A história do Grado, restaurante do chef Nello Garaventa, ganhou molho all’arrabbiata logo na largada. Não por falha do chef, longe disso, mas por circunstâncias inerentes a sua vontade e seus dotes culinários. No caso, um impasse com a vizinhança, com direito a uma ação indigesta na justiça que rendeu anos de estranhamentos de ambas as partes. Em 2018, o restaurante chegou a ser interditado e fechado. Esta semana, após oito anos de “ações-recursos-ações de novo-recursos idem”, saiu, enfim, o parecer final, favorável ao Grado. Fica decidido que o restaurante de Garaventa “não perturba a ordem e o sossego dos moradores”. Está nos autos, não sou eu quem digo. Mas festejo.
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Confesso que tinha me esquecido desse imbróglio, desconhecia até que a história ainda rendia. Mas minha agenda me levou até ali recentemente. O espaço sempre me encanta quando chego. Sinto ares familiares, tipo casa de amigos de bom gosto. A decoração é de Lara, mulher e sócia de Garaventa, que cuida também do serviço. Objetos de família, fotos, nichos lindinhos, iluminação de abajures em tom âmbar (viva), arranjos de flores sempre frescas (outro viva), mesas redondas e retangulares, área externa, tudo delícia. São dois andares. Embaixo, a cozinha aberta, com o fogo correndo solto e as massas em plena produção. Dá para bisbilhotar.
O Grado trabalha com menu degustação (não chega a ser menu indigestão, de mil pratos, felizmente). São três etapas, à escolha, além do couvert com pão chamuscado e manteiga caseira. Custa R$ 223 e os pratos mudam (alguns têm um acréscimo no valor). Conheço alguns, como vitello tonnato, fatias rosadas de vitelo com creme de atum e alcaparras — para quem curte esse prato bissexto, o dali é o meu preferido. De entrada, tem ainda crudo de peixe com creme de burrata, flor de abobrinha recheada de mozzarella de búfala com aliche (+ R$ 7) e minialcachofras fritas servidas com percorino ralado (+ R$ 7). Esses dois últimos, só vejo ali.
De principais, servem tagiolini gratinado na brasa com molho bechamel; agnolotti de javali “cacio pepe”; porchetta com cogumelos e funcho (+ R$ 40)… Do mar, anéis de lula com aspargos na brasa. De sobremesa, a crostata rústica de maçã quentinha, que adoraria ter aqui do meu lado.
Sem querer meter a colher (só na crostata), mas já metendo, a Visconde de Carandaí é uma rua cheia de casas que correm o risco de virem abaixo e darem lugar a edifícios. Aí, sim, é barulheira e em vão. Então, que siga o Grado, de bom grado.
Rua Visconde de Carandaí 31, Jardim Botânico (99435-8386). Ter a qui, das 19h às 23h. Sex e sáb, das 12h30 às 16h30 e das 19h às 23h. Dom, das 12h30 às 17h.