A chamada “gratificação por bravura” foi instituída em 8 de novembro de 1995 pelo então secretário de Segurança Nilton Cerqueira, que tinha o delegado Hélio Luz na chefia da Polícia, quando os atos de bravura — a maior parte fruto da avaliação subjetiva que levava em conta apenas o relato dos futuros beneficiados — começaram a valer dinheiro. Também conhecidos como “prêmio faroeste”, ajudou a encobrir muitas execuções, inclusive de inocentes.
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Nos cerca de três anos em que vigorou, o número de mortes resultantes dos “autos de resistência” dobrou: a média de 16 pessoas mortas por mês passou para 35. O resultado prático vinha da orientação; “Nossa recomendação é para o policial atirar primeiro. O primeiro tiro tem que ser dado pela polícia, não pelo bandido”, disse Cerqueira, no dia da posse.
No domingo 11 de julho de 1999, o EXTRA deu início à publicação de uma série de reportagens intitulada “A cova dos Josés”, mostrando que dos 452 nomes levantados, 259 vítimas não tinham qualquer tipo de antecedentes criminais. Em 74% dos casos não houve perícia no local. Em 83% dos “confrontos” não havia sequer testemunhas. Os cadáveres com tiros à “queima-roupa”, extremo da inclemência, chegavam a 40.
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Uma dessas vítimas era Márcio Murilo da Silva, que viveu seus 21 anos como homem de bem, mas morreu como bandido. Seu crime foi avançar um sinal em Realengo, numa moto que havia comprado com seu próprio dinheiro. No auto de resistência apresentado pela polícia constava, porém, que ele assaltara uma pessoa que, no entanto, nunca apareceu para se queixar. O jovem morreu com 12 tiros, sendo sete disparos pelas costas.
Segundo uma testemunha que saiu em busca de socorro, o rapaz foi atingido inicialmente na perna. Porém, seus pais já o encontrou no necrotério com 12 tiros. A morte do jovem chocou o ex-governador Anthony Garotinho que, na ocasião da publicação da série — finalista do prêmio Esso — considerou que o caso do jovem se tratava de um assassinato. “É um escândalo que pessoas inocentes, como ele, tenham os nomes difamados depois de morrer”, disse o ex-governador que na época mandou reabrir os casos.
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A chamada “gratificação faroeste”, que incluía promoção por bravura e prêmios em dinheiro, foi instituída em 1995, no governo Marcello Alencar. Com ela, os agentes de segurança recebiam aumentos salariais de 10% a 120%. Durante sua vigência, o benefício foi pago a 4.423 policiais civis e militares. O fim do benefício ocorreu de fato somente em 2000, quando deixou de ser pago aos policiais que já a recebiam antes da Lei 2.323, de agosto de 1998, que a extinguiu.