Resgatar as raízes do estilo masculino negro na diáspora: esse é o tema do próximo Met Gala, tradicional evento de gala do Metropolitan, que acontecerá nesta segunda-feira (5). A exposição que acompanhará, chamada “Superfine: Tailoring Black Style”, trará ao museu um grande painel do dândi negro. Expert em macrotendências, Iza Dezon adorou a abordagem. “Atualmente, há diversas manifestações de masculinidades negras, e esse dandismo se mistura a regiões e também ao lifestyle”, analisa. O stylist e comunicador de moda Dudu Bertholini destaca a importância de se colocar o homem preto na ribalta. “Espero ver um protagonismo preto no red carpet e que as pessoas tenham cuidado extra com apropriações culturais.”
- Lady Gaga em Copacabana: moradores do Chopin reduzem festas para show da cantora no Rio
- Black Pool: conheça a piscina secreta que Lady Gaga pode usar no Copacabana Palace
O tema do MET Gala 2025 é “Superfine: Tailoring Black Style” (Impecável: Moldando o Estilo Negro). É o primeiro, desde 2023, a focar exclusivamente no universo masculino desde 2003. De acordo com o MET, “explora o papel do estilo sartorial na formação de identidades negras, focando-se no surgimento, significado e proliferação do dândi negro”.
O “dress code”, ou seja, a orientação de como os convidados devem se vestir, é “Tailored for You”, em tradução livre, “Feito sob Medida para Você”. Ele remete ao dandismo negro, um movimento estético e identitário caracterizado, regra geral, por peças de alfaiataria bem cortadas, e um visual elegante. Mas a ideia é que os convidados não se limitem apenas aos ternos e similares, mas usem a criatividade para se expressar.
Por aqui, a inspiração no dandismo negro também se faz presente e ganha tempero tropical. Marcas como Dod Alfaiataria, Ateliê Mão de Mãe e Inttui dão viés político e ancestral em coleções que transitam pelo passado de olho no futuro. “Quero ser reconhecido como o cara que reinventou esse lance da elegância”, diz o paulistano Jubba Sam, de 51 anos, fundador da Dod Alfaiataria, cujo nome é a abreviação das expressões “dapper (bem vestido) or dandy”.
Jubba frisa que o Met Gala só fará sentido se impactar na quantidade de pessoas pretas que estarão no baile. No dia a dia da Dod Alfaiataria, essa troca já acontece. “Viramos referência para músicos que são a nossa referência”, comemora. A “não tradicional” alfaiataria criada pelo skatista é traduzida em calças com shape mais largo e partes de cima “quadradas”. “Para atender a corpos diversos.”
Já o estilista baiano Patrick Fortuna, de 38 anos, do Ateliê Mão de Mãe, exalta o tema do baile do Met. “Eu como homem preto me sinto extremamente lisonjeado. Falar sobre homens pretos é falar sobre revolução e lembrar nomes como Martin Luther King e Nelson Mandela”, analisa.
“Ver que essa história está sendo contada no tapete vermelho é muito gratificante e nos empodera para que possamos ocupar, cada vez mais, espaços que nos foram negados. Será um marco, icônico”, opina, citando ainda o peso dos coanfitriões do evento: “Pharrell Williams, Lewis Hamilton e A\$AP Rocky, entre outros”.
Com uma rede de 80 crocheteiras, o propósito da etiqueta é valorizar o artesanal e trazer à tona a cultura preta. “A coleção de verão 2025 vem cheia de potência e carregada de simbologia. É inspirada nas Ìyàmi, orixás que representam o ancestral feminino”, explica o estilista.
Em 2025 os coanfitriões são o músico Pharrell Williams, que é diretor criativo da Louis Vuitton, patrocinadora do evento, o rapper A$AP Rocky, ator Colman Domingo, e o piloto Lewis Hamilton. Anna Wintour, que organiza o MET Gala desde 1995, é coanfitriã honorária, assim como o jogador de basquete LeBron James.
Quem comparece ao baile também é assunto de grande expectativa. Ao todo são cerca de 400 convidados e todos devem ser aprovados pessoalmente por Anna Wintour. A lista nunca é divulgada com antecedência, mas os nomes confirmados sempre vazam antes. Na festa são esperados nomes como Rihanna (casada com A\$AP Rocky), e membros do comitê de anfitriões como André 3000, Usher, Chimamanda Ngozi Adichie, Simone Biles e seu marido Jonathan Owens, Doechii, Ayo Edebiri, Regina King, Spike Lee, Janelle Monáe.
Além deles, a imprensa americana dá como certa a presença de Zendaya, Jennifer Lopez, Shakira, Lizzo, Gigi Hadid, Kylie Jenner, Timothée Chalamet, Kendall Jenner, Cardi B, Dua Lipa, Bruno Mars, Ariana Grande, Rosalía e mais. Entre os brasileiros, especula-se que estarão presentes Fernanda Torres — vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz e indicada ao Oscar —, Anitta e Bruna Marquezine.
Para o stylist Rogério S., que se dedica há 30 anos à moda masculina, alguns nomes precisam ser lembrados. “Considero o Luiz de Freitas o primeiro dândi da moda brasileira. O cantor Gilberto Gil também carrega essa elegância, assim como o estilista Luiz Cláudio Silva, da Apartamento 03”, lista. Luiz de Freitas lembra como se apropriou da estética nas décadas de 1980 e 1990: “Usei minha moda para emprestar liberdade e autoestima ao homem negro, tão negligenciado. Abracei o dandismo, mas acrescentei fantasia a esse movimento para dar autenticidade.”
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/s/Z/O4cEw8QBqUZA1rnON7xw/109136325-el-exclusivo-o-estilista-patrick-fortuna-da-marca-mao-de-mae.jpg)
Diretor criativo da marca Inttui, o baiano de Feira de Santana Washington Carvalho, de 26 anos, acredita que a tendência foi, primeiramente, uma fuga. “Mas tornou-se personalidade”, frisa. Na sua etiqueta agênero, criada há quatro anos, ele sugere uma alfaiataria desconstruída. “Com materiais como linho, adequados ao nosso clima. A calça tem cintura alta. A modelagem está no DNA da minha marca, que fala sobre intuição”, conta.
De acordo com Monica Miller, professora e presidente de estudos africanos no Barnard College, da Universidade Columbia (a exposição do Met, “Superfine: Tailoring Black Style”, é inspirada no seu livro “Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity”), “o dandismo negro foi uma ferramenta para repensar a identidade”.
Vale lembrar que o movimento dândi, que eclodiu no século XVIII, foi, além de estilo de vida, uma forma de contestação do sistema indumentário daquela época, indo contra o traje masculino da burguesia. Na moda, isso se refletia em homens com lenços amarrados no pescoço, gravatas de musseline e modelagem mais ajustada. O stylist Rogério S. pontua a renovação do estilo através do tempo. “Os dandies do Congo, conhecidos como sapeurs, inseriram as cores vibrantes. Essa liberdade faz toda diferença.”