A França registrou mais uma noite de ataques contra unidades prisionais e agentes penitenciários entre terça e quarta-feira, em meio à onda de violência iniciada no domingo, que o ministro da Justiça, Gerald Darmanin, associou à política de repressão ao tráfico de drogas do governo Emmanuel Macron. A Promotoria Nacional Antiterrorismo está conduzindo a investigação sobre os ataques, que já foram notificados cerca de 10 cidades pelo país.

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O caso mais recente aconteceu na manhã desta quarta-feira, quando três carros, incluindo o de um guarda prisional, foram incendiados no estacionamento de uma prisão na cidade de Tarascon, no sul da França. Antes, o veículo de um guarda de uma unidade prisional próxima a Aix-en-Provence, também no sul, foi incendiado em frente à sua casa. Na região de Seine-et-Marne, perto de Paris, alguém rabiscou as letras “DDPF” (sigla para “Direitos dos Prisioneiros Franceses”, grupo que vem sendo alvo da investigação) e tentou atear fogo na entrada de um prédio onde mora uma guarda prisional.

— Claramente, as pessoas estão tentando desestabilizar o Estado por meio de intimidação — disse Darmanin em uma entrevista na manhã desta quarta à emissora CNews/Europe 1. — Elas estão fazendo isso porque estamos tomando medidas contra a permissividade que existe até agora nas prisões.

Darmanin e o Ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, prometeram nos últimos meses intensificar o combate ao narcotráfico e à criminalidade relacionada às drogas. O ministro da Justiça lidera o que chama de “revolução prisional”, que visa prender 200 dos 700 traficantes de drogas mais perigosos da França em duas prisões de segurança máxima. Uma lei contra crimes relacionados às drogas, que inclui essas prisões, deve ser votada no parlamento no final do mês.

Até o final de terça-feira, 21 veículos haviam sido pichados e/ou incendiados, segundo as fontes policiais francesas. A maioria dos incidentes — principalmente carros incendiados, mas também um envolvendo disparos de rifles automáticos contra a entrada de uma prisão perto da cidade de Toulon, no sul do país — foi registrada durante a noite de segunda para terça-feira.

A inscrição “DDPF” apareceu em quase todos os locais, exceto na prisão perto de Toulon, onde os agressores deixaram a misteriosa sigla “DDFM”. Um grupo que se autointitula com a primeira sigla publicou um vídeo no Telegram nesta quarta-feira, mostrando um guarda prisional saindo de um carro, seguido por imagens tremidas de uma caixa de correio, com zoom no nome escrito nela.

O vídeo, visto pela AFP antes de ser apagado, termina com as letras “DDPF” tendo como pano de fundo um carro em chamas em frente a um prédio à noite. A conta, criada no sábado, tem mais de mil seguidores.

Em uma publicação no domingo, o grupo se descreveu como “um movimento dedicado a denunciar violações de direitos fundamentais que o ministro Gerald Darmanin pretende violar”. Darmanin disse à CNews que buscava reprimir “redes de tráfico que continuam operando a partir de celas de prisão.

Veículos incendiados em unidade prisional francesa em Valence — Foto: Reprodução/Sindicato FO Justice/ X

— Eles ordenam assassinatos, lavam dinheiro. Ameaçam policiais, juízes, guardas prisionais e escapam — disse o ministro.

No ano passado, agressores atacaram uma van da prisão que transportava o suposto chefe do tráfico Mohamed Amra, em um pedágio de rodovia, libertando-o e matando dois guardas prisionais. Amra foi preso novamente na Romênia e extraditado de volta para a França, onde está detido em uma das duas prisões de alta segurança.

O Observatório Internacional de Prisões criticou o plano de Darmanin, dizendo que se baseava em uma “obsessão por segurança” e incluía medidas que violavam “direitos humanos”. (Com AFP)

França registra nova noite de ataques a unidades prisionais em onda de violência classificada por ministro como ‘terrorismo’