A moeda Robux é restrita para uso dentro do universo dos jogos da Roblox, onde pode ser empregado para a compra de itens dentro dos games — ou seja, não pode, na maioria dos casos, ser convertida em reais para outros usos. A plataforma Roblox é apontada por delegados e pesquisadores que acompanham o tema como um dos principais canais de recrutamento para as chamadas “panelas” do Discord, os grupos fechados em que conteúdos de violência extrema são produzidos e consumidos.

— É muito comum o uso da moeda Robux. Os jovens ficam 24 horas nesses jogos (que são hospedados na plataforma). Por vezes, para eles, (o Robux) é visto como mais valioso do que dinheiro — diz a delegada Lisandréa Salvariego, coordenadora do Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) da Polícia Civil de São Paulo.

Os investigadores descobriram que os pagamentos eram oferecidos tanto para os ataques a moradores de rua quanto para práticas de automutilação e maus-tratos a animais. A oferta de dinheiro para as práticas violentas é um fenômeno recente e que tem chamado a atenção das autoridades.

Print de um dos grupos que mostra a oferta de dinheiro ou Robux para a prática de automutilação — Foto: Reprodução

Procurada, a Roblox não comentou o caso até a conclusão desta reportagem, mas o espaço segue aberto para manifestações. O Discord informa, em nota, que tem colaborado com as autoridades brasileiras em investigações e investido mais em ações de segurança e moderação na plataforma.

O cumprimento de desafios é visto como uma forma de ascender nas estruturas hierárquicas dos grupos fechados do Discord, uma plataforma amplamente usada para conversas entre jogadores de games virtuais. Diversas vezes, no entanto, as atividades são realizadas sob ameaças, como de vazamento de vídeos íntimos.

Nove adolescentes foram alvo da operação de quinta-feira (3) em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Pará e Pernambuco, além do Distrito Federal. Foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão. Ao menos quatro ataques contra moradores de rua foram orquestrados por esses menores de idade. O número de vítimas afetadas pelas ações do grupo, no entanto, passa de 400, estima a delegada Lisandréa.

O adolescente brasileiro que vive na França não visava ganhos financeiros e usa recursos próprios para comprar máscaras, facas e oferecer pagamentos para os atos violentos, que chegavam a R$ 2 mil.

— Ele visava poder, adorava ser temido — diz a delegada, que afirma a operação identificou um ataque a uma escola do Rio Grande do Sul sendo planejado em um dos grupos, que nunca chegou a ser realizado.

O Discord informou, em nota, que “violência e atividades ilegais” não têm lugar na plataforma e que a empresa tem “equipes especializadas dedicadas ao combate desses grupos. Investimos fortemente em ferramentas avançadas de segurança e sistemas de moderação para proteger nossos mais de 200 milhões de usuários em todo o mundo”.

A empresa diz que reporta proativamente às autoridades brasileiras “grupos e indivíduos envolvidos nesse tipo de conduta, além de outros comportamentos que representavam risco à segurança de terceiros” e que mantém diálogo com o Ministério da Justiça, realiza ações de treinamento com policiais e promotores e que reforçou as equipes responsáveis pela moderação de conteúdo. “Contratamos uma equipe e contamos com o apoio de uma agência local dedicada ao mercado brasileiro”, informa a empresa.

moeda do Roblox era usada para pagar automutilação e ataques a moradores de rua