Em meio à nova onda de ataques lançada por Israel contra o Irã nesta segunda-feira, um alvo em particular tem um peso simbólico para o regime dos aiatolás — e também para as dissidências civis iranianas. A Penitenciária Evin tem sido o destino daqueles considerados inimigos do regime por décadas, denunciada em diversas oportunidades como um centro de violação de direitos humanos.
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Localizada no norte da capital iraniana, Evin é o centro de detenção para onde foram enviados vários jornalistas, ativistas políticos e críticos do regime iraniano, bem como cidadãos estrangeiros ou de dupla nacionalidade, o que grupos de direitos humanos afirmam fazer parte de uma política deliberada para obter concessões de países estrangeiros, incluindo trocas de prisioneiros.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, compartilhou um vídeo no momento em que a frente da penitenciária é detonada. Em uma publicação nas redes sociais, ele apontou que o ataque é uma “resposta” aos alertas reiterados de Israel para que a nação persa não atingisse alvos civis.
“Nossa resposta: ‘Viva la libertad, carajo'”, escreveu Sa’ar, marcando na publicação o presidente argentino, Javier Milei, autor do bordão em espanhol.
A imprensa iraniana noticiou o bombardeio. O site Mizan Online, vinculado ao Poder Judiciário do país, escreveu que “no mais recente ataque do regime sionista a Teerã, projéteis infelizmente atingiram a Penitenciária Evin, danificando partes da instalação. A publicação completou que todos os recursos foram mobilizados para administrar a situação, que permanece “sob controle”.
Embora veículos de imprensa iranianos, incluindo o jornal Nournews, tenham noticiado que as famílias dos detidos deveriam manter a calma e saber que “eles estão a salvo”, muitos manifestaram medo e preocupação com o destino dos parentes sob custódia.
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— Não temos notícias, ainda não sabemos se eles estão vivos. Estamos em pânico — disse Noémie Kohler, irmã da francesa Cécile Kohler, detida em Evin desde 2022, em entrevista à AFP, classificando o bombardeio israelense como “completamente irresponsável”.
Personalidades iranianas e cidadãos estrangeiros estão entre os atualmente detidos ou recentemente liberados de Evin. Muitos deles relatando condições insalubres de detenção e conduta violenta por parte dos guardas. A ativista iraniana vencedora do Nobel da Paz, Narges Mohammadi, é uma das presas na instalação a relatar agressões.
Em agosto do ano passado, advogados de Narges denunciaram que ela foi violentamente espancada por guardas e não recebeu autorização para ir ao médico depois disso. A defesa da iraniana também denunciou outra série de violações, como proibição do direito de fazer ligações telefônicas e de receber visitas da família e de seu advogado.
Em janeiro deste ano, a jornalista italiana Cecilia Sala, deu detalhes sobre o período que passou presa em Evin, em uma entrevista ao jornal americano New York Times. Ela foi detida em dezembro de 2024, enquanto trabalhava em reportagens sobre mudanças sociais no país. Dois agentes entraram em seu quarto de hotel e a levaram vendada até Evin.
Em sua cela, na qual não havia colchão ou travesseiro, ela disse ter notado uma mancha de sangue, marcas que pareciam com uma tentativa de alguém contando os dias, e a palavra “liberdade” em farsi. Também contou ter sido vendada durante horas de interrogatórios quase diários, e que através de uma abertura estreita na porta de sua cela, ouviu sons de choro, vômito, passos e pancadas que soavam como se alguém estivesse correndo e batendo a cabeça contra a porta. (Com AFP e NYT)