O Google Brasil e o Instituto Clima e Sociedade (iCS) anteciparam ao GLOBO o resultado do edital “Desafio IA Natureza & Clima”, que seleciona oito projetos de sustentabilidade digital no Brasil para receber R$ 18 milhões em investimentos. As iniciativas escolhidas utilizarão inteligência artificial e tecnologias digitais em ações voltadas para a redução das emissões de gases de efeito estufa, a conservação da biodiversidade e o fortalecimento da resiliência dos ecossistemas.
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Entre 395 propostas inscritas desde o lançamento do edital, em março, foram selecionados os melhores projetos que abordam ao menos um dos três eixos prioritários, alinhados ao “Objetivo 27” da agenda de ação da COP30: agricultura regenerativa, bioeconomia e reversão da perda de biodiversidade.
— A tecnologia tem um enorme potencial para acelerar soluções climáticas e promover o uso sustentável dos recursos naturais. Ver essas iniciativas saindo do papel e ganhando escala é inspirador, pois são exemplos concretos de como a tecnologia pode gerar benefícios duradouros para o Brasil e para o mundo — diz Juliana Moura Bueno, relações públicas do Google no Brasil.
O anúncio oficial dos oito selecionados será feito nesta quarta-feira, em evento no hotel Brasília Palace. O evento reunirá representantes das organizações responsáveis pelos projetos, além de especialistas e formuladores de políticas públicas, para discutir como a inteligência artificial pode contribuir para superar barreiras estruturais — como monitoramento, fiscalização, financiamento e acesso a mercados — e acelerar soluções climáticas em larga escala.
Financiado pelo Google.org, o investimento representa o maior aporte já feito pela organização em projetos de sustentabilidade na América Latina. Os recursos serão liberados aos selecionados de forma escalonada ao longo da execução. O iCS não detalhou, no entanto, o valor destinado a cada iniciativa. A execução dos projetos está prevista para começar em novembro, durante a COP30, com conclusão esperada em outubro de 2027.
IA para Monitoramento da Biodiversidade – detecção de impactos em florestas na Amazônia
Elaborado pela Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, o projeto busca enfrentar a degradação florestal na Amazônia, que atualmente já supera o desmatamento direto em extensão territorial, segundo a iCS. A iniciativa pretende desenvolver um indicador sensorial capaz de detectar com antecedência sinais de degradação na floresta com alta resolução.
O projeto também prevê a coleta de dados por comunidades indígenas locais e instituições parceiras, para validar os padrões identificados por inteligência artificial e aperfeiçoar o sistema, que emitirá alertas precoces de degradação com frequência de até cinco dias, permitindo ações rápidas e eficazes dos órgãos competentes antes que o processo atinja o estágio crítico de desmatamento.
Plataforma Inteligente para Financiamento Rural Sustentável
O projeto idealizado pelo Instituto para Governança Territorial e Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP) tem como objetivo desenvolver uma plataforma de inteligência territorial analítica capaz de integrar dados ambientais, fundiários e financeiros para apoiar a execução e o monitoramento de políticas públicas, em especial o Plano Safra.
A ferramenta terá acesso público e utilizará inteligência artificial para avaliar a elegibilidade socioambiental de imóveis rurais ao crédito e monitorar os impactos ambientais e econômicos das operações financiadas.
A proposta busca transformar dados dispersos em informações “precisas e integradas, oferecendo maior previsibilidade, assertividade e segurança técnica” na formulação e implementação de políticas públicas, conforme explicou a iCS em texto enviado ao GLOBO.
Sistema Inteligente para Monitoramento Florestal de Terras Indígenas Amazônicas
Idealizado pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), o projeto propõe um sistema de monitoramento florestal inteligente, com foco nas Terras Indígenas da Amazônia brasileira. A iniciativa combina dados de observação da Terra, inteligência artificial e informações coletadas em campo para aprimorar a vigilância ambiental.
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A tecnologia permitirá a elaboração de algoritmos capazes de identificar anomalias relacionadas a crimes ambientais e mapear áreas com potencial para restauração florestal.
O sistema incluirá um painel de controle interativo, com mapas, alertas e relatórios, cujos resultados de análise automatizada de imagens de satélite serão validados em campo por Agentes de Monitoramento Indígena.
Biodiversidade nas paisagens rurais – instrumentação de políticas públicas
O projeto desenvolvido pela Embrapa Pantanal tem como objetivo conduzir inventários baseados em DNA ambiental (eDNA) e desenvolver modelos de inteligência artificial capazes de avaliar o potencial das paisagens rurais para a conservação da biodiversidade, com foco em iniciativas de restauração ecológica. A proposta busca conciliar a produção agropecuária com a preservação da biodiversidade nas paisagens rurais brasileiras.
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Os modelos de IA gerados e validados servirão de base para o desenvolvimento de um software que permitirá prever respostas da biodiversidade a diferentes cenários — reais ou simulados — de alterações naturais do solo e de atividades provocadas por humanos. O sistema também possibilitará avaliar os efeitos de modificações na vegetação nativa.
IA-FogoBio – Inteligência artificial para predição de risco e avaliação de impacto de “eventos de fogo” na biodiversidade amazônica
Desenvolvido pelo Instituto Federal do Amazonas (Ifam), o projeto IA-FogoBio propõe a criação de um sistema web independente para monitoramento de incêndios na Amazônia.
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Diferentemente das plataformas atualmente em uso, a ferramenta terá foco em ações preventivas, com capacidade de prever eventos de fogo com até 90% de eficácia e antecedência de uma a duas semanas. Além disso, o sistema buscará classificar as causas dos incêndios e estimar seus impactos ecológicos, por meio de análises detalhadas de vulnerabilidade para o tipo de solo amazônico.
IÊ – integrando dados ecológicos-econômicos da bioeconomia da castanha-da-Amazônia com IA e análise espacial
Elaborado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (Iieb), o projeto busca enfrentar a “assimetria de informações e a vulnerabilidade econômica dos extrativistas na cadeia de valor da castanha-da-amazônia”, conforme explicou o Instituto Clima e Sociedade (iCS). A iniciativa pretende aprimorar o sistema participativo de coleta e divulgação de dados sobre preços e ecologia da castanha-da-amazônia.
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A proposta tecnológica consiste no aperfeiçoamento e na expansão do sistema IÊ, já em uso e desenvolvido pelo Coletivo da Castanha e pelo Observatório Castanha-da-Amazônia. O aprimoramento inclui quatro novas funcionalidades principais:
- Módulo de análise com Inteligência Artificial (IA): capaz de processar o histórico de preços, cruzar informações econômicas e ecológicas e gerar previsões e tendências.
- Análise geográfica dinâmica: permite a visualização espacial de dados das chamadas “Regiões Castanheiras”, para entender dinâmicas regionais e territoriais.
- Chatbot de voz com IA: voltado à consulta, coleta e disseminação de informações, especialmente para comunidades com baixa conectividade e limitado letramento digital.
- Plataforma integrada de visualização: possibilita a combinação e análise conjunta de dados econômicos e ecológicos, além da geração automatizada de relatórios.
Terras do Brasil – Inteligência Artificial contribuindo para a governança responsável
O projeto da Fundação Espírito-santense de Tecnologia (Fest) propõe a incorporação de inteligência artificial, automação e integração de dados geoespaciais à plataforma Terras do Brasil, que apoia ações governamentais voltadas ao fortalecimento da governança fundiária no país.
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Com o uso da IA, a iniciativa busca estruturar e ampliar a escala do sistema, possibilitando o monitoramento contínuo do uso da terra, a geração automatizada de diagnósticos e o desenvolvimento de indicadores de desempenho. A solução visa tornar a gestão territorial no setor público mais ágil, precisa e orientada por dados atualizados e integrados.
O projeto também pretende aprimorar a experiência do usuário final, com ferramentas interativas e inteligentes, como assistentes virtuais que orientarão gestores e requerentes em processos de regularização fundiária. Além disso, o projeto visa o fortalecimento da sustentabilidade ambiental, com a identificação de corredores ecológicos que conciliem ocupação produtiva e preservação ambiental.
Gestão sustentável da propriedade rural – integrando sensoriamento remoto e IA
A proposta do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig) busca tornar as áreas de pastagens mais produtivas e sustentáveis, contribuindo para que o Brasil alcance a meta de desmatamento líquido zero até 2030.
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A iniciativa propõe oferecer assistência técnica contínua aos produtores, por meio da integração de bases de dados já existentes e da aplicação do estado da arte em tecnologias de machine learning — uso de inteligência artificial (IA) em sistemas inteligentes que aprendem com dados sem serem explicitamente programados. O projeto será estruturado em quatro eixos principais:
- Mapas de pastagens sob demanda com precisão espacial de aproximadamente 0,1 hectare;
- Estimativas de produção de forragem a cada cinco dias, com base em dados de satélites e informações sobre densidade animal;
- Alertas de eventos climáticos e meteorológicos, a fim de permitir ações preventivas no manejo das propriedades.
- Indicadores de sustentabilidade que possibilitam a certificação de produção livre de conversão e o acesso facilitado a linhas de crédito verde.