Em meio a impasses gerados pela abertura antecipada de uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) e por atritos com o Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca promover um freio de arrumação em palanques do PT nos estados para as eleições de 2026. O objetivo é sinalizar mais rigor com parlamentares que se aproximaram do governo no início do mandato, mas que hoje atuam na contramão dos planos eleitorais do partido, e também assegurar candidaturas competitivas em estados como Minas e na região Nordeste, de olho na eleição presidencial e na governabilidade.
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O cenário mineiro é o principal nó para Lula. Ele tem insistido em uma candidatura do ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a governador, apesar de apelos da cúpula do Congresso e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para Lula indicá-lo à vaga do ex-ministro Luís Roberto Barroso, que se aposentou ontem.
Lideranças do PT avaliam que Pacheco é o candidato mais viável com disponibilidade para abrir palanque a Lula em Minas, que é o segundo maior colégio eleitoral do país. No entanto, em caráter reservado, uma ala do partido tem mostrado preocupação com a hipótese de Pacheco, caso preterido na corrida ao Supremo, se desanimar com a ideia de uma candidatura atrelada a Lula.
Um aliado de Pacheco avalia que ele teria mais chances de se manter motivado caso a vaga de Barroso abrisse logo depois da eleição de 2026; nessa hipótese, segundo esse interlocutor, Lula poderia acenar com uma indicação ao Supremo em caso de derrota nas urnas, sugestão que agora perdeu força. A próxima aposentadoria prevista, do ministro Luiz Fux, só ocorrerá em 2028.
A ideia de Lula, por outro lado, é convencer Pacheco de que sua atuação na aprovação do Propag, programa para refinanciar estados endividados como Minas, e o apoio do presidente são fatores que o ajudarão nas urnas. A principal hipótese, caso ele seja candidato, é articular sua filiação ao MDB, como parte de uma aliança nacional do partido com Lula.
— O plano A é o Pacheco. É um nome competitivo, que vai poder mostrar como agiu para resolver problemas sérios de Minas, como a dívida com a União. Também possibilita que a gente monte um palanque amplo, com capacidade de conversar com várias forças políticas — avaliou o deputado federal Rogério Correa (PT-MG).
Em outra frente, integrantes do governo passaram a cortejar como plano B o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, que se filiou na semana passada ao PDT. No mesmo dia, ele participou de um jantar com a presença da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), com quem conversou em tom amistoso.
Há desconfianças, dentro do PT, sobre a viabilidade de uma aliança com Kalil, que tem rechaçado a ideia de fazer campanha colado a Lula. Interlocutores do ex-prefeito avaliam que o eleitorado do PT já tende a apoiá-lo, se Pacheco não for candidato, em um cenário no qual deve enfrentar dois aliados do bolsonarismo: o vice-governador Mateus Simões (Novo) — que negocia se filiar ao PSD — e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos).
Kalil, por outro lado, tem boa relação com Pacheco e já sinalizou abertura a uma composição, na qual um dos dois poderia disputar o Senado. Procurado, o ex-prefeito disse que “não tratou de política” na conversa com Gleisi e que dialoga com a ministra desde a campanha de 2022, quando ele disputou o governo de Minas na aliança de Lula.
— Nunca briguei com o PT. O que acontece é que há três anos eu não colocava a cara na rua. Agora estou trabalhando na minha pré-candidatura (ao governo), mas conversando com quem sempre conversei — declarou Kalil.
De olho nessas dificuldades para a montagem de palanques nos estados, o Planalto fez uma leva de demissões, na última semana, atingindo parlamentares que, além de votarem contra o governo no Congresso, vêm atrapalhando planos do PT nos respectivos estados. Em Minas, por exemplo, foi demitido o superintendente de Agricultura, Everton Augusto Ferreira. Ele foi indicado pela bancada do Solidariedade, que tem mostrado apoio à candidatura de Mateus Simões ao governo.
Também entraram na mira superintendentes da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) na região Nordeste, indicados por parlamentares do União Brasil. Em Sergipe, conforme antecipou o portal UOL, o governo deve formalizar nos próximos dias a demissão do superintendente Thomas Jefferson Costa, indicado pelo ex-deputado André Moura (União-SE).
Moura quer concorrer ao Senado na chapa do governador Fábio Mitidieri (PSD), que também deve contar com o senador Alessandro Vieira (MDB-SE). A candidatura pode atrapalhar os planos de reeleição do senador petista Rogério Carvalho.
Filha de Moura, a deputada federal Yandra Moura (União-SE) votou contra o governo, há duas semanas, na derrubada da medida provisória (MP) alternativa ao IOF, que buscava recompor a arrecadação federal. Outro voto contrário ao Planalto na ocasião foi do deputado Pedro Lucas Fernandes (União-MA), que já havia desagradado Lula ao recusar um convite para ser ministro das Comunicações. Fernandes, que busca se cacifar como candidato ao Senado, viu a própria irmã, Lena Carolina, ser demitida da superintendência estadual do Iphan na semana passada, após a votação.
Além de retaliação a Fernandes, a medida foi vista no estado como sinal de que o deputado não está entre as prioridades do Planalto. Um de seus concorrentes pela vaga ao Senado é o deputado licenciado, e hoje ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA), que agradou o PT ao seguir no governo mesmo após receber ultimato de seu partido, que ordenara a entrega de cargos.
Em visita recente ao Maranhão, Lula pediu ao governador Carlos Brandão (sem partido) para pacificar disputas na base e garantir a unidade no palanque. Brandão trabalha para indicar o sobrinho, Orleans Brandão (MDB), como sucessor. Ele tem boa relação com Fernandes, mas aliados têm garantido apenas o apoio à reeleição do senador Weverton (PDT-MA), deixando em aberto a segunda vaga na chapa. O PT também pleiteia mais espaço nas conversas.
Na Bahia e no Rio Grande do Norte, estados em que o União Brasil faz oposição ao PT, também houve demissões de superintendentes da Codevasf indicados por deputados do partido. A leva de cortes também atingiu, anteontem, uma diretora da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), Ana Valda Galvão, que é aliada do ex-prefeito de Natal Álvaro Dias (Republicanos).
Correligionário do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), Dias também é aliado do senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição ao governo Lula. Marinho avalia se candidatar ao governo potiguar, contra o grupo da atual governadora Fátima Bezerra (PT), que tentará eleger sucessor.