à equipe da coluna pela própria Câmara dos Deputados.

“O prazo para a desocupação de imóvel funcional é de 30 dias a partir da data da licença para tratar de interesse particular, o que ocorreu a partir do dia 5 de junho. Antes dessa data, a deputada Carla Zambelli estava de licença para tratamento de saúde. Portanto, o imóvel deverá ser desocupado até o dia 4 de julho”, informou a Casa por meio de sua assessoria de imprensa.

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O site da instituição informava ainda que, até a última quinta-feira, não havia parlamentares ocupantes de imóveis funcionais fora do prazo de desocupação. Caso não entregue as chaves, Zambelli deverá figurar nesta relação em breve.

A Câmara dispõe de 432 apartamentos em Brasília, além de outros 15 imóveis classificados como reserva técnica. Quando as unidades foram construídas, nos anos 70, a Casa tinha 420 parlamentares – mas atualmente tem 513, número que saltará para 531 a partir de 2027. Por esse motivo, há um gargalo que provoca uma fila de espera preenchida a partir de diferentes critérios técnicos. Quem não for contemplado tem direito ao auxílio moradia.

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O regramento da Câmara, amparado por um ato de 2011, prevê que o suplente de Zambelli, Coronel Tadeu (PL), tem preferência para ocupar a unidade da deputada. Procurado, ele disse que tem conhecimento de que Zambelli ainda ocupa o imóvel, mas alega que não fará uso do apartamento funcional e nem do auxílio.

“Eu não pretendo usar, não. Prefiro hotel mesmo”, disse Coronel Tadeu, esclarecendo que mantém a cidade de São Paulo como domicílio e que apenas viaja a Brasília para participar das sessões da Câmara.

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“Portanto, já me acomodo num hotel e fica mais simples. São duas noites apenas e uso apenas para dormir. Eu vivo numa mochila. Chego em São Paulo e já vou rodar o interior”.

Em nota, a Câmara confirmou à reportagem que o suplente de Zambelli não solicitou até o momento o uso do apartamento.

As unidades funcionais são administradas pela Coordenação de Habitação da Câmara (Cohab), que por sua vez é mantida sob o guarda-chuva da Quarta Secretaria da Casa. O titular do posto é Sergio Souza (MDB-PR).

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Como mostramos no blog, a deputada completou na última quinta-feira (3) um mês foragida da Justiça após anunciar em uma entrevista que deixou o Brasil para escapar da iminente execução da pena de prisão sentenciada pelo Supremo Tribunal Federal. A parlamentar segue na mira da Interpol e da Polícia Federal (PF), que tentam rastrear seu paradeiro na Itália.

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A deputada fugiu depois de ser condenada pelo Supremo a dez anos de prisão e à perda do mandato por envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), junto com o hacker Walter Delgatti. Com a condenação, ela ficou inelegível por oito anos.

Oficialmente licenciada do mandato, Zambelli deixou o Brasil em 25 de maio pela fronteira do país com a Argentina em Foz do Iguaçu (PR), onde não há controle migratório. Em Buenos Aires, a parlamentar então embarcou para os Estados Unidos, de onde anunciou a fuga no dia 3 de junho.

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No dia seguinte, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a prisão preventiva da deputada, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), pela fuga do Brasil.

Em solo americano, Zambelli antecipou que viajaria para a Itália por acumular a cidadania do país europeu, onde julgou que estaria “intocável” diante da caçada das autoridades policiais. Mas a inclusão de seu nome na lista do alerta de difusão vermelha da Interpol abriu caminho para uma eventual prisão, mesmo com o passaporte italiano.

Foragida, Zambelli tem prazo para cumprir hoje em Brasília