Uma idosa de 77 anos está internada em estado grave após ser atacada por sete cães da raça rottweiler em Gravataí (RS), no último sábado. A mulher sofreu mutilações no nariz, orelha e membros inferiores, além de ter parte do couro cabeludo arrancado. Ela permanece hospitalizada no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre. Este é mais um episódio que se soma a uma série de ataques de cães registrados neste ano. O GLOBO repercutiu ao menos seis casos que resultaram em acidentes graves ou morte em 2025, o que reacende o debate sobre os cuidados necessários com animais ferozes.
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De acordo com o médico Renato Fetter, que atendeu a idosa, “ela perdeu a ponta do nariz, sofreu fratura nasal, teve a orelha completamente destruída e os membros inferiores mutilados”, disse ele ao G1. Os animais pertenciam à própria vítima e foram recolhidos pela Guarda Municipal.
Uma semana antes, o feirante Paulo Roberto de Carvalho, de 63 anos, morreu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, após ser atacado por dois pitbulls enquanto seguia para a barraca onde vendia aipim. Os cães haviam escapado da casa de um vizinho. Ele chegou a receber atendimento médico no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), mas morreu em seguida.
No dia anterior ao ataque no Rio de Janeiro, um idoso morreu após quatro cães da raça pitbull avançarem sob ele em Minas do Leão, no interior do Rio Grande do Sul. A vítima, Américo Sampaio, chegou a ser internado em coma induzido na UTI do Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, mas morreu cinco dias depois.
Já em março deste ano, em Curitiba, o biólogo Nelson Rebello, de 64 anos, morreu após ser atacado pelo próprio cachorro, um vira-lata. O episódio aconteceu quando o homem tropeçou ao entrar em casa, no bairro Bacacheri, e foi mordido no braço. Nelson chegou a ser internado e, lúcido, compareceu a um hospital da região, mas o quadro evoluiu para uma embolia pulmonar e resultou em sua morte.
Um dos casos de maior repercussão aconteceu em abril do último ano, quando a escritora e poetisa Roseana Murray, de 73 anos, foi atacada por três cachorros da raça pitbull, em Saquarema (RJ), quando fazia uma caminhada. Ela foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e levada para o Centro de Trauma do Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), em São Gonçalo, com ajuda de um helicóptero da corporação. Ela perdeu um braço e uma orelha no incidente.
Em entrevista ao Fantástico, na época, a escritora afirmou: “Considero que foi um verdadeiro milagre, uma convergência de fatores impressionante. Um momento da tragédia foi tão… saí de casa, os três cachorros estavam na rua e pensei: eles vão me deixar passar. Mas quando passei, eles me atacaram ao mesmo tempo. Foi muito rápido, eles praticamente teriam me destruído. Gritei por socorro, mas não passava ninguém, pois estava indo para academia às seis da manhã. A pessoa que me salvou era um rapaz que corria na praia”, relatou a poetisa.
Apenas em janeiro de 2025, houve 131 atendimentos médicos por conta de mordedura de cão no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. De 2021 até o ano passado, houve pelo menos 126 mortes por este motivo, de acordo com a pasta. No ano passado, foram 53, um aumento de 33% em relação a 2022. Também em 2023, o número de atendimentos de vítimas de cães chegou a 1.430.
Em casos de ataque, o Código Civil brasileiro estabelece que o dono ou detentor do animal responde pelos danos causados a outro cidadão, exceto se ficar provada a culpa da vítima ou que o prejuízo decorreu de um fato de causa maior. O tutor deverá ser responsabilizado por despesas médicas, hospitalares, psicológicas, danos estéticos e mesmo indenização por lucros cessantes. Mas também há legislações municipais e estaduais para punir essas ocorrências.
Normas nos estados e municípios também tentam disciplinar o controle dos cães, para prevenir esses ataques. A legislação estadual de São Paulo determina que a condução em locais públicos de cachorros pitbull, rottweiler e mastim napolitano, entre outras raças consideradas perigosas, deve ser com coleira e guia de condução. Além disso, os tutores deverão mantê-los em condições que impossibilitem fugas. Quem descumprir a regra, pode ser multado em R$ 353,60.
No caso do Rio, uma lei estadual estabelece que a circulação de animais ferozes em locais de grande tráfego de pessoas será permitida desde que conduzidos por maiores de 18 anos. A condução deve ser com guias com enforcador e focinheira apropriados para a tipologia racial de cada animal. A lei considera feroz todo animal de pequeno, médio e grande porte que têm “índole de fera” — mais especificamente os cães pitbull, fila, doberman e rottweiler.
A desobediência destas normas pode acarretar multa e apreensão do animal, com perda de guarda. Outra resolução tornou obrigatória o registro de todos os cães pitbull ou derivados junto à Polícia Civil no prazo de 120 dias da adoção, com apresentação de comprovante de atualização da vacina antirrábica e de castração.
Para o adestrador Mauricio Rossi, a melhor forma de evitar ataques de cães é investir na prevenção, que, segundo ele, se baseia em quatro pontos essenciais: rotina clara, socialização precoce, manejo adequado e definição de limites. Ele ressalta que criar o cão em um ambiente equilibrado, no qual possa gastar energia de maneira saudável, é fundamental.
— Esses quatro pilares são fundamentais para o desenvolvimento saudável do animal. Também é importante educar as pessoas ao redor, principalmente crianças e idosos, sobre a forma correta de se relacionar, se aproximar e interagir com o cão. Esses fatores determinam se ele se tornará ou não problemático. Um cão com gasto de energia e convivência equilibrada é muito menos propenso a ficar agressivo — afirma Rossi.
O especialista ainda explica que se uma pessoa estiver diante de ataque de um cachorro e tiver tempo de pegar um objeto pontiagudo, ela poderá introduzi-lo na região do maxilar do animal, entre os dentes, fazendo uma alavanca para que haja uma pressão no sentido contrário da mordida e a boca seja aberta. O mesmo serve para terceiros que desejam ajudar a vítima.
Outra maneira de se encerrar o ataque, segundo o adestrador, é a asfixia mecânica momentânea com oa coleira, uma corda ou um cinto. O material deve ser ajustado acima do pescoço e logo atrás da orelha e o cão deve ser suspenso.
— Não é recomendado segurar as patas, agredir o animal, jogar água ou usar spray para assustá-lo. A maioria dos cães que estão em agressividade não soltam as presas com essas alternativas. Isso faz com que eles se agarrem cada vez mais — afirma Rossi.
* estagiário sob supervisão de Daniela Dariano