Às vésperas da Copa do Mundo de Clubes, os altos custos de ingressos e hospedagens, a falta de interesse de americanos e europeus e o receio com a política antimigratória de Donald Trump geraram preocupações sobre o risco de estádios esvaziados. Em parte dos jogos, essa realidade se confirmou. Em outros, sul-americanos e fãs dos gigantes europeus fizeram sua parte e tomaram as arquibancadas. A fase de grupos teve média de 34.758 pessoas de público e de 56,7% de ocupação dos estádios, o que agradou a Fifa.
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O número é semelhante ao registrado nos últimos mundiais da Fifa, de 2023 e 2024, mas ficou abaixo da Copa América do ano passado, também realizado nos EUA, e que teve média de 49 mil torcedores.
O GLOBO apurou que os mais de 1,6 milhão de ingressos vendidos até aqui foram considerados um número positivo e acima das expectativas pela Fifa, principalmente por se tratar de um torneio inédito. Satisfeita com a presença, a entidade encara esta edição como um teste para as próximas Copas de clubes, e se anima com o interesse de Brasil, Espanha e Marrocos em sediá-las. As imagens de festas das torcidas, sobretudo sul-americanas e africanas, tanto nas cidades americanas quanto nas suas cidades, foi outro fator positivo.
O Real Madrid (Espanha) foi o clube que mais levou torcedor aos estádios: 197.474 pessoas. Paris Saint-Germain (França), Atlético de Madrid (Espanha), Inter Miami (EUA), que tiveram adversários brasileiros, e Palmeiras fecham o top-5. O maior público foi PSG x Atlético de Madrid, com 80.619 pessoas. Já o pior foi Ulsan HD (Coreia do Sul) x Mamelodi Sundowns (África do Sul), com apenas 3.412 torcedores.
Clubes com maiores públicos somados na fase de grupos do Mundial:
- Real Madrid (Espanha): 197.474
- Paris Saint-Germain (França): 184.946
- Atlético de Madrid (Espanha): 155.247
- Inter Miami (EUA): 153.624
- Palmeiras (Brasil): 142.368
Maiores públicos da fase de grupos do Mundial:
- 80.619: PSG 4 x 0 Atlético de Madrid – Los Angeles – 1ª rodada
- 70.248: Real Madrid 3 x 1 Pachuca – Charlotte – 2ª rodada
- 64.811: Salzburg 0 x 3 Real Madrid – Filadélfia – 3ª rodada
- 63.587: Bayern de Munique 2 x 1 Boca – Miami – 2ª rodada
- 62.415: Real Madrid 1 x 1 Al Hilal – Miami – 1ª rodada
Piores públicos da fase de grupos do Mundial:
- 3.412: Ulsan HD 0 x 1 Mamelodi Sundowns – Orlando – 1ª rodada
- 5.282: Pachuca 1 x 2 Salzburg – Cincinnati – 1ª rodada
- 6.730: Benfica 6 x 0 Auckland – Orlando – 2ª rodada
- 8.239: Borussia 1 x 0 Ulsan HD – Cincinnati – 2ª rodada
- 10.785: Wydad 1 x 2 Al Ain – Washington – 3ª rodada
Além dos altos preços e motivações diferentes entre as torcidas, a competição tem estádios muito grandes, o que dificultou lotações. Assim, públicos como o de 34.736 em Fluminense x Borussia Dortmund (Alemanha), em Nova Jersey, um local com capacidade de 82.500, trouxeram sensação de jogo vazio. A baixa venda de ingressos levou a Fifa a realizar promoções especiais, e muitos tiveram seus preços reduzidos nas vésperas dos jogos. Para a estreia da competição, Inter Miami x Al Ahly (Egito), houve até sorteio de ingressos, em parceria com uma universidade de Miami.
O botafoguense Pedro Lambert viajou para os EUA para assistir aos jogos do alvinegro contra o PSG e o Atlético de Madrid e contou que o preço original, de cerca de R$ 350, caiu para R$ 100. No setor brasileiro, com torcida mobilizada e bateria presente, o clima foi de um estádio cheio e quente, disse. Nos outros setores, porém, as torcidas “frias” pareciam ser formadas por moradores locais que aproveitaram a chance de ver os times europeus, especialmente o PSG. A vitória heróica do Botafogo foi acompanhada por 53.699 pessoas.
— Era feriado em Los Angeles (contra o PSG) no dia, o que ajudou. Nosso lado estava cheio, tinha um calor de estádio como se fosse jogo do Botafogo no Brasil mesmo. Por outro lado, a torcida do PSG estava bem fria, cantaram nada — explica Lambert, que acrescentou ter visto muitas camisas de outros torcedores brasileiros, como vascaínos, são paulinos, gremistas e atleticanos. — Realmente, tinha muito turista. Mas, no dia a dia, era raro ver camisas do PSG ou do Atlético de Madrid, só via do Botafogo e também do Monterrey e River Plate, que também jogaram em Los Angeles.
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Morador de Nova York, o carioca e rubro-negro Túlio Brasil aproveitou a chance para ver seu clube de coração de perto. Ele foi nas duas partidas na Filadélfia, contra Espérance (Tunísia), cuja torcida o impressionou, destacou, e contra o Chelsea (Inglaterra).
— A torcida veio em peso contra o Chelsea. Foi uma grande comunhão da comunidade brasileira dos EUA com torcedores que decidiram viajar — afirma Brasil. — Contra o Espérance, o estádio estava mais vazio e eu vi bastante estrangeiro com a camisa da seleção arriscando nos palavrões em português.
Apesar da média da Copa América, no ano passado, ter superado o da primeira fase do Mundial, ele diz que percebeu mais mobilização de torcedores dessa vez, incluindo concentrações em eventos durante a semana. Além disso, ele lembrou que a final da NBA, que concorreu com a competição nos primeiros dias, nesse ano envolveu franquias menores: Oklahoma City Thunder e Indiana Pacers.
Comparativos de média de público:
- Copa América 2016 (EUA): 46 mil
- Copa América 2024 (EUA): 49 mil
- Mundial de Clubes 2022 (Marrocos): 40.325
- Mundial de Clubes 2023 (Arábia Saudita): 35.269
- Copa Intercontinental 2024 (Catar): 36.755
Especialistas consideraram os preços, incluindo todo o custo da viagem, como o principal obstáculo para a venda dos ingressos. Joaquim Lo Prete, diretor geral da Absolut Sport no Brasil, agência que venceu pacotes para a Copa do Mundo de clubes, explicou que muitas empresas, patrocinadores e agências de viagem preferiram priorizar a Copa do Mundo de seleções no ano que vem.
— Muitos parceiros sinalizaram redirecionar verba para a Copa de 2026, preferindo aguardar definições de grupos e cidades-sede. Além disso, a mobilização local variou de cidade para cidade, o que impacta a atmosfera no estádio — avisa.
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Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa que gerencia a carreira de centenas de atletas, diz que revisão da precificação é algo que deve acontecer.
— O público não foi suficiente para tomar estádios gigantescos, mas a média foi relevante. Devemos considerar também que políticas recentes vem gerando restrição de circulação dos imigrantes nos EUA, o que reduziu do número de turistas de várias nacionalidades, e era impossível prever isso quando se definiu a sede — ressalta.
Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo, acrescentou que o futebol não é o principal esporte do americano.
— Uma divulgação consistente no país sede e a prospecção de patrocinadores locais que queiram ativar seus clientes podem ser saídas para ter um público maior nos jogos, pois parte grande das ocupações das arenas devem ser de público que moram nas proximidades onde acontecem as partidas — finaliza.