Fechado desde 2018, quando um incêndio destruiu o imóvel e 85% do seu acervo, o Museu Nacional já tem data para voltar a receber público. No dia 5 de junho, às vésperas dos 207 anos da instituição, o paço histórico da Quinta da Boa Vista, na Zona Norte, reabre as portas, por enquanto parcialmente, dando acesso a uma área restrita no bloco 1. Ao entrar, o visitante vai se deparar com uma peça que se tornou símbolo da resistência às chamas: o meteorito Bendegó, bloco de mais de cinco toneladas encontrado em 1784 no sertão da Bahia, cartão de visitas da instituição.
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O anúncio da reabertura foi feito na manhã de ontem, em cerimônia no próprio prédio histórico que firmou a doação de mais R$ 50 milhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a reconstrução do museu, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
— A ideia é que todo o bloco 1 volte a ter uma cara histórica, com intervenções sutis de contemporaneidade. Vamos trazer de volta o que era o Museu Nacional, com toda a decoração, todos os forros, todas as pinturas decorativas que estamos conseguindo resgatar — adiantou o arquiteto Wallace Caldas, responsável pelo gerenciamento do projeto de restauração.
Uma das intervenções mais desafiadoras foi a instalação de uma claraboia, com peso estimado de 30 toneladas, numa área antes sem cobertura. Os vidros foram preparados para permitir a passagem de luz natural, que dará destaque ao esqueleto da baleia-cachalote medindo 15,7 metros, doado ao museu depois da tragédia, que será pendurado a dez metros de altura.
Na solenidade de ontem, foi divulgado um cronograma com as etapas de reabertura do museu (veja quadro), que será gradual, até 2028. Neste período, o trabalho de restauração do acervo vai prosseguir. Cerca de 400 pessoas trabalham atualmente no local.
Uma das principais atrações daquele espaço também receberá tratamento especial: Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado na América do Sul.
— Será um trabalho complexo de restauração da nossa grande guerreira. Agora, com esses recursos, podemos pensar nisso — exaltou o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner.
Está ativa uma campanha de recomposição do acervo por meio de doações de instituições estrangeiras e nacionais. A expectativa é pela chegada de 1,1 mil fósseis, com destaque para dois dinossauros.
As chamas revelaram tesouros escondidos, alguns sob camadas de tintas. Durante as obras, foram encontradas pinturas decorativas imitando pedra e de estilo marajoara. Também foram feitas descobertas arqueológicas em diferentes pontos do solo na parte interna do palácio, o que deflagrou escavações e estudos.
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Um balanço da reconstrução foi apresentado pelo Projeto Museu Nacional Vive — cooperação técnica entre UFRJ, Unesco e Instituto Cultural Vale. As obras tiveram início em 2021 e, até agora, 80% do telhado foram refeitos, e 75% das fachadas de todo o palácio, restauradas.
— Este projeto talvez seja o mais complexo que o Brasil já enfrentou, pelas características da edificação, pela perda trágica do seu acervo e pela desconfiguração do próprio equipamento — destacou o diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto, representando o Comitê Executivo do Projeto Museu Nacional Vive.
A recuperação de prédio e acervo está orçada em R$ 516,8 milhões. Deste total, já foram captados R$ 346,8 milhões, 67% do necessário. O BNDES é o maior doador, com R$ 100 milhões, somando repasses anteriores ao de ontem. Segundo o presidente do banco, Aloizio Mercadante, do montante que falta ser levantado, cerca de R$ 100 milhões já está em fase final de negociação, e R$ 70 milhões em conversas avançadas, sem dar mais detalhes.
Os recursos foram captados em algumas frentes. Além do governo federal, o projeto de reconstrução recebeu R$ 56,4 milhões de emendas parlamentares. Do setor privado vieram R$ 50,5 milhões, da Vale, e R$ 50 milhões, do Bradesco, responsáveis pelos maiores aportes. Houve também doações de pessoas físicas, que não passaram de R$ 68 mil.
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Em agosto de 2020, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) oficializou a doação de R$ 20 milhões para as obras. De acordo com a Casa, o repasse ainda não foi concluído devido a um revés burocrático: legalmente, o aporte deveria ser feito ao órgão público responsável pelo prédio histórico, no caso, a UFRJ, e não à Associação dos Amigos do Museu Nacional.
— Estamos em tratativa com a Alerj, em conversa com o presidente Rodrigo Bacellar, para retirarmos esse entrave — afirmou o reitor da UFRJ, Roberto Medronho.
A ideia é viabilizar economicamente o funcionamento do museu depois que reabrir plenamente
— Também vamos trabalhar para criar um fundo de sustentação financeira do Museu Nacional. Não podemos encerrar este capítulo e depois não ter recursos para manter as atividades deste patrimônio cultural que o Rio de Janeiro tem. Vamos buscar captar recursos, é para isso que estamos trabalhando, para concluir a obra e iniciar o processo de visitação, com fundo de sustentação financeira de longo prazo — disse Mercadante.