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Kirk, 31 anos, aliado do presidente americano, Donald Trump, e chefe da Turning Point USA (TPUSA), a principal organização conservadora juvenil dos Estados Unidos, foi baleado e morto em um evento no campus da Universidade Utah Valley nesta quarta-feira.
As declarações de choque e condolências por conta da morte de Kirk também surgiram assustadoramente uma após a outra depois do assassinato de uma legisladora de Minnesota e seu marido, e a tentativa de assassinato de outro legislador e sua esposa, em junho deste ano. “Notícias horríveis”, disse o deputado Steve Scalise, que foi baleado em um jogo de beisebol em 2017. “Paul e eu estamos com o coração partido”, disse a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi, cujo marido foi espancado com um martelo em 2022. “Minha família e eu conhecemos muito bem o horror de um tiroteio direcionado”, disse a ex-deputada Gabby Giffords, que foi baleada na cabeça em 2011.
Ainda mais vieram do governador Josh Shapiro, da Pensilvânia (incêndio criminoso, 2025), da governadora Gretchen Whitmer de Michigan (plano de sequestro, 2020) e do próprio presidente Donald Trump (duas tentativas de assassinato, 2024). “Uma violência tão horrível não será tolerada nos Estados Unidos da América”, escreveu o presidente.
E, no entanto, o crescente clube de sobreviventes da violência política parecia ser uma prova do contrário.
Somente no segundo trimestre de 2025, um homem ateou fogo à residência do governador da Pensilvânia enquanto Shapiro e sua família dormiam lá dentro; outro homem atirou em dois funcionários da Embaixada de Israel do lado de fora de um evento em Washington; manifestantes que pediam a libertação de reféns israelenses em Boulder, Colorado, foram incendiados; e a sede do Partido Republicano no Novo México e uma concessionária da Tesla perto de Albuquerque foram atacadas com bombas incendiárias. E esses foram apenas os incidentes que resultaram em morte ou destruição.
Nesse contexto, pode ter sido chocante, mas não tão surpreendente, quando na manhã de um sábado, em junho, uma representante estadual democrata em Minnesota, Melissa Hortman, e seu marido, Mark, foram assassinados em sua casa, e um senador estadual democrata, John A. Hoffman, e sua esposa, Yvette, foram baleados e feridos.
Lentamente, mas com segurança, a violência política deixou de ser marginal e se tornou uma realidade inescapável. Ameaças violentas e até assassinatos, tentados ou bem-sucedidos, tornaram-se parte do cenário político — uma constante corrente oculta na vida americana.
Há meses, o deputado Greg Landsman, democrata de Ohio, tem sido assombrado pela ideia de que pode ser baleado e morto. Toda vez que faz campanha em um evento lotado, ele conta que se imagina sangrando no chão.
— Ainda está na minha cabeça. Acho que não vai passar — disse ele sobre a visão de pesadelo. — Sou só eu no chão.

Influenciador ligado à invasão do Capitólio é baleado durante palestra
A imagem ressalta a dualidade da violência política nos Estados Unidos hoje. Assim como tiroteios em escolas, ela é repugnante e se torna quase rotineira, outro fato de viver em um país ansioso e perigosamente polarizado.
O próprio presidente foi vítima não de uma, mas de duas tentativas de assassinato durante sua campanha no ano passado: durante um discurso em Butler, na Pensilvânia, quando uma bala atingiu sua orelha de raspão, e duas semanas depois, na Flórida, quando um homem o perseguiu com um rifle semiautomático do lado de fora de seu campo de golfe.
Ameaças violentas contra legisladores atingiram um recorde histórico no ano passado, pelo segundo ano consecutivo. Desde as eleições de 2020, autoridades eleitorais estaduais e locais tornaram-se alvos de ameaças violentas e assédio, assim como juízes federais, promotores e outros funcionários judiciais. Até abril deste ano, houve mais de 170 incidentes de ameaças e assédio contra autoridades locais em quase 40 estados, de acordo com dados coletados para a Iniciativa Bridging Divides, da Universidade de Princeton.
Mesmo nos períodos entre atos de violência real, o ar ficou carregado de retórica política violenta e ameaçadora.
Em apenas cinco dias no início de junho, um senador foi imobilizado no chão e algemado por tentar fazer uma pergunta a um secretário de gabinete durante uma coletiva de imprensa, um governador foi ameaçado de prisão pelo presidente e de ser “pichado e empalhado” pelo presidente da Câmara. E enquanto tanques se preparavam para descer a Constitution Avenue, em Washington, numa demonstração política de poderio militar, o presidente alertou que quaisquer manifestantes ali seriam enfrentados com “força pesada”.
— Um dos objetivos da violência política é silenciar a oposição — destacou Lilliana Mason, cientista política da Universidade Johns Hopkins que estuda violência e partidarismo político. — Não se trata apenas de um ato contra algumas pessoas ou vítimas. A ideia é silenciar mais pessoas do que ferir fisicamente.
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A resposta aos tiroteios em Minnesota seguiu um padrão conhecido. Líderes de ambos os partidos emitiram declarações condenando o mais recente incidente e oferecendo orações às vítimas. Em seguida, vieram os pedidos por mais segurança.
O senador Chuck Schumer, líder da minoria, alertou contra o simples ato de denunciar os ataques e seguir em frente.
— Condenar a violência enquanto se ignora o que a alimenta não é suficiente — disse ele. —Precisamos fazer mais para proteger uns aos outros, nossa democracia e os valores que nos unem como americanos.
Na época, Schumer solicitou segurança adicional para as senadoras Amy Klobuchar e Tina Smith, democratas de Minnesota, assim como havia feito no início da mesma semana para o senador Alex Padilla, democrata da Califórnia, após Padilla ter sido agredido e brevemente algemado ao tentar fazer uma pergunta à Secretária de Segurança Interna, Kristi Noem. Schumer também solicitou ao sargento de armas do Senado e ao líder da maioria no Senado, John Thune, que convocassem um briefing completo sobre a segurança dos membros do Senado.
Klobuchar atribuiu a culpa pela violência ao crescente partidarismo e à desinformação online. Amiga próxima de Hortman, a ex-presidente da Câmara de Minnesota assassinada, ela instou os políticos a reavaliarem sua própria retórica.
— As pessoas ficaram cada vez mais irritadas e começaram a agir de acordo com o que leem online — afirmou Klobuchar. — Em algum momento, você precisa se olhar no espelho, quando olha para o que está acontecendo aqui, todo político eleito se olha.
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A violência política faz parte da História americana desde a fundação do país, frequentemente irrompendo em períodos de grandes mudanças. Quatro presidentes foram mortos em exercício e outro foi baleado e gravemente ferido. Membros do Congresso se envolveram em dezenas de brigas, duelos e outros incidentes violentos ao longo dos séculos.
Hoje, embora a maioria dos americanos não apoie a violência política, uma parcela crescente deles disse em pesquisas que vê os partidários rivais como uma ameaça ao país ou até mesmo como desumanos.
Trump teve um papel nisso. Desde sua candidatura em 2016, ele tem sinalizado, pelo menos, sua aprovação tácita à violência contra seus oponentes políticos. Ele encorajou os participantes de seus comícios a “dar uma surra” nos manifestantes, elogiou um parlamentar que agrediu um repórter com um golpe corporal e defendeu os manifestantes em 6 de janeiro de 2021, que clamavam para “enforcar Mike Pence”. Um de seus primeiros atos em seu segundo mandato como presidente foi perdoar esses manifestantes.
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Num dia em que os protestos “No Kings” contra o governo Trump ocorriam em todo o país, o impacto do tiroteio já se estendia à esfera política de forma prática. Em Minnesota, onde uma caçada ao atirador estava em andamento, as autoridades policiais pediram à população que evitasse os protestos “por excesso de cautela”.
E em Austin, Texas, a polícia estadual fechou o Capitólio Estadual e os arredores após receber uma ameaça crível contra legisladores que planejavam comparecer aos protestos no sábado à noite.