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‘Não lembro exatamente quando recebi o diagnóstico de Alzheimer, mas a vida passou a ser diferente’

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setembro 22, 2025
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Lidia Akemi Abe, de 75 anos, foi diagnosticada com Alzheimer em maio de 2021. — Foto: Arquivo pessoal

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva e a causa mais comum de demência, afetando 1,2 milhão de brasileiros, com 100 mil novos pacientes diagnosticados por ano. Enquanto a população envelhece e os casos aumentam, a ciência corre em busca de respostas e tratamentos. Para abordar esse assunto tão importante, O GLOBO traz essa semana o especial Por Dentro da Mente, com cinco reportagens até quinta-feira.

Neste domingo abordamos os tratamentos. Nesta segunda-feira, trazemos o depoimento em primeira pessoa de uma paciente. Leia a seguir:

“Meu nome é Lidia Akemi Abe, tenho 75 anos e sou descendente de japoneses. Não lembro exatamente quando foi que recebi o diagnóstico do Alzheimer, mas a vida passou a ser diferente, com muito esquecimento. (Lidia foi diagnosticada em maio de 2021). Mas não fiquei aborrecida porque estava sendo muito bem cuidada. Vou relatar um pouco da minha vida para vocês.

Lidia Akemi Abe, de 75 anos, foi diagnosticada com Alzheimer em maio de 2021. — Foto: Arquivo pessoal

Nasci em Junqueirópolis, interior de São Paulo. Tive pais maravilhosos e uma irmã caçula, Meire, que hoje cuida de mim. Ainda me lembro bem da minha infância, quando tinha por volta de uns 10 anos. Na época, morava no interior de São Paulo e levava a minha irmã para a casa de um amigo dela para brincarem. Nos finais de semana, eu e meus pais íamos para a casa de um tio para assistir televisão.

Depois de muitos anos mudamos para a capital de São Paulo, para um lugar chamado Vila Sônia. Na casa onde morávamos, minha mãe mantinha uma pensão para os empregados de uma família amiga da gente que tinha uma loja de fotografias. Eu estudava em uma escola estadual, onde fiquei até o ginásio. Fui para outra escola fazer o curso de normal (de formação de educadores), pois pretendia ser professora.

Depois, entrei para a faculdade na Universidade de São Paulo (USP), onde cursei pedagogia para poder dar aulas. Mas, quando terminei a graduação, fui trabalhar em um banco. Saí de lá pouco depois, pois não era o que eu queria. Com a ajuda de Deus, consegui um emprego no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), onde trabalhei até me aposentar.

Lidia Akemi Abe, de 75 anos, foi diagnosticada com Alzheimer em maio de 2021. — Foto: Arquivo pessoal
Lidia Akemi Abe, de 75 anos, foi diagnosticada com Alzheimer em maio de 2021. — Foto: Arquivo pessoal

Depois de aposentada, casei-me com um amigo que foi meu marido até Deus chamar por ele. Mas foi uma vida maravilhosa, a nossa união. Ambos aposentados, compramos um sítio em Ribeirão Preto onde tínhamos uma plantação de tomates que vendíamos para o Ceasa. Tínhamos vacas, que nos forneciam leite, uma horta, árvores frutíferas, um rio e uma vida maravilhosa. Até Deus chamar por ele.

Quando ele morreu, saí do sítio e vim parar em Londrina. Fiz uma casa em um condomínio. O terreno era muito grande e foi uma época feliz. Em seguida, casei-me outra vez com o irmão do meu falecido marido. Mas, como eu tratava muito bem os porteiros, levando a eles doces e salgados, meu esposo achava que eu estava traindo ele com um deles. Fiquei muito magoada e então resolvi fazer as malas e ir morar perto da família da minha irmã. Um dia eles me chamaram para morar com eles.

Hoje, eu moro com a família da minha irmã, a minha sobrinha Camila e o marido dela, Hugo. Vivemos em uma casa muito boa, onde temos um cachorro, um jardinzinho de plantinhas ornamentais e também um jardinzinho de plantinhas pequenininhas.

Faço academia duas vezes por semana e às quartas-feiras vou ao projeto dos idosos. A minha vida, graças a Deus, apesar do Alzheimer, é gratificante. Sou muito bem cuidada, tenho uma alimentação saudável, me exercito, faço atividades, frequento o instituto Não Me Esqueças, que é um lugar maravilhoso, e vou levando a vida até onde Deus permitir. Fazia aulas de japonês, mas hoje não faço mais.

Neste mês, teremos uma reunião maravilhosa de toda a família do meu pai em São Paulo, que tem uma quantidade imensa de primos, sobrinhos, é muita gente. É formidável, não vejo a hora de chegar o dia. Se eu pudesse, convidava vocês. Como moramos longe deles, não nos vemos frequentemente e nem nos falamos por telefone.

Amo minha família. Enquanto a gente conseguir lembrar o rosto deles, temos que ir, porque daqui a pouquinho o Alzheimer vai avançar, eu vou olhar pra eles e falar “quem é você”. Fico muito feliz de poder compartilhar mais sobre a minha vida. Faz eu me lembrar de coisas antigas, do que vivi com meus pais, e minha vida foi algo maravilhoso.

Agradeço aos meus sobrinhos Camila e Hugo e à minha irmã Meire pela forma como eles cuidam de mim, com amor e carinho. Agradeço a Deus pela oportunidade de ter viajado para a Europa e por muitos estados do Brasil, do Norte ao Sul. Espero ainda poder realizar o meu sonho, de conhecer a terra natal dos meus pais, o Japão. Quem sabe um dia Deus me proporcione essa chance.

* Em depoimento ao repórter Bernardo Yoneshigue

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