O grupo que estimulava pela internet práticas de automutilação de adolescentes, alvo de uma operação de autoridades policiais em doze estados, realizou uma live que transmitiu a morte de um gato. Segundo o delegado responsável pela investigação, Gustavo Godoy Alevado, a transmissão foi realizada na rede social Discord e chegou a ser assistida por quatrocentas pessoas. O líder da organização, um adolescente de 15 anos, foi preso por uma operação conjunta entre as autoridades policiais do MT e o Ministério da Justiça. A ação também acontece simultaneamente em outros 12 estados e cumpriu, até o momento, três mandados de prisão preventiva e seis encaminhamentos para a internação socioeducativa de menores de idade.
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De acordo com os investigadores, durante a live, eram dadas orientações para que a pessoa responsável por matar gato o manipulasse e, ao final, extraísse a pele do animal. A transmissão foi anexada como uma prova na investigação conduzida pela Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Informáticos de Mato Grosso. Até o final da manhã desta terça-feira, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão, três mandados de prisão preventiva contra maiores de idade e seis pedidos de internação de menores de idade.
As investigações identificaram uma rede de adultos e adolescentes que praticava crimes como indução, instigação ou auxílio à automutilação e ao suicídio, perseguição (stalking), ameaças, produção, armazenamento e compartilhamento de pornografia infantil, apologia ao nazismo e invasão de sistemas informatizados, incluindo acesso não autorizado a bancos de dados públicos.
Segundo as autoridades policiais, as práticas criminosas ocorriam principalmente em plataformas como WhatsApp, Telegram e Discord, “nas quais os investigados disseminavam conteúdos de violência extrema, estimulavam comportamentos autodestrutivos, realizavam coação psicológica, ameaças e exposição pública de vítimas”.
Investigadores também apontaram que, além de exercer o comando sobre o grupo online, o adolescente líder do grupo também passou a ser investigado por falsidade ideológica, após ter aberto uma conta bancária a partir do uso de documentos falsos. A conta-corrente era usada por ele para a venda e negociação de material pornográfico por meio do aplicativo do Telegram.
O grupo, cuja maioria dos integrantes tem 15 a 17 anos, também é acusado de realizar a extorsão das vítimas a partir do acesso aos dados delas, conseguidos a partir de vazamentos de informações de sistemas de órgãos públicos. Até o momento, os investigadores conseguiram identificar três vítimas, das quais duas não quiseram prestar depoimentos sobre o caso.
— A gente constatou o armazenamento e venda desse conteúdo de pedofilia e imagens pornográficas de menores. Para fazer isso, eles ganhavam a confiança das vítimas adolescentes, conseguiam obter esse tipo de imagem, os chamados nudes, e começavam a extorquir essas adolescentes. Eles diziam que, se elas não obedecessem, iriam expor os casos para a escola ou para os pais. As meninas ficavam, então, acuadas e eram coagidas a se cortar, a beber água de vaso sanitário ou comer papéis com o nome dos integrantes do grupo escrito — explicou o delegado.
A mãe de uma das vítimas da organização criminosa que estimulava a automutilação de adolescentes no Mato Grosso tentou intervir ao descobrir que a filha estava sendo ameaçada. Em uma troca de mensagens, o suspeito a encaminhou um vídeo gravado pela menina, cujo conteúdo não foi divulgado pelas autoridades policiais, e afirmou que era “o dono” dela.
A ação desta terça-feira também teve como alvo uma adolescente de 16 anos, moradora da cidade de Sinop. Dentro da comunidade, ela era identificada como uma das “envolvidas”, meninas cooptadas para dar instruções para as vítimas sobre técnicas de automutilação, para “deixar apenas marcas” ou “machucar menos”, explica o delegado.
Em conversas descobertas pelos investigadores, membros do grupo afirmavam que pretendiam expor as vítimas aos pais, caso elas não os obedecessem. A ameaça chega a ser concretizada uma das ocasiões, quando um dos integrantes entrou em contato com a mãe de uma das meninas e encaminhou um vídeo produzido pela adolescente. Eu vou te denunciar e você nunca mais vai falar com a minha filha, vou te bloquear no meu celular e no dela”, respondeu a mulher. Em seguida, o criminoso revela que sabe a idade dela, onde ela trabalha e afirma que ela e a filha seriam “duas piranhas”.
Veja as conversas abaixo:
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