BRcom - Agregador de Notícias
No Result
View All Result
No Result
View All Result
BRcom - Agregador de Notícias
No Result
View All Result

Guerra com Israel desmembra sociedade palestina e deixa feridas físicas e mentais por ao menos uma geração

BRCOM by BRCOM
outubro 7, 2025
in News
0
Hamza Salem, em cadeira de rodas, sua filha Rital e sua família fogem para o sul de Gaza — Foto: Saher Alghorra/The New York Times

Dois anos de guerra intensa em Gaza deixaram os palestinos com uma sociedade desmembrada e desordenada. A destruição é vasta, e muitos moradores do enclave têm feridas físicas e mentais que podem marcar uma geração. A maioria das pessoas foi forçada a deixar suas casas para uma fração do território. Vivendo em acampamentos de tendas, lutam para encontrar comida, água e remédios. Muitas das casas, empresas e bairros que moldavam suas antigas vidas foram destruídos, deixando-os com pouco para onde retornar quando a guerra acabar.

  • Gaza, 2 anos: Israelenses enfrentam sanções e estigma no exterior por ofensiva de Netanyahu em enclave
  • Vivi para Contar: ‘É muito difícil receber um filho de volta e saber que outro segue sofrendo’, diz mãe israelense

Desde que o Hamas atacou Israel em 7 de outubro de 2023, israelenses desprenderam uma enorme força militar contra Gaza, causando uma destruição com poucos paralelos nas guerras modernas. O resultado é uma sociedade desmembrada e desordenada. Ramos inteiros de árvores genealógicas foram cortados, com mais de 67 mil mortos, ou um em cada 34 habitantes de Gaza, de acordo com autoridades de saúde locais.

No mês passado, uma comissão das Nações Unidas concluiu que Israel cometeu genocídio contra os palestinos em Gaza. Israel nega a acusação, afirmando que busca destruir o Hamas e devolver os reféns capturados no ataque liderado pelo grupo terrorista há dois anos, que matou 1.200 pessoas.

  • Especialistas: Países árabes veem Israel como principal ator de desestabilização no Oriente Médio

Negociadores israelenses e do Hamas começaram a discutir no Egito uma possível troca de reféns de Israel por palestinos detidos em prisões israelenses. Tal acordo poderia impulsionar um novo plano traçado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para encerrar a guerra após muitas tentativas frustradas.

Mas ainda não está claro quem — se é que alguém — governaria o território ou pagaria pela reconstrução para restaurar a vida do povo de Gaza. Enquanto isso, a maioria dos habitantes locais está ocupada demais sobrevivendo para pensar no futuro.

— Pensar sobre a vida após a guerra só surge quando ela termina — disse Hamza Salem, um ex-frentista que perdeu as duas pernas durante o pesado bombardeio israelense no início do conflito.

  • Depoimento: ‘Netanyahu envia soldados como peões para cometer crimes por ele’

Conteúdo:

Toggle
  • Corpos danificados, vidas destruídas
      • Guerra com Israel desmembra sociedade palestina e deixa feridas físicas e mentais por ao menos uma geração

Corpos danificados, vidas destruídas

Antes da guerra, Salem morava no norte de Gaza com a esposa e os filhos, três meninos e uma menina, Rital. Ela tinha 5 anos, gostava de fazer pulseiras de contas e tinha acabado de começar o jardim de infância. Para Salem, “a vida estava em movimento, louvado seja Deus”. Até que a guerra mudou tudo.

Um ataque israelense nas primeiras semanas do conflito atingiu Rital perto de sua casa, decepando seu braço direito acima do pulso, de acordo com Salem. Além disso, seu pai, Abdel-Nasr Salem, ficou ferido no mesmo ataque. O Exército israelense afirmou que a ação militar atingiu a infraestrutura militar do Hamas.

Três meses depois, após a família ter fugido para o sul de Gaza, outro ataque atingiu Salem, e ele teve que ter as duas pernas amputadas acima do joelho. Ambos têm lutado para obter tratamento, já que o sistema de saúde de Gaza entrou em colapso.

As forças israelenses têm esvaziado, invadido e atacado hospitais repetidamente, acusando o Hamas de usá-los para proteção. Menos da metade dos 36 hospitais de Gaza estão parcialmente operacionais, afirma a Organização Mundial da Saúde (OMS).

À medida que a guerra avançava, os medicamentos diminuíam e os tratamentos contra o câncer e a diálise se tornavam escassos. Depois que Israel bloqueou toda a ajuda humanitária para Gaza nesta primavera (Hemisfério Norte), a fome se espalhou. Em agosto, um grupo de especialistas globais declarou que mais de meio milhão de pessoas em Gaza sofriam uma fome “provocada pelo homem”, cujos efeitos incluíam inanição, desnutrição aguda e morte.

  • Palestino que vive no Brasil: ‘A casa da minha irmã foi bombardeada três vezes e estou há um mês sem conseguir falar com eles’

A desnutrição e o trauma podem prejudicar o desenvolvimento mental e físico, dizem os especialistas, o que significa que os efeitos da guerra na saúde podem repercutir por uma geração inteira.

— Há uma ameaça constante de doença e morte contra a qual as crianças têm de lutar todos os dias — declarou Tess Ingram, porta-voz do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em Gaza. — Isso cria um nível de estresse tóxico que não é apenas prejudicial, mas potencialmente fatal em longo prazo.

Autoridades israelenses minimizaram a gravidade da fome no enclave, afirmando que trabalham para facilitar a entrada de ajuda humanitária no território. O governo classificou o relatório sobre a fome como “uma mentira descarada”.

O Exército israelense afirmou em um comunicado que ataca apenas alvos militares e respeita o direito internacional. Acusou o Hamas de construir infraestrutura militar — incluindo centros de comando, depósitos de armas e túneis de combate — em áreas civis densamente povoadas, além de instalar armadilhas em estradas e residências civis.

Mais de um quarto dos 167 mil habitantes de Gaza feridos sofreram “lesões que mudaram suas vidas”, segundo a OMS. Os números indicam que mais de 5 mil pessoas perderam membros por causa da guerra.

Com as fronteiras fechadas por Israel, as pessoas não conseguem fugir facilmente do enclave para buscar segurança contra os bombardeios, como fizeram os refugiados da Síria e da Ucrânia. Os feridos não conseguem facilmente buscar atendimento no exterior, porque as autorizações para retiradas médicas são difíceis de obter.

O braço decepado de Rital se perdeu no caos do golpe que a feriu, então não pôde ser reimplantado, contou Salem. Devido à escassez de medicamentos no hospital, ele teve que comprar anestesia e medicamentos em farmácias próximas. A explosão que o feriu também o deixou inconsciente. Ele acordou 10 dias depois e descobriu que não tinha pernas. Ele relatou que a higienização inadequada dos curativos levou a uma infecção, e mais tarde ele recebeu alta sem medicação, o que o deixou sozinho lidando com a dor.

A família fugiu novamente em setembro, depois que Israel lançou um novo ataque à Cidade de Gaza. Eles foram a pé até o centro de Gaza, enquanto seu pai e filhos lutavam para empurrar sua cadeira de rodas pelas ruas danificadas e arenosas. Agora, eles estão abrigados na casa da irmã dele, mas têm poucas roupas, pouco dinheiro e nenhuma barraca para dormir caso precisem fugir novamente.

— Não temos outro lugar para ir — disse ele.

Hamza Salem, em cadeira de rodas, sua filha Rital e sua família fogem para o sul de Gaza — Foto: Saher Alghorra/The New York Times

As Nações Unidas estimam que quase quatro em cada cinco edifícios em Gaza foram danificados ou destruídos. Em dezembro de 2024, a ONU informou que havia mais de 50 milhões de toneladas de escombros, tanto que 105 caminhões levariam 21 anos para removê-los. Em fevereiro, o Banco Mundial estimou os danos físicos em Gaza em US$ 29,9 bilhões (cerca de R$ 159 bilhões) — 1,8 vezes a produção econômica anual de Gaza e da Cisjordânia ocupada.

Os números não capturam tudo o que se perde. Quando se apagam alguns marcos da vida cotidiana de alguém — a loja onde comprava tomates, o café onde se encontrava com os amigos —, essa vida desaparece.

Para Nidal Eissa, de 32 anos, pai de três filhos e dono de uma loja de vestidos de noiva na Cidade de Gaza, a vida girava em torno do prédio residencial que ele dividia com cerca de 30 parentes. Imagens de satélite mostram que o prédio está em ruínas, assim como o laranjal na mesma rua, o açougue local e a barbearia onde ele costumava levar o filho, locais repletos de lembranças.

— Vivi meus melhores dias e anos nesta casa — disse Eissa.

A família se reunia ali para celebrar marcos importantes, contou ele. Os recém-nascidos eram recebidos com doces. Os noivos eram homenageados com refeições. A morte de parentes era lamentada com café amargo e tâmaras. Seus filhos frequentavam escolas próximas, e a família recebia atendimento médico em uma clínica local, tudo administrado pela ONU. Sua loja de vestidos de noiva, a White Angel, ficava a uma curta distância de carro.

No início da guerra, em meio ao intenso bombardeio israelense, um ataque a um caminhão próximo danificou sua loja. Ele recuperou o máximo de vestidos e acessórios que pôde e os levou para seu apartamento. Os bens foram perdidos em agosto, quando Israel bombardeou o prédio, segundo Eissa e seu primo Walid Eissa. Os militares israelenses, disseram ambos, avisaram um vizinho com antecedência, que alertou a família. Eles fugiram da área, mas o prédio foi destruído. Os militares israelenses disseram que o ataque atingiu “um alvo militar”.

De repente, sem teto, sua família se dispersou em busca de abrigo. Eissa, sua esposa e filhos acabaram no sul de Gaza, onde dormem em uma barraca. Ele espera reconstruir sua vida em uma Gaza que não seja mais governada pelo Hamas.

— Se a guerra terminar com soluções e o sistema de governo mudar, abrirei um negócio e permanecerei aqui — afirmou. — O mais importante é que eles mudem o regime que nos arrastou para a ruína e a destruição.

Nidal Eissa e sua família do lado de fora de sua tenda no centro de Gaza — Foto: Saher Alghorra/The New York Times
Nidal Eissa e sua família do lado de fora de sua tenda no centro de Gaza — Foto: Saher Alghorra/The New York Times

Mahmoud Abu Shahma, de 14 anos, também mora em uma barraca lotada perto da praia. Ele passa as manhãs esperando para encher jarras de água para beber e tomar banho. Faz chá no fogo e come pão temperado com especiarias — ou qualquer outra coisa que encontre para matar a fome. No resto do dia, ele vagueia pelo acampamento onde mora. Está fora da escola há mais de dois anos.

— Ninguém me pediu para estudar — disse ele. — Se houvesse uma escola, eu iria.

Seus pais não podem preencher o vazio porque ambos foram mortos, deixando-o entre os milhares de órfãos criados pela guerra. O conflito praticamente acabou com a infância convencional. Crianças foram feridas e mortas, perderam entes queridos e suportaram privações prolongadas.

— Vocês estão criando condições extremamente difíceis para a recuperação mental, humana e física — destacou Tareq Emtairah, diretor-geral da Taawon, uma instituição de caridade palestina que ajuda os órfãos.

Em abril, o Escritório Central de Estatísticas da Palestina, parte da Autoridade Nacional Palestina sediada na Cisjordânia, informou que mais de 39 mil crianças perderam pelo menos um dos pais na guerra. Destas, cerca de 17 mil perderam os dois.

Mahmoud Abu Shahma vive em um dos sete acampamentos de tendas no sul de Gaza que abrigam mais de 4 mil crianças que perderam pelo menos um dos pais. Outras 15 mil dependem dos acampamentos para alimentação, assistência médica e outros serviços, disse Mahmoud Kallakh, que administra os acampamentos.

Mahmour Aby Shahma no campo onde vive no sul de Gaza — Foto: Saher Alghorra/The New York Times
Mahmour Aby Shahma no campo onde vive no sul de Gaza — Foto: Saher Alghorra/The New York Times

Trabalhadores humanitários dizem que muitas das crianças têm pesadelos frequentes ou ansiedade. Algumas passaram por uma angústia mental ou física tão extrema que pararam de falar. O sistema educacional desmoronou até mesmo para crianças cujas famílias permaneceram intactas.

Mais de 700 mil crianças não têm acesso à educação formal, e quase todas as escolas precisam de reforma ou reconstrução, de acordo com o Unicef. Todas as universidades estão fechadas, muitas delas destruídas pelas forças israelenses que acusaram o Hamas de operar dentro delas.

Escolas improvisadas surgiram em campos de deslocados, onde as crianças se reúnem sob lonas e sentam no chão. Mayasem, uma organização de artes e cultura, administra uma escola no sul de Gaza que oferece aulas de árabe, inglês, matemática e ciências.

Uma aluna, Rateel al-Najjar, de 8 anos, disse que estava feliz por estar estudando novamente, mas que a escola não tinha cadeiras, giz de cera, cadernos e lápis. Ela contou que ama matemática e quer ser arquiteta como um tio que foi morto na guerra.

Najla Abu Nahla, gerente-executiva da Mayasem, explicou que a escola se concentra menos no desempenho acadêmico e mais em diversão, esportes e música para apoiar a saúde mental das crianças. Quando as aulas terminam, ela disse, eles não querem mais esperar na fila para pegar comida ou água. “Aqui”, ela conta, “eles podem se sentir como crianças”.

Rateel al-Najjar em uma escola improvisada no campo onde mora, no sul de Gaza — Foto: Saher Alghorra/The New York Times
Rateel al-Najjar em uma escola improvisada no campo onde mora, no sul de Gaza — Foto: Saher Alghorra/The New York Times

Antes da guerra, Mona al-Ghalayini, de 55 anos, era uma mulher rara que conseguiu entrar na elite empresarial de Gaza. Ela era coproprietária de um supermercado e administrava um restaurante chamado Big Bite e o luxuoso Roots Hotel, que ficava ao lado da marina na costa mediterrânea da Cidade de Gaza. Pouco resta de suas posses. O supermercado foi “queimado e saqueado”, disse ela por telefone do Egito, para onde fugiu no início do conflito. O restaurante “também se foi” e o hotel “precisa ser completamente reestruturado”, contou.

No ano passado, ela abriu um restaurante palestino, o Jouzoor , no Cairo. Ela pensa em retornar a Gaza algum dia, mas disse que a região precisa de estabilidade, água encanada e eletricidade — o que ela chamou de “os componentes da vida”. Mona não consegue prever quando isso poderá acontecer.

— Não há uma visão clara de nada em que se possa construir — disse. — O futuro não é claro para ninguém.

Mona al-Ghalayini em seu restaurante palestino, Jouzoor, no Cairo — Foto: Fatma Fahmy/The New York Times
Mona al-Ghalayini em seu restaurante palestino, Jouzoor, no Cairo — Foto: Fatma Fahmy/The New York Times

Antes da guerra, Gaza era pobre, uma situação agravada por um bloqueio parcial israelense-egípcio com o objetivo de enfraquecer o Hamas. Mas os moradores de Gaza com recursos investiram em shoppings, restaurantes, fábricas e fazendas que ajudaram a alimentar e empregar a população.

A guerra interrompeu quase toda a atividade econômica formal, e o desemprego está em pelo menos 80%, de acordo com o Banco Mundial. O conflito prejudicou ainda a capacidade dos moradores de Gaza de se alimentarem, com mais de 70% dos poços de irrigação, estufas e barcos de pesca danificados ou destruídos, segundo as Nações Unidas. Em julho, menos de 2% das terras cultiváveis ​​estavam intactas e acessíveis aos agricultores.

A parcela de moradores de Gaza que vivem no que o Banco Mundial chama de “pobreza multidimensional” — ou seja, a falta de acesso a renda, educação e serviços como eletricidade e água limpa — deve aumentar para 98%, de 64% antes da guerra.

O conflito destruiu as finanças de muitos empreendedores de Gaza. Hassan Shehada, de 61 anos, já empregou mais de 200 trabalhadores que costuravam jeans, jaquetas e outras roupas, muitas delas para serem vendidas em Israel, contou ele por telefone de Gaza.

Durante a guerra, uma oficina com 60 máquinas de costura foi destruída, disse ele. Quando sua família fugiu da Cidade de Gaza para o centro de Gaza, levaram consigo 20 máquinas de costura e outros suprimentos, mas têm lutado para encontrar eletricidade suficiente para usá-los. Por isso, ele não pode trabalhar nem ir para casa e tenta acompanhar os relatos sobre ex-funcionários que foram mortos. Ainda assim, ele espera que a paz chegue e que o povo de Israel e Gaza perceba que seus destinos estão interligados.

— Israel não pode desistir de nós, e nós não podemos desistir de Israel — afirmou. — Se não houver uma paz real construída sobre bases sólidas entre nós, nada funcionará.

Guerra com Israel desmembra sociedade palestina e deixa feridas físicas e mentais por ao menos uma geração

Previous Post

veja as novidades e compare com o iPhone 16 Pro

Next Post

Mega-Sena sorteia prêmio acumulado de R$ 20 milhões nesta terça-feira

Next Post
Apostas para a Mega-Sena da Virada podem ser feitas online — Foto: Reprodução

Mega-Sena sorteia prêmio acumulado de R$ 20 milhões nesta terça-feira

  • #55 (sem título)
  • New Links
  • newlinks

© 2025 JNews - Premium WordPress news & magazine theme by Jegtheme.

No Result
View All Result
  • #55 (sem título)
  • New Links
  • newlinks

© 2025 JNews - Premium WordPress news & magazine theme by Jegtheme.