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— O sistema lançou a bomba nuclear e, se usam uma arma tão poderosa contra nós, é evidentemente porque estamos prestes a vencer as eleições — disse Le Pen diante de deputados do Reagrupamento Nacional (RN) nesta terça-feira.
O caso pelo qual Le Pen foi condenada envolve desvios de verbas de fundos europeus destinadas ao pagamento de assessores de eurodeputados, que foram repassados a funcionários do partido que trabalhavam com política doméstica francesa. Estima-se que o esquema, que aconteceu entre 2004 e 2016, desviou € 2,9 milhões (R$ 18,1 milhões).
Apesar da condenação, Le Pen negou irregularidades e junto com seu partido acusou o sistema judicial de agir de forma politicamente motivada — uma narrativa que foi amplificada pela extrema direita continental. Também no encontro com representantes do RN, ela afirmou que não admitiria que a eleição fosse “roubada” dos franceses.
— Não deixaremos que o povo francês tenha a eleição presidencial roubada — afirmou Le Pen, que era apontada por pesquisas eleitorais como candidata mais votada em cenários projetados de 1º turno.
A francesa agora pressiona a justiça para que analise seu recurso contra a sentença e para que o julgamento da apelação aconteça o mais rápido possível, para que ela tenha tempo, em caso de absolvição ou inabilitação suspensa, de disputar a Presidência.
Aliados nacionais e internacionais da política nacionalista e anti-imigração reagiram com críticas virulentas ao que chamaram de “tirania dos juízes”, nas palavras do presidente do RN, Jordan Bardella, e contra um abuso do “sistema legal” pela “esquerda radical”, segundo o empresário americano Elon Musk.
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— Ninguém que se preocupe com a democracia pode se ficar feliz com uma sentença que visa a líder de um partido importante e priva milhões de cidadãos de representação — disse a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, ao jornal Il Messaggero.
Democratas franceses e integrantes do Poder Judiciário, porém, afirmam que a decisão segue o devido processo legal e os pilares do Estado de Direito.
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— Esta decisão não é uma decisão política, e sim judicial, determinada por três juízes independentes e imparciais, ao final de um processo justo — defendeu nesta terça-feira Rémy Heitz, um dos dois principais magistrados da França.
O atual presidente do Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella, voltou a se pronunciar nesta terça, descrevendo a decisão como “desproporcional, política e partidária”.
— Se você está na política, você não está acima da lei, mas também não está abaixo dela — disse Bardella, considerado o “plano B” do partido para as eleições presidenciais. — Enquanto ela puder levar o RN ao poder, tudo será feito para nos impedir de chegar lá. O lugar para lutar contra adversários é em terreno político, não legal. Eu digo àqueles que se alegram com esta decisão: hoje somos nós, amanhã serão vocês. (Com AFP)