Em seu discurso na Assembleia da ONU, em Nova York, nesta terça-feira, Donald Trump afirmou já ter acabado com sete guerras desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos. E defendeu que seu governo “já passou da hora” de o “pacificador-chefe” receber o Prêmio Nobel da Paz. Para sustentar essa tese, Trump passou a listar, então, as guerras que teriam sido encerradas por ele. Ao olhar para cada uma deles, há conflitos que duraram dias e não há certeza de que acordos de paz citados pelo presidente americano tenham garantia de serem duradouros.
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Confira o que ocorreu em cada um dos conflitos citados como as “sete guerras” por Trump.
Trata-se de um conflito que se estendeu por apenas 12 dias, iniciado em 13 de junho passado, após Israel ter atacado alvos no Irã.
Na sequência, os EUA fizeram ataques a instalações nucleares no país, movimento que foi interpretado como estratégia para por fim ao conflito.
Dez dias após o ataque feito por Israel, Trump postou em sua rede social Truth Social que o Irá iria iniciar o cessar-fogo e, 12 horas depois, Israel faria o mesmo. Assim, em 24 horas, “o FIM OFICIAL DA GUERRA DE 12 DIAS vai ser saudado pelo mundo”.
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Não foi bem o que ocorreu na prática. O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo iraniano, afirmou que o país havia saído vitorioso, sem citar cessar-fogo. Em paralelo, Israel acenou com a possibilidade de voltar a atacar o Irã como forma de conter ameaças.
Pesquisador do think tank Brookings Institution, Michael O’Hanlon declarou à BBC que, no conflito entre Irã e Israel não há acordo sobre paz permanente tampouco sobre como monitorar o programa do nuclear do Irã. Portanto, seria mais um cessar-fogo, embora reconheça que a atuação de Israel enfraquecendo o Irã com a ajuda dos EUA foi significativo do ponto de vista estratégico.
Em maio, a Índia fez um ataque na Caxemira, pondo fogo nas tensões entre os dois países. Em quatro dias, Trump anunciou que essas duas potências nucleares tinham concordado em fazer um cessar-fogo imediato, como resultado de uma noite de negociações mediadas pelos EUA.
Mas a atuação americana é vista de forma controversa pelos dois lados. Enquanto o Paquistão agradeceu e defendeu, inclusive, que Trump fosse agraciado com o Nobel da Paz, a Índia não deu destaque a atuação dos EUA no conflito. O secretário de Relações Exteriores indiano, Vikram Misri, afirmou que as negociações foram feitas diretamente entre a Índia e o Paquistão.
Isso vem desgastando a relação entre Whashington e Nova Dehli.
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No início deste ano, o grupo rebelde M23 passou a dominar um território repleto de minerais no leste da República Democrática do Congo, esquentando o conflito de décadas entre as duas nações, embora os dois países tivessem feito um acordo de cessar-fogo em agosto de 2024.
Em junho último, os dois países assinaram um acordo de paz nos EUA, sob a justificativa de Trump de que esse movimento impulsionaria o comércio entre os dois países e os Estados Unidos.
De lá para cá, sucessivas acusações de violação do acordo são levantadas pelos dois lados e conflitos que resultam em mortes seguem ocorrendo, demonstrando que o cessar-fogo nunca foi mantido.
Outro conflito que se estendeu por dias. Trump anunciou, em 26 de julho, que faria um telefonema para o primeiro-ministro da Tailândia pedindo um cessar-fogo e o fim da guerra. Os dois países acordaram a suspensão do conflito dias depois, menos de uma semana depois do início do problema na fronteira.
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A Malásia chegou a atuar nas negociações, mas acabou freada pela ameaça de Trump de suspender negociações bilaterais para reduzir tarifas sobre importação dos EUA impostas a Camboja e Tailândia. O presidente americano disse que as tratativas comerciais somente avançariam sob condição de que o conflito terminasse.
O acordo entre Tailândia e Camboja saiu em 7 de agosto.
Trump reuniu os líderes dos dois países na Casa Branca, querendo pôr fim ao conflito entre os dois países. Eles assinaram uma declaração conjunta em 8 de agosto, vista como o primeiro passo em direção a um cessar-fogo. Não foi, contudo, um acordo de paz,
Embora os dois países tenham enaltecido o movimento de Trump, o Azerbaijão exigindo que a Armânia altere sua Constituição e retire as menções sobre a região Nagorno-Karabach, alvo da disputa. Não se chegou a um acordo sobre a fronteira compartilhada pelos dois lados, e há área romenas ainda ocupadas pelo Azerbaijão.
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Esses países não estão em guerra. Há temores, no entando, de que uma disputa diplomática entre os dois em torno da maior hidroelétrica africana possa ser o estopim de um conflito.
A diplomacia americana pouco se mexeu para resolver essa disputa. A represa foi construída pela Etiópia e inaugrada neste mês, enquanto Egito e Sudão se opunham ao projeto, temendo problemas na água que recebem do Nilo.
O conflito entre esses países se arrasta desde as guerras dos Balcãs, nos anos 1990, mas com tensões escalando nos últimos anos.
Sérvia e Kosovo assinaram um acordo, na Casa Branca, para buscar compromisso enconômico em 2020, no primeiro governo de Trump, não havia, porém uma guerra em curso entre os dois.
Em 27 de junho deste ano, Trump disse que as tensões entre essas duas nações estariam perto de escalar para um conflito. E que, caso isso ocorresse, o comércio com os EUA seria suspenso.