Uma nova coleção biológica passa a integrar o acervo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, na Zona Sul da cidade. A compilação Mantis Neotropical é formada por cerca de 800 exemplares de louva-a-deus, vinda do Projeto Mantis, organização que trabalha há uma década com pesquisa e conservação do inseto em florestas tropicais. O acervo é uma referência nacional.
A maior parte dos exemplares da coleção provêm de expedições do projeto — hoje, com o biólogo Leo Lanna e o designer Lvcas Fiat — a regiões de biomas como Amazônia e Mata Atlântica brasileiros. Tais ações têm desafios, como o trabalho feito durante a noite, na busca pelos insetos que se camuflam de galhos e flores, folhas secas ou verdes e musgos. Este artifício é usado para captura de presa, geralmente insetos menores que eles, e para se esconder de predadores, como aves e anfíbios.
Estas expedições em meio aos habitats naturais destes insetos proporcionou a descoberta de 15 novas espécies em diferentes estágios de descrição. As pesquisas contam com parceiros, tanto pesquisadores — caso de João Herculano, também curador adjunto na coleção e com trabalho com foco nos louva-a-deus da Mata Atlântica — como de instituições, a exemplo da National Geographic Society, que financia a próxima expedição, a ser realizada pelo projeto junto ao pesquisador peruano Julio Rivera para duas grandes expedições à Hileia Baiana em busca de espécies novas e raras.
Pesquisadores e estudantes poderão visitar a coleção no Jardim Botânico a partir do segundo semestre deste ano. Há planos que o acervo também seja exposto ao público em ocasiões especiais. Também neste ano, terá início o processo de tombamento e digitalização destes materiais.
A coleção conta com os exemplares armazenados a seco em gavetas entomológicas dentro de armários próprios em contêiner climatizado, garantindo sua preservação. A expectativa é de ampliá-la, tendo representantes de todos os louva-a-deus do Brasil, país com maior diversidade de espécies deste inseto no mundo.
A curadora da coleção, a tecnologista do Jardim Botânico do Rio Maria Lucia França Teixeira Moscatelli, destaca o papel deles como reguladores de outras espécies, por serem um predador: “Eles desempenham um papel importante no controle de outros insetos, ajudando a manter o equilíbrio nos ecossistemas onde vivem”, afirma.
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“A cada expedição descobrimos não só espécies novas para a ciência, como documentamos a rica e surpreendente biodiversidade noturna. Cada reserva e terra protegida é única, tem detalhes, bichos e plantas que não se vê em nenhum outro lugar e a coleção mostra essa riqueza por meio dos louva-a-deus”, destaca o fundador do Projeto Mantis e curador adjunto, Leonardo Lanna.
O nome do acervo — Mantis Neotropical —, no entanto, tem inspiração internacional. Mantis significa louva-a-deus na língua grega, em que, para este povo, tem o poder de mostrar o caminho a algo ou alguém que foi perdido. Já o termo Neotropical está relacionado à localização, sendo o nome da região compreendido do centro do México, passando pela América Central até chegar na América do Sul.
O Jardim Botânico e o Projeto Mantis firmaram parceria em 2016. Entre os projetos realizados em conjunto desde então está o Laboratório de Fitossanidade do Jardim, que funciona como base para pesquisas de louva-a-deus.