O grupo terrorista Hamas anunciou que precisa de mais tempo para apresentar uma resposta sobre o plano de cessar-fogo do presidente americano, Donald Trump, para encerrar a guerra na Faixa de Gaza. Lideranças do grupo estão reunidas desde o começo da semana em Doha, no Catar, para deliberando sobre a proposta — apresentada com contornos de ultimato pelo republicano, e incluindo pontos sensíveis para a organização palestina, como seu desarmamento completo e exclusão do futuro político do enclave.
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Representantes do grupo, ouvidos pela imprensa ocidental e árabe, afirmaram que o grupo continua a fazer consultas sobre o plano de Trump, mas que provavelmente será necessário mais tempo do que os “três ou quatro dias” que o presidente americano disse, na terça-feira, que daria ao movimento palestino para ter uma resposta oficial.
— O Hamas segue em consultas sobre o plano de Trump […] e informou aos mediadores que as consultar continuam e que é necessário algum tempo — disse um integrante da cúpula do grupo, em entrevista a AFP, sob a condição de anonimato.
A atual rodada de negociações no Catar envolveu novos países com influência na região, como a Turquia, cujos representantes diplomáticos pressionam para que a proposta seja aceita, pondo fim ao conflito armado, que está prestes a completar dois anos.
Ainda no começo das deliberações, fontes do grupo palestino afirmaram que o posicionamento estava indefinido, e que as conversas poderiam levar dias, apontando a complexidade na coordenação da comunicação “entre os membros da direção e dos movimentos [em Gaza]”.
Os 20 pontos para a paz apresentados por Trump foram amplamente aprovados pela comunidade internacional, do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a lideranças de países árabes. Netanyahu afirmou que a visita à Casa Branca, que resultou na apresentação dos termos, era um sucesso histórico, que “virou o jogo para Israel”, provocando o isolamento do Hamas.
Alguns termos, porém, preocupam a liderança do grupo palestino. Interlocutores com conhecimento das negociações afirmam que a falta de clareza sobre a retirada total das tropas israelenses de solo palestino — algo que o texto menciona que acontecerá em fases, mas não estabelece um prazo ou condições exatas para que ocorra —, e o método de desarmamento do Hamas. Mesmo dentro do grupo, há divergência sobre qual caminho seguir.
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O pesquisador do Conselho Europeu de Relações Internacionais, Hugh Lovatt, avaliou que o Catar pode pressionar pela aprovação, mas que não se trata de convencer somente os líderes do Hamas em Doha, mas também os líderes e combatentes em Gaza.
— Há duas opiniões dentro do Hamas. A primeira apoia a aprovação incondicional [do plano], visto que a prioridade é um cessar-fogo sob as garantias de Trump — observou uma fonte palestino ouvida pela AFP. — O segundo tem reservas significativas sobre algumas cláusulas-chave, rejeitando o desarmamento e a expulsão de quaisquer palestinos de Gaza. Eles defendem a aprovação condicional com esclarecimentos que reflitam as demandas do Hamas e das facções da resistência.
Outro representante palestino ouvido pela agência de notícias francesa afirmou que os líderes do movimento governante em Gaza também querem garantias de que não haverá “tentativas de assassinato” contra eles, dentro ou fora do enclave.
— Estamos em contato com os mediadores e os partidos árabe e islâmico, e levamos muito a sério a ideia de chegar a um acordo — disse Mohamed Nazal, membro do comitê político do Hamas, em um comunicado nesta sexta-feira. — Em breve, anunciaremos nossa posição. (Com AFP)