Durante décadas, ninguém perguntou por ele. Não apareceu em eventos de colecionadores, não mudou de mãos em leilões e tampouco foi retratado em revistas especializadas. Chegou-se até a especular que teria sido destruído durante um transporte mal-sucedido.
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Longe disso, o modelo permaneceu imóvel, acumulando poeira em um depósito escondido em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ali, entre dezenas de carros exóticos relegados ao esquecimento, repousava um Lamborghini Miura P400, um dos 275 exemplares fabricados entre 1966 e 1970, considerado por muitos como o primeiro superesportivo moderno da história.
E o local da descoberta não era um simples depósito. Rudi Klein, um colecionador americano com um perfil tão discreto quanto enigmático, reuniu secretamente uma frota de veículos excepcionais. Diferentemente de outros entusiastas que exibem com orgulho seus carros, Klein preferiu o sigilo. Guardava seus Ferrari, Aston Martin e Lamborghini como quem coleciona brinquedos de edição limitada sem tirá-los da embalagem. Entre eles, havia três Miura. Um deles, o chassi número 3417, chamou rapidamente a atenção dos especialistas no ano passado.
Este Lamborghini Miura P400, originalmente finalizado no característico tom Giallo Miura com interior em couro sintético azul, foi destinado ao mercado italiano. Segundo os registros de fábrica, foi entregue à concessionária Lamborcar em março de 1968, com um único nome registrado como comprador: senhor Zampolli.
É aqui que a história ganha contornos interessantes. Embora seja um sobrenome comum na Itália, alguns especulam que o comprador tenha sido Claudio Zampolli, piloto de testes e ex-engenheiro da Lamborghini, mais tarde conhecido por fundar a marca Cizeta. Zampolli também era responsável por importar modelos da marca para o sul da Califórnia — uma pista que pode explicar como esse Miura chegou às mãos de Rudi Klein no final dos anos 1970. Não há certezas, mas as peças se encaixam.
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O que se sabe é que, em março de 1978, o Miura já havia sido fotografado nas instalações da Porsche Foreign Auto Wrecking, exibindo um novo tom verde-água brilhante que ainda conserva. Desde então, passaram-se 46 anos sem que o veículo voltasse a aparecer em público.
Além do mistério, o que distingue este exemplar não é apenas sua história, mas sua autenticidade. Conforme verificado pela casa de leilões RM Sotheby’s, todos os números visíveis do chassi, motor e carroceria coincidem com os do Miura número 3417, o exemplar de produção número 159. Além disso, o carro ainda mantém seu motor V12 original com numeração correspondente — um fator crucial no universo dos automóveis clássicos.
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Os origens do Miura o colocam no topo do design e da engenharia automobilística. Concebido por uma jovem equipe de engenheiros — entre eles Gian Paolo Dallara e Paolo Stanzani —, com carroceria desenhada por Marcello Gandini para a Bertone, o Miura estreou como chassi rodante no Salão de Turim, em 1965, e, poucos meses depois, surpreendeu o mundo no Salão de Genebra. Sua arquitetura, com motor traseiro montado transversalmente, estabeleceu as bases da era moderna dos supercarros.
Em outubro do ano passado, a RM Sotheby’s colocou à venda esse impressionante exemplar como uma peça única para restauração, com todo o potencial para recuperar seu estado original. O modelo foi vendido por US$ 1.325.000.
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Embora o comprador (cujo nome não foi divulgado) tenha agora a monumental tarefa de restaurar o chassi 3417, sua história, autenticidade e linhagem fazem dele um forte candidato a retornar aos principais concursos de elegância do mundo automobilístico.

