Alemã de alma mais brasileira do que europeia, a humorista Lea Maria (@leamariajahn), que vive no Brasil há oito anos, conquista cada vez mais fãs nas redes sociais pela maneira peculiar de contar suas experiências no país e exaltar qualidades da nossa cultura. A gringa domina o português, mas tem um sotaque ainda bem marcante. No início, sua forma de se comunicar gerava situações constrangedoras, ou por ela não compreender seu interlocutor muito bem ou por entender algo completamente diferente. Hoje, porém, essas situações se tornaram munição para suas piadas. Seu trabalho vai além da internet, aproximando-se do público em forma de espetáculos de humor. Desde o mês passado, ela está rodando o país com a turnê “Alemalandra”. No próximo sábado(12), às 20h, ela sobe ao palco do Teatro Del’Art, no Barra Point. Os ingressos (R$ 80) estão à venda na Sympla.
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— Eu interajo o tempo todo com o público. No início, conto sobre minha experiência na Alemanha e como fui me transformando e me adaptando à cultura daqui. Percebo que já virei brasileira em comparação à minha família. Por exemplo, tomo mais banho (risos). Qualquer vergonha que passo no dia a dia também levo para palco. Depois do meu divórcio (de um brasileiro), em 2023, incluí nas apresentações questões sobre relacionamentos e a vida de solteira, para que as mulheres que passam por isso entendam a dinâmica delas por um outro olhar e passem a tirar sarro disso — revela. — O nome do meu solo se justifica pelo fato de eu não me considerar mais 100% alemã, porque não sou mais otária, mas também não sou totalmente brasileira, porque não sou malandra. Então, sou “alemalandra”.
Lea, de 29 anos, chegou ao país em 2017, para um intercâmbio no Instituto Goethe e de antropologia na USP. Trabalhou primeiro como professora de alemão. Começou a se apresentar em clubes de comédia dois anos depois e a produzir conteúdos para as redes sociais. Hoje, tem um milhão de seguidores no Instagram.
Foi num intercâmbio na Nova Zelândia, aos 20 anos, que ela fez os primeiros amigos brasileiros e quis vir morar no país.
— Quando trabalhei com brasileiros, percebi que são sempre pessoas mais animadas, que compartilham comida, trocam ideias e não levam a vida tão a sério o tempo todo. Os alemães são pessoas muito fechadas; não têm isso viver em comunidade e essa troca que faz a gente entender o lado do outro e ter empatia. Quando voltei para a Alemanha, senti falta disso. E, quando cheguei aqui, me apaixonei e fiz de tudo para conseguir trabalhar e morar no país — conta ela, que quando está no Brasil vive em São Paulo, mas pretende se mudar para o Rio em maio. — Defino a cultura brasileira como uma bagunça organizada. Existe o jeitinho brasileiro, por meio do qual as coisas nem sempre funcionam pelas regras e leis, mas isso também abre portas e faz a vida por aqui sempre ser uma surpresa interessante.
Lea aprendeu o português em quatro meses. Considera-se uma “alemã de cria”, que já entende a malandragem carioca, por exemplo, se sente em casa no Rio e adora se utilizar de gírias. O mais difícil no processo de aprendizagem do idioma, confessa, foi entender a intenção das pessoas.
— Uma coisa é o que o brasileiro fala; outra é o que pensa. O brasileiro não consegue falar não. Então, você tem que saber entender as entrelinhas. Uma prova disso é o “vamos marcar” do carioca. Eu aprendi rápido o português porque sempre procurei interagir muito com os nativos. Ainda não perdi meu sotaque, mas ele acaba sendo meu charme. As pessoas me imitam e dão risada, e isso é divertido — diz. — Um dos meus maiores problemas são os sons nasais. Ir à padaria é sempre um desafio. Tenho sempre que treinar para não falar “pau” em vez de “pão”.
Em 2023, a Lea Maria entrou com pedido de divórcio após denunciar ter sido vítima de agressão do seu então marido, o comediante Juliano Gaspar. Após o episódio, ficou um mês na Alemanha, mas logo resolveu voltar, por não querer jogar fora tudo o que já havia conquistado, explica.
— Foi a decisão certa — afirma. — Uma relação tóxica acaba com a nossa autoestima. Depois que acabou, entrei num processo de me apropriar de mim mesma e crescer mais como mulher, com ajuda de muita terapia. E hoje quero levar isso para o palco. Desejo incentivar outras mulheres que estão numa situação difícil a encontrar uma saída.