Uma operação da Polícia Civil estourou às vésperas do ano-novo uma central de desbloqueio de celulares roubados no Morro do Fallet-Fogueteiro, em Santa Teresa. Na oficina clandestina, foram encontrados 200 aparelhos. Os criminosos tinham softwares e equipamentos com os quais podiam derrubar até as barreiras de segurança de iPhones, considerados os mais protegidos. Os IMEIs (número único de cada aparelho) eram modificados, para que os celulares pudessem ser revendidos. Além disso, programas permitiam que robôs testassem inúmeras combinações de senhas até conseguir destravar os celulares.
Na mesma ação, os policiais apreenderam 5 toneladas de drogas. O responsável pela central de desbloqueio, Patrick Fontes Souza da Silva, de 31 anos, tem um extenso histórico criminal, com passagens por receptação (três acusações), estelionato (duas), apropriação indébita, tráfico de drogas e associação para o tráfico. Ele foi preso em flagrante.
A Polícia Civil começou a devolver esta semana os aparelhos recuperados. Na operação em 27 de dezembro, além dos celulares, agentes da 7ª DP (Santa Teresa) apreenderam cinco toneladas de maconha.
Os aparelhos encontrados foram levados para análise na delegacia, onde agentes iniciaram o trabalho de levantamento. Até agora já foram identificados os proprietários de 70 telefones — e cerca de 60 procuraram a 24ª DP para buscar os equipamentos. Mais vítimas devem ser chamadas à medida que o trabalho de identificação avançar.
A delegada titular da 24ª DP, Kely de Araújo Goularte, que estava na 7ª DP quando houve a apreensão, disse que, dos 200 telefones apreendidos, mais da metade não tinha registro de ocorrência, o que dificultou o trabalho policial.
— Tivemos que oficiar as operadoras para identificar os proprietários e, após quase três meses de investigação, conseguimos essas informações. No caso das vítimas estrangeiras, os telefones foram encaminhados para os consulados, e enviamos e-mails para que esses turistas possam buscar seus aparelhos nas representações diplomáticas — explicou a delegada.
Ela ainda reforçou a importância do registro detalhado dos crimes:
— É fundamental que, ao serem vítimas de roubo ou furto, as pessoas façam o registro de ocorrência numa delegacia e informem o IMEI do telefone. Esse número é a identificação e a prova de propriedade do aparelho. É por meio dele que conseguimos rastrear e localizar celulares subtraídos, facilitando a devolução ao verdadeiro dono.
Uma das vítimas que estiveram na delegacia para buscar o aparelho roubado foi o pintor Ivo da Conceição Neto, de 22 anos. Ele estava no engarrafamento na Avenida Brasil, na altura de Deodoro, quando um homem invadiu o carro pela janela e arrancou o celular de sua mão. Ele disse que ainda tentou reagir, mas outros cinco bandidos saíram de um matagal.
— Achei que era golpe quando mandaram mensagem para o telefone da minha esposa informando que tinham encontrado o celular. Quem atendeu foi minha filha de 6 anos. Só acreditei mesmo quando confirmei que era a polícia — disse o pintor, que não registrou o roubo. — Estou pagando parcelado o aparelho novo, quase R$ 1.800. Recuperar o antigo vai me ajudar muito. Vou deixar o novo em casa e trabalhar com o outro, por segurança.
Em agosto do ano passado, a Polícia Civil do Rio já tinha feito uma ação para devolver 500 aparelhos recuperados. Em outros estados, iniciativas semelhantes também vêm sendo realizadas. No Piauí, nos últimos dois anos, mais de dez mil aparelhos foram recuperados e devolvidos aos proprietários. A estratégia piauiense foi adotada pelo sistema Celular Seguro, do Ministério da Justiça, que permite o bloqueio de aparelhos roubados, furtados e perdidos.